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Outubro 22, 2013

Cartas na mesa – A sálvia e o caminho para o extradimensional

Me contem, me contem aonde eles se escondem?
atrás de leis que não favorecem vocês
então por que não resolvem de uma vez:
ponham as cartas na mesa e discutam essas leis”

Planet Hemp

É com alegria e satisfação que trazemos novo texto da seção Cartas na mesa* enfocando novamente relatos de experiência psicodélica. Desta vez a substância escolhida é a sálvia divinorum, potente estimulante para abertura das portas e janelas da percepção. O texto foi escrito por Mariana e segue abaixo.

A sálvia e o caminho para o extradimensional 

Este texto foi escrito no momento em que acredito ter despertado completamente da viagem. O que posso dizer é que o limite entre o tálido e o real projetado por nós é uma linha muito fina, que pode ser transposta com qualquer empurrão. É possível virar a realidade de cabeça para baixo, deixar de reconhecer-se dentro do que antes conhecia, pois o que existia simplesmente não existe mais. Não há passado ou futuro, não há ambiente nem pessoas, nada. É você e essa realidade em que seu inconsciente te coloca, acredito mesmo que seja uma projeção para outra dimensão, ou para um ponto interdimensional, nem lá nem cá. Você interage, fala, mas dentro dessa outra realidade. Na verdade, eu achava que estava falando, achava que estava interagindo com as formas de dentro do túnel.

 

Após alguns minutos, quando a consciência começou a ser recobrada, me dei conta do quanto a coisa saiu de controle dentro da minha cabeça. Torcer a realidade é algo que acredito que deveríamos ser capazes de fazer sem a necessidade de utilizar nenhuma substância química. Mas a consciência compactada nos impede de explorar os outros 90% do nosso cérebro, e isso com certeza se reflete na mesmice de nossas percepções cotidianas. Acredito que o que a sálvia fez comigo foi desmantelar o véu que me cobre os olhos em estado sóbrio, destruir por alguns minutos a imposta percepção que tenho do tempo e me atirar numa atmosfera desconhecida, em que há também vozes, cores, luzes, formas e sons, porém, percebidos de uma maneira única, como se cada um desses elementos me estivesse realmente atravessando, e todos ao mesmo tempo. E em um instante, eu não percebia ou sentia apenas, eu era vozes, eu era cores, luzes, formas e eu era sons.

 

A coisa toda aconteceu linda! Nos sentamos em roda, éramos seis pessoas, tínhamos um cachimbo e combinamos que fumaríamos um de cada vez, enquanto os outros ficariam “de boa” apenas observando e ajudando, caso necessário.

 

Quando chegou a minha vez, dei um trago no cachimbo, prendi. Dei dois, e nada. Três, e nada. Aí pensei que essa coisa não ia dar em nada, que eu só ia relaxar, igual com maconha. Pisquei ao dar o quarto trago e não abri mais os olhos nessa dimensão, por aproximadamente 5 minutos. Mergulhei numa estrada que mais parecia um túnel. Era acolchoada, confortável, um tubo-túnel-estrada azul, prismático e iluminado com luzes coloridas, mas essencialmente azuis. Havia muitos sons, e uma sensação de estar realmente viajando à velocidade da luz, ultrapassando mundos. Foi muito diferente de qualquer coisa que eu já tivesse experimentado, muito diferente de LSD e de ecstasy. Na verdade, não se pode comparar os efeitos da sálvia, pois o universo para o qual ela te leva não tem precedentes, nem tempo e nem memória. É impossível lembrar de quem você é ou do que pensa. Há apenas a existência – e as cores, as multicoloridas luzes no fundo azul.

 

Não sei precisar tudo o que vi. O tempo não existia, eu não conseguia me lembrar como tinha chegado ali. Parecia-me que o passado e o futuro eram a mesma coisa, aquela sensação de velocidade calma e azul.

 

A consciência de se estar chapado de maconha é diferente, porque você vê as coisas e sabe o que está vendo, sabe que o computador é o computador, sabe que o sofá é o sofá, sabe quem são as pessoas que estão do seu lado. Com a sálvia não, você não tem consciência da sua chapação, a sua viagem acontece na sua realidade. Você dá o último trago, prende, e quando solta, pisca o olho, ao piscar, entra em outra realidade, mas sem consciência.

 

Parece que naquele instante todo o seu passado deixa de existir da maneira que você conhece, ele se torna outro, você se torna outra pessoa, aquela pessoa daquela realidade ali, nada mais. E as coisas, a visão… eu via, mas não enxergava o computador, o sofá ou o fogo… não via nada, não sabia onde estava, ou melhor, sabia, mas não tinha consciência. A consciência física existia, porque eu me senti babando, eu senti escorrendo água pelo meu queixo. E a voz, eu estava gritando, falando, mas as pessoas relataram que só me viram rindo.

 

De repente, quando a visão começou a retornar, enxerguei as pessoas, cada uma em seu lugar (será que isso foi o abrir dos olhos após aquela primeira piscada? Se sim, então a sálvia nos faz esticar o tempo em milhões de vezes), e comecei a tomar consciência da realidade com uma parte do cérebro que não sei dizer qual é, mas me fez saber que estava tendo uma viagem e lembrar da onde estava, e levantar-me e ir em direção à porta, porque a sensação que eu tinha era de ter voltado à realidade, como no processo de retorno da Alice. Primeiro ela saiu do buraco, depois ela acordou. Depois, claro, a consciência despertada pela visão toma todo o corpo e torna-se plena.

Agora, permanecia apenas a sensação de que eu não era real. Por isso senti necessidade de colocar algo na boca, algo com gosto, para sentir-me real.

 

No entanto, se aquela sensação que tive durante a “viagem” é irreal, então é uma imitação muitíssimo perfeita desta realidade, o que pode fazer dessa realidade aqui uma quimera também. Imitação não no sentido de fora pra dentro, não vi o mundo como vejo agora, mas imitação da sensação, da percepção de estar no mundo real. Durante aqueles 5 minutos, o túnel azul era o mundo real, era tudo o que eu conhecia. Agora, me lembra o livro Matéria e Memória, de Henri Bergson, que diz que a nossa percepção da realidade é a projeção de nossa imagem, de dentro para fora. As nossas sensações perfazem a nossa própria imagem e a imagem sobrevive sem nosso corpo, mas nós não vivemos sem a imagem, o que me faz pensar que tudo o que vemos, sentimos e pensamos é nada mais que uma projeção imagética de nossas sensações, nesse caso, o mundo para o qual a sálvia me enviou é tão real quanto este, já que qualquer universo ou realidade nasce, primeiro, na percepção do indivíduo.

 

Então, enquanto eu estava em pé querendo mais, era o momento em que minha visão via a “realidade”, mas meu cérebro achava que era um sonho e que eu tinha que voltar para a realidade-sonho. Eu pedi mais sálvia, eu não queria que parasse porque, na minha mente, pensava que aquele era o mundo real, aquele caleidoscópico túnel azul era o mundo real. E de repente, em alguns minutos, após a consciência plena retornar, comecei a interagir com as outras pessoas como se nada tivesse acontecido, e a relatar a experiência como se estivesse contando um sonho. E ouvi dos presentes que fiquei em torno de 5 minutos sentada, rindo e babando.

 

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