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Março 21, 2010

DDD (Dica Do DAR) – desentorpecendo o debate sobre Ayahuasca

Com a morte de Glauco e Raoni, a razão entorpecida aflora através de sua principal divulgadora: a grande mídia. Comprando sem discussão a versão da defesa de Carlos Eduardo, que optou por culpar o daime pelo crime (ignorando convenientemente os graves problemas mentais que este sofria), levanta-se no momento um debate que inclusive questiona a recente regulamentação da ayahuasca para fins religiosos (vide capa da Veja deste fim de semana).

Por conta deste clima, o DDD desta semana tenta trazer elementos mais qualificados para o debate, através da indicação de dois textos disponíveis no site do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (NEIP). O primeiro é A construção de fronteiras religiosas através do consumo de um psicoativo: as religiões da ayahuasca e o tema das drogas , de Sandra Goulart, no qual a autora aponta as origens da utilização da ayahuasca e traça uma diferenciação entre os principais grupos que a utilizam de maneira ritualística no Brasil hoje. Uma reflexão duplamente importante, tanto para entendermos as raízes deste uso quanto para não cairmos no discurso preconceito e generalizante, como se “o daime” ou a ayahuasca fossem um fenômeno homogêneo, algo parecido com o que se faz com a utilização do termo “drogas”, como se heroína, cocaína e café pudessem ter o mesmo tratamento conceitual.

A segunda indicação é Considerações sobre o tratamento da dependência por meio da ayahuasca , escrito por  Beatriz Labate em conjunto com Rafael Guimarães dos Santos, Brian Anderson, Marcelo Mercante e Paulo César Ribeiro Barbosa. Uma interessante contribuição apontando uma potencialidade pouco conhecida e explorada da ayahuasca, a sua possível utilização para o tratamento da dependência de substâncias psicoativas, ou seja, suas propriedades terapêuticas, para além das religiosas. 

Sandra Goulart explica que “Ayahuasca é um nome quíchua cuja tradução implica em vários significados de uma bebida preparada a partir de um cipó, que é o Banisteriposis caapi, e das folhas de outra espécie vegetal, a qual
contém o principio ativo DMT (N-Dimetiltriptamina), responsável pelo conteúdo propriamente alucinógeno dos efeitos da bebida. Destas últimas, as mais freqüentemente utilizadas são a Psichotria viridis e a Diploterys cabrerana.Trata-se de um dos psicoativos conhecidos mais potentes no que se refere à capacidade de altera a consciência e a percepção humanas, consumido por várias populações do leste dos Andes e da Amazônia Ocidental. Embora a utilização da ayahuasca conte uma longa tradição indígena no Brasil e em outros países da América do Sul, é somente aqui que irão surgir religiões não indígenas e urbanas que fazem uso desta substância. Estas religiões surgem na periferia de cidades da região Amazônica, como Rio Branco, no Acre, e Porto Velho, em Rondônia”.

“A partir dos final dos anos setenta estes grupos religiosos começam a sofrer um processo de expansão” prossegue Goulart, “passando a contar com centros e igrejas em grandes metrópoles, como São Paulo, Rio de Janeiro etc.No momento em que a ayahuasca deixa de ser uma bebida exótica consumida apenas na “distante” e também “exótica” Amazônia, sua utilização se insere, cada vez mais, numa discussão sobre o tema das “drogas” em nossa sociedade. Um primeiro aspecto que se evidencia, é que o aparecimento de religiões que fazem do uso de uma substância psicoativa o ponto central de seus conjuntos rituais traz à tona novos modos de pensar e de tratar a questão do consumo de substâncias alteradoras da percepção no mundo moderno, e sobretudo daquelas classificadas como drogas ilícitas”.

Bia Labate e seus parceiros apontam que seu texto “apresenta uma reflexão sobre o potencial terapêutico do uso ritual da ayahuasca no tratamento ao abuso de substâncias psicoativas em centros terapêuticos que combinam elementos da medicina e da psicologia ao uso da ayahuasca (no Brasil e no Peru), e nas religiões ayahuasqueiras e grupos neo-ayahuasqueiros no Brasil”. São também discutidas perspectivas para uma futura agenda de pesquisas científicas interdisciplinares sobre este tema, refletindo sobre as possibilidades de diálogo entre biomedicina, antropologia e psicologia, além dos dilemas éticos e metodológicos envolvidos neste tipo de investigação, define o resumo do trabalho.

Destacamos também a seguinte passagem:

“Analisamos os desafios de uma agenda de pesquisas sobre os potenciais terapêuticos da ayahuasca. Se é importante estimular o desenvolvimento de pesquisas científicas nesta direção, estas não devem ser, contudo, o único meio de abordar o fenômeno, e nem tampouco monopolizar a “comprovação” acerca da “eficácia” destes rituais xamânicos, terapêuticos ou religiosos. Vale lembrar que a maioria das práticas diárias da biomedicina contemporânea não é validada pelos critérios mais estritos da ciência médica, isto é, aplicamos etnocentricamente determinadas exigências à “medicina dos outros”, mas não à nossa própria (Winkelman & Roberts, 2007b). Obter uma chancela científica que deixaria de classificar o uso terapêutico de psicodélicos como eventual “curandeirismo” ou “charlatanismo” e, portanto, impedir a sua perseguição, não exclui o direito destes grupos de terem a sua legitimidade reconhecida a partir de seus próprios termos.É preciso promover um diálogo com os saberes nativos, e expandir as possibilidades do conhecimento científico sobre sistemas terapêuticos de orientações metafísicas diferentes das nossas”.

Boa leitura para todos, sigamos na disputa dentro de mais uma trincheira aberta contra a razão entorpecida.

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