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Setembro 28, 2011

Discodélicos #2 – Rolling Stones, Exile on Main Street

“Ao toque adormecido da morfina
Perco-me em transparências latejantes
E numa noite cheia de brilhantes,
Ergue-se a lua como a minha Sina…

… Por isso eu tomo ópio. É um remédio
Sou um convalescente do Momento.
Moro no rés-do-chão do pensamento
E ver passar a Vida faz-me tédio…

… Ora! Eu cansava-me o mesmo modo.
Qu’ria outro ópio mais forte pra ir de ali
Para sonhos que dessem cabo de mim
E pregassem comigo nalgum lodo”.

(Álvaro de Campos – “Opiário”)

Façamos um exercício de imaginação. Imagine-se no vigor de seus 29, 30 anos. E que nos últimos dez anos de sua vida você passou de um jovem sonhador a maior referência possível naquilo que faz. Pense que você é amado e odiado pelo mundo nas mesmas proporções exageradas. Que tudo o que você faz ou fala vira moda, capa de revista e faz os pais apertarem o cerco da moçada que tenta te seguir – gerando o efeito oposto.

No meio de tudo isso, você toma todas as drogas possíveis.

Nesse mundo fantástico, você já tem mais dinheiro do que seria capaz de contar durante toda sua vida. É paparicado, mimado, não precisa nem mesmo estalar os dedos para conseguir o que deseja. Não há portas fechadas para você. Na verdade, você escolhe onde colocar todas as portas.

No meio de todas as drogas possíveis, você ainda usa mais um pouco de drogas.

Pense em festas que nunca terminam, no esbanjamento desmedido, no exagero completo, no desperdício, na sensação de gratificação instantânea que essa esbórnia toda traz. Evidente que em seu caminho não há apenas flores. Isso tudo te traz bastante tédio também, que você combateria levando ao extremo seu estilo de vida.

E, enquanto usa um pouco mais de drogas, descansa um pouco fumando um baseado.

Por descuidos naturais, dada sua vida fora da realidade, você tem problemas de dívidas com a receita federal de seu país, que cobra alguns dos impostos mais caros dentre todos os países do mundo. Como solução, você se muda para o sul da França, num vilarejo paradisíaco, para onde também vão seus melhores amigos, todos envolvidos nos mesmos problemas.

Lá chegando, se instala numa mansão, e nesse microcosmo continua fazendo tudo que sempre fez. A diferença é que você está num país estranho, sem muitas opções para sair, então passa a ser mais e mais sugado para dentro daquele redemoinho de insanidade. Por sua casa passam artistas, poetas, lindas mulheres, completos desconhecidos, traficantes de drogas e de armas, altos executivos, autoridades locais e quem mais por acaso esbarre na porta sempre destrancada.

Conseguiu imaginar tudo isso? Pois bem, o que você faria estando num universo paralelo desses? (Use o tempo desses parêntesis para pensar numa resposta). Além de todas as absurdas possibilidades que lhe vieram à mente, e de muitas outras que você jamais sonharia, foi neste cenário caótico os Rolling Stones fizeram o maior disco de sua cinquentenária história, “Exile on Main St.”.

Feito a base de heroína e uísque, mas sem esquecer-se nem por um segundo das demais substâncias do cardápio, o disco foi recebido com opiniões distintas quando de seu lançamento. Grande a parte disso é pelo fato de que nenhuma das músicas ali é um potencial estouro radiofônico – o que não diminui em nada sua qualidade.

E também porque, assim como sua droga motora, o disco causa uma espécie de ação depressora no seu sistema nervoso, funcionando como um poderoso analgésico, que abranda sua respiração concomitantemente à entrada da agulha dos Stones na sua veia, mas que, em doses elevadas, te causa extrema euforia.

Com Exile, a banda não inventa nada. Não rompe barreiras, não traça novas direções, não nega o passado tentando apontar o futuro, nada disso. Entretanto, executa à perfeição o que um manual sobre como fazer um disco de rock ensinaria, se por acaso existisse. Ainda assim, se em sua superfície não se percebe nenhuma novidade, é em sua substância que o disco surpreende.

Ao levar a desolação de seus discos anteriores literalmente para o exílio caótico que já relatamos, a banda faz um disco cansado – que é diferente de preguiçoso, que fique claro -, com uma sonoridade sombria perfeitamente compreensível quando se descobre que as sessões de gravação iam madrugada adentro num porão com condições de luz e ventilação que seriam condenadas por qualquer organização de direitos humanos.

E no meio disso tudo, eles tomavam todas as drogas possíveis.

O trabalho das guitarras é um caso à parte. Keith Richards e Mick Taylor criaram uma soberba sintonia entre riffs e solos que parecem emergir da escuridão para preencher o vazio das músicas e da voz enterrada, asquerosa, como que cuspindo em nossas caras, que Mick Jagger usa ao longo do disco.

É realmente admirável que a banda tenha conseguido finalizar esse registro e sair de lá quase intacta. A presença das drogas era constante e massiva. Os Stones as usavam em quantidades e qualidades diferentes, o que fazia com que funcionassem também em ritmos diferentes, assimilassem a realidade de maneiras diferentes e planejassem o trabalho partindo de concepções diferentes.

E no meio de tomar todas as drogas possíveis, eles ainda usavam um pouco mais de drogas.

Por conta dessas discrepâncias, era mais do que comum a banda estar incompleta em várias das sessões, com as canções sendo gravadas por quem estivesse mais peto no momento e soubesse minimamente manusear um instrumento. Em outros casos, músicos eram esquecidos numa das salas distantes do porão, sendo encontrados horas mais tarde, com a ajuda dos cabos dos microfones que serviam de guia na escuridão, ainda tocando suas partes nas músicas, já que não haviam recebido a ordem de parar.

Tente você produzir algo significativo cercado por malucos em diferentes estágios de viagens, vômitos, sensações de bem extar, excitação, euforia, prazer, tranquilidade, alívio da dor, ansiedade, sonolência, letargia, incapacidade de concentração ou depressão. Some a isso os egos estratosféricos envolvidos na situação para ter a conta exata da dificuldade envolvida e do surpreendente resultado obtido.

E, enquanto usavam um pouco mais de drogas, eles paravam pra fumar um baseado.

Hit-speedball: All Down The Line

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=p7kinHckVEw&feature=related[/youtube]

Baixe o disco AQUI.

* * *

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