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agosto 12, 2012

Ecstasy consumido em São Paulo não é ecstasy

Folha de São Paulo

MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO

Um levantamento inédito feito pela Superintendência da Polícia Técnico-Científica de São Paulo em parceria com a Fapesp revela que apenas 44,7% das drogas sintéticas apreendidas no Estado no último ano contêm o princípio ativo do ecstasy, o MDMA.

Outras 20 substâncias foram encontradas, algumas delas presentes em remédios de emagrecimento e anestésico de cavalo, além de anfetaminas e metanfetaminas. Todos os comprimidos têm a mesma embalagem visual do ecstasy -a cor, o formato e os logotipos variados como a maçã da Apple, a cara do ET ou o símbolo da Calvin Klein.

“Anteriormente dizíamos que eram comprimidos de ecstasy, mas os resultados mostram que metade dos comprimidos não possui o MDMA em sua constituição”, diz o autor do estudo, o perito criminal José Luiz da Costa, do Núcleo de Exames de Entorpecentes da Polícia Científica, e presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia.

Eduardo Knapp/Folhapress
No laboratório, ecstasy verdadeiro (à esquerda) e falsificado (à direita)
No laboratório, ecstasy verdadeiro (à esquerda) e falsificado (à direita)

O resultado evidencia que a composição das drogas sintéticas vendidas no Estado é extremamente variada, assim como o nível de concentração de substâncias.

“As pessoas vão à balada e não sabem mais o que estão tomando. Há comprimidos em que a concentração da substância ativa chega a ser cinco vezes superior à dose presente em medicamentos comerciais”, acrescenta.

Foram analisadas amostras provenientes de 150 diferentes apreensões realizadas pela polícia entre agosto de 2011 e julho de 2012.

Todas as apreensões feitas na capital no período estão representadas no universo de amostras. Apreensões feitas em outras cidades do Estado, como Ribeirão Preto, São José dos Campos e Campinas, também foram contempladas na avaliação.

É o estudo mais abrangente que já foi feito sobre o tema. Para efeito de comparação, em 2004, 25 amostras foram analisadas em uma pesquisa da USP (Universidade de São Paulo), e 84% continham MDMA, em maior ou menor concentração.

Em 2009, outro estudo, feito no laboratório da superintendência, mostrou que todas as amostras daquele período continham MDMA.

De acordo com o psiquiatra Dartiu Xavier, do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp, a pesquisa de Costa atesta algo que já se vinha observando nos prontos-socorros. “Antigamente, era tudo ecstasy. Mas de uns anos para cá começamos a notar a diferença”, explica Xavier.

“Algumas pessoas tomam a pílula e passam muito mal. Aparecem com quadros de hipertensão, arritmia e até infarto ou derrame. Ora, esses não são sintomas do ecstasy.”

De acordo com ele, à exceção dos principiantes, todos os compradores já têm noção da adulteração. Usuários ouvidos pela reportagem da Folha sob a condição de anonimato confirmam.

“Eles sabem que são altas as chances de comprar gato por lebre. Mas não sabem o perigo que isso representa. Essa pesquisa tem esse mérito”, diz Xavier. “O problema é que não existe controle de qualidade no mercado negro”, acrescenta.

Editoria de arte/Folhapress

 

Análise: Estudo aponta nó da atual política global sobre drogas

FERNANDA MENA
EDITORA DA “ILUSTRADA”

Os primeiros comprimidos de ecstasy surgiram no Brasil nos anos 1990 associados à chamada cultura clubber -da música eletrônica, das festas e da diversidade sexual. Logo ganhou o sedutor slogan de “droga do amor”.

Sob os efeitos de seu princípio ativo, o MDMA, o usuário tem o cérebro inundado de serotonina, neurotransmissor responsável pelas sensações de bem-estar e prazer.

A euforia e a percepção de comunhão consigo mesmo e com os outros dão lugar, passado o efeito, a uma leve depressão provocada pela baixa do mediador químico. O “ônus” do “bônus”, dizem.

E assim o ecstasy se tornou a segunda droga mais consumida hoje, com até 25 milhões de usuários no mundo, de acordo com relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime.

No Brasil não há dados atualizados sobre consumo de drogas. Mas sabe-se, por exemplo, que 3,6% dos jovens de 16 a 18 anos de escolas públicas das capitais do país já colocaram uma “bala” na boca uma vez na vida, embalados, ou não, por maratonas nas pistas.

É evidente, portanto, o mérito da pesquisa feita pela Superintendência da Polícia Técnico-Científica de São Paulo em parceria com a Fapesp. Ela responde a uma pergunta que precisava ser feita: o que há nos comprimidos que os brasileiros tomam?

O resultado -55,3% dos comprimidos de ecstasy não contêm MDMA- evidencia um nó da atual política global de drogas e aponta para a necessidade de uma campanha clara e honesta de prevenção de danos maiores.

Do ponto de vista político, num regime de ilegalidade, as drogas são relegadas a um mercado negro em que não existe controle de qualidade, apenas policial, num sistema que se prova falho.

Do ponto de vista dos danos, o ecstasy pode causar taquicardia, retenção urinária e, mais que tudo, desidratação profunda do corpo -principal causa de emergências médicas ligadas a seu uso.

A prevenção desse dano é básica: tomar água e fazer xixi. Só que pouca gente sabe.

Segundo estudo publicado na revista “Lancet” que mediu danos reais e potenciais das drogas a seus usuários e à sociedade, o ecstasy é menos nocivo que o álcool, a anfetamina e a maconha. Se for ecstasy mesmo, é claro.

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