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Maio 07, 2018

Descanse em paz Maria Antonia, apologista da cura

COLETIVO DAR

maria-antonia

“Eu sonhei que estava andando em uma estrada, e de longe avistei um lugar muito bonito, o qual queria chegar. No meio do caminho, havia um monte de espinhos, que eu não conseguia ultrapassar. Na estrada estava um homem. Não tenho a pretensão de dizer que era um Anjo, um Santo, mas somente um homem Sábio. Pedi para que ele me ajudasse a atravessar os espinhos, me carregando no colo. Ele respondeu que não me carregaria, mas sim pegaria em minha mão e me ensinaria o caminho.”

Essa é a epígrafe do livro Apologia à Cura, da artista plástica e ativista da legalização da maconha Maria Antonia Goulart. Referência nacional no antiproibicionismo e na luta pela canábis medicinal livre pra todos que precisem, Maria Antonia infelizmente morreu às 3h20 da madrugada dessa segunda feira, 7 de maio de 2018, aos 69 anos – em decorrência de um tumor no cérebro.

Publicado pela própria autora, o livro é, em suas palavras, “uma história bem humorada de maus momentos”. Ali, Maria Antonia narra seu encontro com o uso medicinal de maconha: ela vinha tentando retomar seu ateliê de arte após problemas financeiros e superar uma depressão, mas começou a sentir dores durante os Jogos Pan-Americanos de 2007. O que inicialmente foi diagnosticado como hemorróidas na verdade era câncer no intestino:

“- É câncer, Doutora?
– Sim.
– Tem cura?
– Hoje em dia, os tratamentos estão muito avançados, e a possibilidade de cura é muito grande.
– Vou me curar”.

O tratamento iniciou com indicação de Quimio e Radioterapia, e Maria Antonia agradeceu a chance de se tratar em um hospital público de qualidade em São Paulo. Foi nesse momento que encontrou a maconha medicinal:

“Primeiro dia de tratamento na Rádio. Fui acompanhada por pessoas que realmente me querem bem, e isto me deu muita força. Logo na entrada estava um cartaz: ‘TUDO PASSA’. Legal, aquele eu entendi, e foi durante o tratamento o que eu mais pensava. Umas simples palavras, tão sábias e confortantes.

Apesar do tratamento a dor não passava. Enjoos da Quimio, queimaduras da Rádio, falta de apetite.

Estava ainda terminando de resolver os problemas do Atelier, com uma advogada. Conheci uma prima da mesma que estava lutando contra um câncer de mama há cinco anos. Falamos de dores, enjoos, etc. Ela me falou de uma Terapia Alternativa que melhorava muito esses sintomas. Perguntei: qual?

– Você conhece Cannabis Sativa?
– Sim sou da geração Woodstock.

Naquele momento, eu não fazia nada sem o conhecimento e o consentimento médico. Fui acompanhada e consultei dois médicos e uma psicóloga. Todos foram unânimes em dizer que se eu tivesse a oportunidade de usar seria muito bom”.

Com muita fé – “acredito que até um ateu tenha fé. Pode ser uma energia, um amigo, um médico, tem que ter” – e após uma cirurgia, Maria Antonia venceu essa primeira batalha. Em reportagem da Folha de São Paulo, relatou: “Depois do câncer de intestino, parei de usar por um tempo. Mas logo voltei por causa da fibromialgia [síndrome que causa diversas dores pelo corpo], para a qual a maconha também é indicada”.

Foi nesse período que começou a sua militância pela legalização da maconha, destacando-se principalmente seu uso medicinal, a urgência de permitir que pessoas tenham seu sofrimento aliviado e que as potencialidades dessa planta maravilhosa possam ser mais pesquisadas, testadas e difundidas.

… fonte indisponível 🙁 …

Maria Antonia virou figura carimbada nos eventos antiproibicionistas. Organizava dias de panfletagens no Hospital do Câncer e no Hospital das Clínicas, participava de marchas, debates, audiências, dava entrevistas (aqui, por exemplo, uma no programa Super Pop), engajava-se em coletivos e reuniões, fez livro, site, página no Facebook, camisetas, vendia colares. Poucas pessoas distribuíram tantas, e com tanta simpatia, as cartilhas que imprimíamos na Marcha da Maconha – ela tinha uma confiança muito grande na informação e no poder de mudança das pessoas através do conhecimento. Tinha também um senso de humor bastante forte! Ela mesma fala sobre isso no seu livro: “Mesmo que meu bom humor sirva somente pra mim, não me importa, eu me acho uma pessoa bem humorada”.

Depois de vencida a proibição da Marcha da Maconha no STF, em 2011, em 2012 saímos da defensiva e pra sermos mais propositivos, fizemos uma grande campanha financeira. Maria Antonia foi escolhida como uma das vozes do vídeo (a partir dos 3min), mostrando como sempre foi representativa da nossa luta:

Em janeiro de 2017, novo baque: ela descobre outro câncer, dessa vez no cérebro. Graças também à sua luta, e às mudanças graduais que o antiproibicionismo conseguiu no Brasil e no mundo, os tempos já eram um pouco outros, e ela desde o início desse novo tratamento pôde fazer uso de maconha livremente, inclusive dentro de hospitais, como ela relatou pra Folha de S.Paulo e se pode ver nessa linda e inesquecível foto publicada no Facebook:

… fonte indisponível 🙁 …

“O médico me internou no mesmo dia. Falei para ele que usava maconha, que ela ajudava com as convulsões. Ele perguntou se eu tinha receita e uma médica amiga prontamente mandou.

Tanto o médico quanto o hospital aceitaram no primeiro dia que eu continuasse usando maconha, e eu passei vaporizar maconha por lá. Todos os profissionais que eu conheci por lá se empolgaram com a possibilidade. Dei até palestra para três enfermeiras que me visitaram na UTI. Expliquei o que era CBD, THC [canabidiol e tetra-hidrocanabinol, princípios ativos da maconha].

Para qualquer médico que chegasse, alguns guiados pelo cheiro, eu dizia que era usuária. E eles perguntavam como era o tratamento, os efeitos e como eu tinha conseguido autorização para usar maconha no hospital.Muitos disseram que iam estudar o assunto, e isso me deu um pouco de esperança.”

Também à Folha, relatou a importância do uso da maconha medicinal no seu caso: “Quimioterapia é algo horrível. Pessoas vomitando, aquela agulha enorme. Quando eu e outros colegas usuários que conheci chegávamos, a enfermeira dizia: ‘Lá vem a turma da fumaça.’ A gente sentia a mesma dor, mas, de algum modo, ela se tornava mais razoável”.

Se o outro câncer de intestino, de 2007, “nos deu” Maria Antonia, a trouxe pra luta, esse de 2017 infelizmente a levou. Não sem muita coragem, bom humor, amor e fumaça no meio. Todos que a conheceram, que puderam lutar a seu lado, sabem o privilégio que tivemos. Todos que buscam um mundo melhor, menos sofrido e mais feliz, seguirão levando seu nome e suas ideias. A memória de Maria Antonia não vai nos carregar no colo, mas já ensinou muito do caminho.

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