Quatro rapazes foram detidos na Cidade Universitária da USP (Universidade de São Paulo), zona oeste de São Paulo, e levados para a 14ª DP, em Pinheiros, por posse de drogas, na noite desta terça-feira (28).
Um dos jovens, de 19 anos, foi autuado por portar 0,4 grama de maconha e os outros três, de 18 anos, entraram na ocorrência como testemunhas, segundo o escrivão da unidade, Edson Santana. O fato ocorreu às 22h na Av. Professor Lineu Prestes, nº 49. Ainda segundo o escrivão, todos foram liberados e o autor responderá a processo.
De acordo com Murilo de Souza, que faz geografia na USP e participa do comando de greve, os estudantes levados para a delegacia eram calouros da instituição, dois de ciências sociais, um de arquitetura e um de fÃsica. “A situação [na USP] está cada vez pior, violenta e bizarra”, diz Murilo sobre o fato ter acontecido já na primeira semana de aula e, segundo ele, os jovens terem sido abordados por duas viaturas da PM e três motos da  Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas). “Fica bem claro o porquê do convênio assinado com a PolÃcia Militar. O objetivo é a restrição de qualquer liberdade mÃnima. E que não é garantido a ninguém, nem mesmo aos alunos que estavam há dois dias na universidade. No segundo dia que ele pisa na Universidade ele é presoâ€, critica.
Em relação à quantidade de droga encontrada, Murilo de Souza diz que “o uso [da força sobre os estudantes] é polÃtico. Eles usam a droga para incriminar, mas na verdade é para interferir politicamente na universidadeâ€.
Menos que um confete
A quantidade de maconha encontrada pelos policiais — 0,4 g — é uma quantidade pequena. Para se ter uma ideia, um docinho do tipo confete ou m&m’s tem 1g. É menos da metade desse peso. “É tipo a sujeira debaixo da unha, exagerando só um pouquinho. Mas uma unha bem compridaâ€, compara Denis Russo Burgierman, jornalista e autor do livro “O Fim da Guerra: A Maconha e a Criação de um Novo Sistema para Lidar com as Drogas”.
O autor explica: “porte de maconha é crime – não punÃvel com prisão, mas é crime, independente da quantidadeâ€. Apesar disso, Burgierman acredita que o fato é “uma demonstração de força, uma resposta ao clima de confronto na USP”. Ele também aponta: “tem aà a questão de se deverÃamos estar usando nossos parcos recursos policiais para prender garotos com as unhas sujas de maconha, sendo que eles vão acabar sendo soltos e isso não servirá a nenhum fim concreto. Mas, sim, eles [a polÃcia] podem fazer isso [autuação] de fatoâ€, conclui.
Manifestação de hoje
A reitoria proibiu a entrada de cerveja no campus e de equipamentos de som para o Show Protesto desta quarta (29), previsto para começar à s 21h. A calourada, festa de recepção dos calouros, está sendo organizada pelo comando de greve dos estudantes. Murilo de Souza ressalta que apesar do clima de insegurança o objetivo dos alunos é fazer uma manifestação pacÃfica e democrática.
“Essas proibições trazem para a gente uma sensação de insegurança. Mas, mesmo assim, vamos realizar sim o show, sem dúvida. A gente só espera que hoje não se repita o que houve no ano passado com o uso da violência, tropa de choqueâ€, afirma.
“Esperamos que isso não ocorra, no entanto é muito provável que hoje tenham muitos policiais à paisana. O correto seriam eles estarem identificados, mas … espero que não haja nenhum provocadorâ€, acrescenta.
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