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maio 21, 2013

Cartas na mesa – Cavaletes confinam usuários de crack na Virada: a violência que ninguém comenta

“Me contem, me contem aonde eles se escondem?
atrás de leis que não favorecem vocês
então por que não resolvem de uma vez:
ponham as cartas na mesa e discutam essas leis”

Planet Hemp

A nova edição da seção Cartas na Mesa* de nosso site traz um texto dos jornalistas Gustavo Assano e Pedro Nogueira, membros do Coletivo DAR, refletindo sobre uma forma de violência não comentada durante a Virada Cultural: a sofrida pelos usuários de crack e pessoas em situação de rua do centro de São Paulo.

Cavaletes confinam usuários de crack na Virada: a violência que ninguém comenta

 

Por Gustavo Assano e Pedro Nogueira

Andando pela madrugada da Virada Cultural, na região que ficou conhecida como “cracolândia”, no Bairro da Luz, vi por volta das 3h da manhã um cercamento armado com cavaletes de trânsito na entrada da Rua Gusmões com a Santa Ifigênia. Algo muito parecido estava montado lá no ano passado, quando o espaço havia sido reservado para a “discotecagem nova luz” e um palco destinado a bandas independentes havia sido construído naqueles arredores. Desta vez, nenhuma tenda foi armada nestes quarteirões, talvez por isso tenha sido menos comentado o feito.

 

Independente de qualquer explicação dada para o cercamento, seu efeito saltava aos olhos e só não notava quem não queria: Reforçar o confinamento dos usuários de crack e pessoas em situação de rua que frequentam a “cracolândia” em um espaço delimitado e controlado.

No momento em que percorria o caminho da Sta. Ifigênia até o palco da Julio Prestes, não vi policial ou viatura no trajeto, mas ano passado pude ver o confinamento sendo tutelado pela polícia, que também parava e revistava mendigos que aparentavam estar vendendo mercadorias como camelôs (em 2012 presenciei quatro policiais apreendendo um carrinho de um senhor que mal conseguia reagir diante da pressa dos PMs em levar seus pertences para uma base móvel estacionada ali perto). Acho que não custa lembrar que tudo isso estava acontecendo no Dia Mundial de Luta Antimanicomial, poucas horas depois de ter ocorrido um grande ato lembrando a data.

 

Penso que os arrastões e os assassinatos ocorridos na Virada, não resta dúvida, serão instrumentalizados de forma conservadora para que uma legenda de administração critique outra, mantendo o manchetismo escroto injetor de cortisol e serotonina em classe média aterrorizada como parâmetro único para balizar qualquer discussão sobre o que foi esta edição deste evento. Se o entusiasmo bem-intencionado com a Virada se justificava com uma ideia de acesso a cultura pautada por uma expectativa de mínima conscientização sobre a importância da experiência coletiva do espaço da cidade, juntando e misturando gostos e preferências de lazer num discurso de comunidade, mesmo que sacrificando qualquer debate mais aprofundado sobre cultura, dinâmica centro-periferia em SP, acesso-exclusão espacial e cultural a partir da dinâmica territorial, e os mecanismos que regem essa dinâmica, etc., ele precisa triunfar tratando casos como esse, o da “cracolândia”, como detalhe de paisagem, nasgo de mancha em tecido branco que precisa ser tratado, mas depois de ser percebido tocamos um “depois a gente se preocupa com isso” (sendo excessivamente bondoso com certas formulações e fingindo que leituras fascistas não influenciarão o debate…), ossificando qualquer tipo de debate político sobre o que é o controle militarizado e financeiro dessa cidade.

 

É hora de nos perguntarmos se até mesmo um evento como esse não está servindo de desculpa para ignorar estas questões, em que a cracolândia é um exemplo, mas é ponta de iceberg. Ignorando a relação entre política de cultura e controle territorial como contenção social, resta para ter repercussão assassinatos e arrastões, novidade nenhuma, sendo estes fenômenos que seriam muito melhor debatidos e politizados do que qualquer coisa que será dita seguindo os termos conservadores do debate de sempre, beneficiando quem sempre se beneficia com isso.. Ou alguém aqui acha que ter havido problemas de segurança e toda a provável campanha midiática que virá contra delinquência na virada não atende a interesses específicos, não beneficia e favorece politicamente alguém que saiba ser oportunista o suficiente para aproveitar a janela?

 

Enquanto isso, a política pública do cavalete continua como resquício e promessa de futuro, delimitando num zebrado laranja e branco, o que pode e o que não pode ser visto nesse evento. A falta de discussão dessa questão, mostra que a camuflagem dos cavaletes, antes de tudo, é uma política vitoriosa gestão após gestão, até o dia em que conseguirem higienizar, limpar e transformar o centro num pólo cultural e lar de gente criativa, jovem e inovadora, além de negócio lucrativo para poucos.

*A seção Cartas na mesa é composta por opiniões de leitores e membros do DAR acerca das drogas, de seus efeitos político-sociais e de sua proibição, e também de suas experiências pessoais e relatos sobre a forma com que se relacionam com elas. Vale tudo, em qualquer formato e tamanho, desde que você não esteja aqui para reforçar o proibicionismo! Caso queira ter seu desabafo desentorpecido publicado, envie seu texto para coletivodar@gmail.com e ponha as cartas na mesa para falar sobre drogas com o enfoque que quiser.

 

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