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junho 14, 2017

Algumas orientações para obter maconha medicinal no Brasil – parte dois

por Renato Filev*, do Coletivo DAR.

Na primeira parte do texto, foram apresentadas propriedades medicinais da maconha e os empecilhos que o Estado brasileiro impõe aos tratamentos realizados com cannabis. Nesta segunda parte, serão listadas algumas possibilidades de obtenção de maconha medicinal no Brasil.

Importação via ANVISA

Mediante prescrição médica, o paciente requererá através da plataforma virtual da ANVISA uma autorização especial de importação, e com esta deverá encontrar alguma empresa que tenha autorização semelhante para importar os produtos para o Brasil. Esse processo pode ser demorado. Alguns produtos importados dos EUA são vendidos como suplementos alimentares e não medicamentos. Isto faz com que o controle de qualidade em alguns parâmetros, como ajuste de dose, fiquem prejudicados. Portanto é importante realizar uma busca atenta do produto que se quer obter. Em geral são produtos de boa qualidade, embora bastante custosos. O endereço para realizar o cadastro no site da ANVISA está aqui.

Viajar para os EUA

É uma prática quase tão custosa quanto a primeira; permite acesso ao arsenal terapêutico existente mais amplo da atualidade, no que se diz respeito à maconha medicinal. O acesso é fácil, porém caro; os produtos são de boa qualidade e, como a permanência é curta, existe a possibilidade de enviar alguns produtos por postal. O paciente deve munir prescrições de médicos de ambos os países, além de descrições técnicas do motivo pelo qual o paciente deve portar estes produtos. Estes documentos podem auxiliar o paciente diante de algum eventual questionamento judicial. Atente-se que existe um risco em trazer derivados de maconha dos EUA. Não custa lembrar que a maconha é uma substância considerada proibida por ambos os países a nível federal. O conselho é conversar com um advogado para ele te respaldar quanto aos possíveis riscos e medidas que você pode adotar para se precaver.

Plantar sua maconha

É uma prática com a qual devem ser tomados alguns cuidados, como a discrição e arrumar um local apropriado. O custo, comparado às primeiras opções, é relativamente baixo. É um custo que pode variar, porém quanto maior o conhecimento do cultivador e o seu investimento, seja financeiro ou de tempo dedicado ao cultivo, melhor será a sua produção. Os pacientes, familiares e conviventes correm o risco de serem presos em flagrante como criminosos hediondos, podendo pegar até 15 anos de prisão por tráfico. Esse risco se torna ainda mais latente se o paciente e sua família forem negros, pobres ou moradores de periferias. A qualidade, assim como a produção, varia de acordo com as inúmeras etapas de se cultivar a planta. Com dedicação e experiência é possível se produzir maconha de boa qualidade, conhecendo o produto que está sendo consumido. Mãos na terra já!

Produzir óleo em casa

A produção de extrato de maconha em casa é um método prático e barato, mas assim como o plantio, requer precauções quanto à qualidade do produto, finalidade do uso e técnicas utilizadas para a extração. Existem diversas maneiras de se produzir óleo em casa. Uma das principais diferenças está na maconha utilizada para a produção do óleo. Alguns dos métodos serão aqui apresentados.

*Extração com solventes: Essa técnica envolve risco de explosão e queimaduras. Deve-se escolher um ambiente arejado, de preferência ao ar livre, onde não haja nenhum princípio de chama próximo à extração. Caso a intenção seja utilizar o extrato por via oral, a maconha deve ser desidratada e descarboxilada. Essa etapa pode ser realizada em um forno com controle de temperatura (de preferência elétrico) por cerca de 25-35 minutos, em temperatura entre 105-115 graus Celsius. Isso faz com que os princípios ativos que estão na forma de ácidos se convertam nas moléculas capazes de atuar em nosso organismo de maneira mais eficaz. A extração deve ser feita preferencialmente sem a presença de água, portanto é necessário que sejam solventes puros. Existem diferenças quanto ao tipo de solvente utilizado e os aparatos que facilitam o processo. Caso opte por usar o álcool, deve-se escolher preferencialmente o álcool etílico absoluto, o qual a pureza aproxima-se a 100%. Caso não encontre este produto, deve-se optar pelo uso de álcool de cereais, usado para finalidades alimentícias. A maconha descarboxilada deve ser colocada no solvente e mantida por uma hora. É importante mexer a mistura eventualmente. Depois disso deve-se coar a mistura com um pano de trama fina (até mesmo um coador de café), limpo e de preferência novo. Essa tintura de álcool de maconha esverdeada deve ir para uma panela elétrica ou fogão elétrico, nada que envolva chama e fogo. Esse álcool irá evaporar e o produto restante é o óleo de maconha, contendo os canabinóides prontos para a ingestão oral ou vaporização. Caso opte por utilizar o butano deve-se tomar os mesmos cuidados para evitar incêndio e também adquirir um aparato especial para extração com butano. Este pode ser encontrado na internet e em lojas de produtos canábicos. Devem-se eliminar bem os solventes antes do consumo do produto. Em geral pode utilizar a panela elétrica para acelerar esse processo.

*Extração com gelo e peneiras: Essa técnica é usada com maior eficiência em flores. Não funciona bem para maconha prensada. Existem sacos que podem ser adquiridos pela internet e também em lojas especializadas que contém uma trama muito fina que permite apenas a passagem das glândulas da planta que contém os canabinóides, os chamados tricomas. Essa técnica é conhecida como “Ice-o-lator” e consiste em choque térmico e remoção física dos canabinóides da matéria orgânica através da colocação da planta com água e gelo, ou gelo seco, neste “saco peneira”, realizando sucessivas agitações. Existe uma técnica parecida com uma peneira de trama muito fina (como de nylon de 70 a 40 µm): são colocadas em cima da peneira o gelo seco com as flores em constante agitação; o choque térmico e mecânico faz com que os tricomas sejam peneirados. O produto da peneiração pode ser diluído em óleo e utilizado por via oral. Pode ainda ser diluído em outros solventes, como a glicerina ou propileno glicol, utilizados em vaporizadores. Para tanto se recomenda descarboxilar a amostra. Ainda existe uma técnica bem simples (rosin) que utiliza aquecimento para extrair os tricomas. A técnica consiste em envolver uma flor com papel de adesivo (aquele branco, liso que não gruda em nada) e pressionar com uma chapinha de cabelo.

Em ambos os métodos, existem algumas precauções que devem ser tomadas. Caso a necessidade seja produzir extratos ricos em CBD, deve-se obter uma cepa de maconha que seja conhecida pela alta produção de CBD. São raras as variedades de maconha que têm essa característica, por isso é importante conhecer o produto. Deve-se tomar cuidado com a qualidade da maconha, pois caso contenha fungos estes podem contaminar os extratos. Para saber mais, há um tutorial com passo a passo sobre como fazer óleo de maconha e os vídeos abaixo:

  • Óleo do Rick Simpson (nafta pode ser substituída por etanol absoluto):
  • Ice-o-lator + glicerina:
  • Com butano:
  • Rosin (em inglês)

Associações de uso compassivo

Desde 2014, uma série de associações de pacientes e familiares que necessitam de medicamentos à base de canabinóides buscam obter informações, respaldo legal, prescrições, apoio médico e jurídico e também acesso direto à extratos preparados por uma rede movida pela compaixão. Estimulados pela morosidade da legislação e pelo aumento do conhecimento público sobre os benefícios da planta, grupos de mães, pacientes e cultivadores oferecem acesso à produtos derivados da maconha sem finalidades de lucro. A seguir alguns links dessas associações:

ABRA Cannabis

ABRACE – Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança

AMA+ME – Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicinal

AMEMM – Associação Multidisciplinar de Estudos sobre Maconha Medicinal

Cultive

Para saber mais, mande uma mensagem para o Coletivo Desentorpecendo a Razão ou para o grupo Maconhabrás nos endereços coletivodar@gmail.com e maconhabras@gmail.com

*Renato Filev é neurocientista e pesquisador da UNIFESP.

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