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Dezembro 01, 2011

Discodélicos #3: Ronnie Von

Antes tarde do que ainda mais tarde. Após um hiato inesperado, estamos de volta com nossos queridos discodélicos, a coluna musical preferida de gente como Tommy Chong, Ventania e Luigi Baricelli. Nesta edição, atenderemos a um pedido especial. Na verdade, foram 237.924 pedidos especiais, de leitores como você que escreveram cartas para a sede do DAR solicitando que escrevêssemos sobre algum disco nacional.

Buscando nos redimir pela demora e fazer o que nos foi pedido com uma cajadada só, trazemos dessa vez três micropontos, três argireias, três cogumelos com leite condensado, os três discos da fase psicodélica de Ronnie Von: o homônimo “Ronnie Von”, “A Misteriosa Luta do Reino de Parasempre Contra o Império de Nuncamais” e “A Máquina Voadora”.

Não, você não leu errado. Estamos mesmo falando de Ronaldo Lindenberg Von Schilgem Cintra Nogueira, aquele senhor almofadinha que apresenta um programa sobre nada e vinhos caros na Gazeta. Esqueça o início de carreira dele, recheado de traduções de sucessos gringos e músiquinhas mamão com açúcar sobre a mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores e o mesmo jardim. Esqueça as tentativas de rivalizar com Roberto Carlos. Esqueça, pois ele também queria esquecer.

A incursão de Ronnie na viagem mágica misteriosa da malucagem foi uma tentativa de se libertar dos esquemas que a gravadora impunha a ele. Ficava para trás todo o embuste vendável do modismo e entrava em cena o experimentalismo, radicalizando para depois destruir. Os executivos que lucravam com sua pinta de galã, é claro, não gostaram de ter um botequim de quinta categoria no meio de suas elegantes butiques e não apoiaram as mudanças. Ronnie tinha de arrancar-se do atoleiro sozinho, puxando para cima os próprios cabelos.

Nessa luta, criou três dos álbuns mais relevantes e obscuros, deliciosos e confusos, com referências à canção dos primeiros tempos do rádio brasileiro, canções de protesto, soul music, barulhos desconexos, profecias, apocalipses, músicas interceptadas por telefonemas, espelhos se partindo, marretadas desferidas diretamente nas cordas de um piano, enfim, uma doidera. Era uma luta consigo mesmo. E ele a perdeu. Mesmo após essa jornada, não foi completamente feliz. Mas tudo bem, a desventura é feita mesmo de paraísos perdidos.

À época ninguém quis ouvir as viagens de Ronnie. Seus discos foram fracassos peremptórios de crítica, público, cama, mesa e banho, mesmo representando um dos mais ousados momentos da indústria fonográfica brasileira. Às vezes o doce bate errado.

Os três discos são como três incursões no mundo do LSD, em momentos, contextos, locais e cercados de pessoas diferentes. Nosso elegante apresentador de TV jura nunca ter provado as dores e as delícias de um ácidozinho sequer. Você pode acreditar nisso, e imaginar que ele conseguiu despertar as mais profundas sinapses munido apenas de boa vontade ou entender que para o lord que ele imagina ser hoje em dia negar o consumo de alucinógenos faz parte do jogo.

 

A orientação experimentalista do cantor aflora no disco de 1968, batizado tão somente de “Ronnie Von”. É nesse ponto da curva que ele perde definitivamente a inocência, desafiando padrões, fórmulas e pré-conceitos. Psicodélico desde a capa, o álbum não deixa dúvidas sobre o seu conteúdo musical. Comandando os arranjos está o maestro Damiano Cozzela, de orientação e formação concretista, da mesma escola do mais badalado Rogério Duprat.

O repertório traz algumas músicas que parecem ter sido feitas no espaço, outras pequenas sinfonias pop e legítimos hinos de rock de garagem que muitas bandas de hoje dariam o dedo mindinho para conseguir compor. Apesar do grito de combate a tudo que tinha feito antes, ainda existe no ar um sentimento parecido ao amor.

Seu disco seguinte, “A Misteriosa Luta do Reino de Parassempre Contra o Império de Nuncamais”, lançado em 1969, também sob a batuta de Cozzela, é menos ousado que seu antecessor, mas a brisa do LSD nunca provado continua inspirando inovações sonoras surpreendentes. Desta vez, Ronnie Von tenta aliar o experimentalismo com pitadas de pop, incluindo entre as faixas do disco o clássico da MPB “Dindi”, de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, e alguns hits gringos como “Atlantis”, do cantor pop-folk Donovan e “I Started A Joke”, dos futuros reis da discoteca Bee Gees.

Tais músicas, formatados pelos criativos arranjos de Cozzela, são uma forma de Ronnie destruir seu passado, para assim se destruir, acabando com qualquer resquício de piedade que sobrasse em relação ao seu passado. É sua voz contra todos, e as vozes de todos contra ele.

Chegamos então a “A Máquina Voadora”, terreno pantanoso e repleto de tigres silenciosos, em que Ronnie explora sonoridades que, de certa forma, anteciparam o rock progressivo nacional. Com a Jovem Guarda esgotada e o tropicalismo sendo banido do país, obras desse tipo só poderiam mesmo chocar-se com o projeto de massificação musical das gravadoras.

Isso significa que ele seria condenado até o fim dos tempos a apresentar um programa de receitas num canal de pouca audiência?

Significa.

Os discos psicodélicos de Ronnie foram solenemente ignorados pelas rádios, empurrando seu autor para um longo ostracismo. Na década de 1970, ele bem que tentou retomar o tempo perdido. Mas já tinha aprendido a dizer não às vontades dos engravatados, o que dificultou seu regresso à engenhosa engrenagem da música nacional. Com suas pequenas pérolas, Ronnie nos mostrou que talvez o céu exista, embora tenha ido ao inferno fazendo isso.

Hits-acredite-se-quiser-esse-é-o-ronnie-von:

Baixe os três discos aqui, aqui e aqui.

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