“Ninguém vai me frear
Ninguém vai me dizer
O que eu devo fazer nessa porraâ€
No último dia 8 de julho completou-se o primeiro mês de “aniversário†da maior Marcha da Maconha já organizada em São Paulo – uma das maiores do Brasil também. Se felizmente a mobilização ficou ofuscada pelos maiores atos de rua das últimas décadas, que começaram às vésperas da Marcha e se consolidaram nos dias seguintes à ela, infelizmente sua repercussão também ficou prejudicada por situações que aniversariaram um mês no dia 11 de julho. Uma delas nos tocou especialmente, a prisão violenta e injustificável, como todas as prisões, de nosso Pedrão.
Passado um mês desses eventos, mais uma vez ficou claro que a estupidez governante não passará – e o melhor é que agora eles sabem muito bem disso, e estão se borrando de medo. Passado também o mais forte da comoção e da indignação, querÃamos deixar registrado, como Coletivo DAR, que não podem passar nem a revolta contra a atuação policial – em todos os âmbitos, seja em manifestações seja no seu ainda mais vil dia a dia – nem uma menção de admiração à coragem e à doçura de nosso companheiro Pedro.
Em nome disso, escalamos nossa poeta de plantão (e plantinhas) para traduzir em versos o que o Coletivo DAR gostaria de dizer a ele. “Ei, moleque/ mantenha-se vivo/ e verá/ que virá/ que virá/ que virá/ que virá…â€
***
não
a liberdade é algo
que não se cerceia
nem se limita
só se conquista
a liberdade é o que carregamos
em todo osso que resiste ao golpe
em nossa carne humana fraca e doce
quando andarilhamos por caminhos
tortos
quando esquecemos a origem da dor
dai pouco importa
que a injustiça seja feita
porque sabemos
a que viemos
por quem estamos
aqui
em terra de coronel
manda mesmo o carcereiro
quem tem olho
fica esperto
ninguém recomendou alterar
a consciência antes
das leis
agora aguenta
a consequência do penso
logo resisto até existir
o novo tempo vai chegar
em breve
e o medo vai bater de frente
até se perder na onda
das partÃculas eletromagnéticas
nesse dia
o sol cederá ao horizonte
todas as cores
e a noite inteira vai tomar a rua
de estrelas meteóros e cometas
num mundo sem catracas
nem fronteiras
nesse universo imenso
sem sintomas que habitamos
sabemos
a liberdade é feita de oceano
vento e lágrimas
ora calmaria ora tempestade
metade fim de tarde metade furacão
pedras somos drãos grãos de areia
nômades e errantes no deserto
da perplexidade