• Home
  • Quem somos
  • A razão entorpecida
  • Chame o DAR pra sua quebrada ou escola
  • Fale com a gente
  • Podcast
  • Quem somos
  • A razão entorpecida
  • Podcast
  • Chame o DAR pra sua quebrada ou escola
  • Fale com a gente
Dezembro 03, 2015

Fuzilamento no Rio e violência contra os estudantes em SP: duas faces de uma polícia anacrônica

Ponte

As PMs realizam, como estamos assistindo em São Paulo, o “trabalho sujo” em nome do governo contra movimentos sociais.

Rafael Alcadipani

Jovens são literalmente fuzilados sem mais nem porque por PMs no Complexo da Pedreira, Rio de Janeiro. Estudantes que protestam contra uma mudança imposta pelo Governo do Estado de São Paulo em suas escolas em diferentes “incidentes insolados” sofrem várias formas de violência em ações conduzidas pela PM paulista quase que diariamente desde que as ocupações de escolas públicas e outros protestes relacionados começaram no estado.

Em um olhar desatento, ambos eventos não tem nenhuma relação: ocorreram em diferentes unidades da federação, foram perpetrados por polícias diferentes e possuem níveis de gravidade diferentes. Não resta dúvida que cada uma das forças policiais do Brasil possui as suas peculiaridades tanto positivas quanto negativas.

Porém, se ampliamos um pouco a análise podemos perceber que tais eventos não estão tão desconectados. PMs, só em 2015, praticaram atos de extrema violência contra professores de escolas públicas em greve no Paraná e em Brasília, apenas para citar alguns casos mais escabrosos. No caso de Brasília, o Secretário de Segurança pediu demissão do cargo porque queria punir os policiais que flagrantemente atuaram de forma desproporcional. O Governador do Estado ficou do lado da PM.

PMs também estão, direta ou indiretamente, envolvidos em execuções extrajudiciais que aconteceram em Osasco e Barueri (Grande São Paulo), Manaus (AM) e Fortaleza (CE), relembrando alguns casos que ganharam notoriedade.

As PMs do Brasil reprimem manifestações com constante uso desproporcional da força e pessoas são diariamente executadas pelas armas da PM. É incrível a facilidade com que PMs usam spray de pimenta, cassetetes, balas de borracha e bombas contra pessoas desarmadas que reivindicam direitos, assim como é impressionante a facilidade com que matam.

É impossível esquecer a execução sumária de um menino em uma favela do Rio de Janeiroou PMs uniformizados filmados “montando” uma cena de resistência seguida de morte após executarem friamente uma pessoa em São Paulo. Só não vê quem não quer: há um claro e nítido padrão de atuação violenta e ilegal por parte das PMs do Norte ao Sul do Brasil. Algumas forças são menos violentas, outras um pouco mais, mas o padrão de atuação é marcado pelo abuso, violência e desrespeito com as leis e com as pessoas ao redor do país. A pergunta que fica é porque este padrão se mantém?

Há inúmeros fatores que devem ser levados em conta para responder a pergunta. Primeiro, parte de nossa sociedade compactua com a violência policial e, inclusive, percebe tal violência como solução adequada para nossos problemas. Dentro desta lógica , policiais são fruto do meio em que estão. Segundo, os controles sobre os PMs é, na sua maioria, interno e cheio de vícios de origem.

Muitos membros da PM defendem que sua corregedoria é rigorosa, mas análises acadêmicas consistentes, como a do Prof. Sandro Cabral, da UFBA, mostra que as corregedorias atuam fortemente em crimes de corrupção, mas têm uma atuação muito mais tênue em casos em que envolve violência policial.

Corregedorias internas ficam reféns, sempre, da lógica corporativista. Não precisamos ir muito longe: quais foram os policiais punidos após as manifestações de Junho de 2013? Ninguém tem a resposta. Terceiro, nenhum governo controla efetivamente as PMs no Brasil. Muitas delas rodam a sua própria folha de pagamento e muitos de seus comandantes possuem benefícios muito além do que seria razoável supor para um agente público. Um coronel, em vários estados, possui mais benefícios do que um secretário estadual.

A falta de controle acontece pelo fato de que as PMs realizam, como estamos assistindo em São Paulo, o “trabalho sujo” em nome do governo contra movimentos sociais. No limite, as PMs não trabalham para o Governo, elas trabalham para os governantes que sabem contar com uma proteção bastante efetiva das PMs.

Quarto, as PMs foram sequestradas por seus comandantes. Os comandos das PMs acreditam que eles são donos da polícia e esquecem que a PM é da sociedade, não dos comandantes. Os comandos das forças policiais sabem quem são os PMs que mais matam, mas pouco fazem para retirá-los da corporação. Ser violento é um valor para muitos PMs. Os oficiais que tentam fugir desta lógica, muitas vezes, têm uma vida muito difícil dentro da corporações, sendo perseguidos por seus chefes.

Quinto, o Ministério Público tem uma atuação extremamente fraca e conivente quando se tratam de crimes cometidos por policiais. A violência da PM é secundada pelo MP.  Como disse o cineasta José Padilha em entrevista recente, o absurdo foi naturalizado no Brasil.

É inconcebível pensar que em qualquer lugar minimamente civilizado o secretário de segurança e o chefe de polícia iriam permanecer em seus respectivos cargos após o fuzilamento sumário de jovens que não confrontaram ou tentaram confrontar as forças policiais.

Resumindo a história, a relação entre o fuzilamento dos jovens cariocas e a violência da PM contra os estudantes de São Paulo são duas faces da mesma moeda, duas faces do sistema que permite que tenhamos uma Polícia Militar  que não presta contas a ninguém. O problema se dá no fato que de as pessoas confiam cada vez menos na polícia e cada vez mais irão cobrar mudanças. Ou as PMs mudam a sua essência, ou mais cedo ou mais tarde, a população que a cada dia que passa não suporta mais apanhar tanto, irá clamar pelo seu fim.

Rafael Alcadipani é pesquisador Visitante no Boston College e Professor da FGV-EAESP

Comments

comments

Nos ajude a melhorar o sítio! Caso repare um erro, notifique para nós!

Recent Posts

  • NOV 26 NÓS SOMOS OS 43 – Ação de solidariedade a Ayotzinapa
  • Quem foi a primeira mulher a usar LSD
  • Cloroquina, crack e tratamentos de morte
  • Polícia abre inquérito em perseguição política contra A Craco Resiste
  • Um jeito de plantar maconha (dentro de casa)

Recent Comments

  1. DAR – Desentorpecendo A Razão em Guerras às drogas: a consolidação de um Estado racista
  2. No Grajaú, polícia ainda não entendeu que falar de maconha não é crime em No Grajaú, polícia ainda não entendeu que falar de maconha não é crime
  3. DAR – Desentorpecendo A Razão – Um canceriano sem lar. em “Espetáculo de liberdade”: Marcha da Maconha SP deixou saudade!
  4. 10 motivos para legalizar a maconha – Verão da Lata em Visitei um clube canábico no Uruguai e devia ter ficado por lá
  5. Argyreia Nervosa e Redução de Danos – RD com Logan em Anvisa anuncia proibição da Sálvia Divinorum e do LSA

Archives

  • Março 2022
  • Dezembro 2021
  • Setembro 2021
  • Agosto 2021
  • Julho 2021
  • Maio 2021
  • Abril 2021
  • Março 2021
  • Fevereiro 2021
  • Janeiro 2021
  • Dezembro 2020
  • Novembro 2020
  • Outubro 2020
  • Setembro 2020
  • Agosto 2020
  • Julho 2020
  • Junho 2020
  • Março 2019
  • Setembro 2018
  • Junho 2018
  • Maio 2018
  • Abril 2018
  • Março 2018
  • Fevereiro 2018
  • Dezembro 2017
  • Novembro 2017
  • Outubro 2017
  • Agosto 2017
  • Julho 2017
  • Junho 2017
  • Maio 2017
  • Abril 2017
  • Março 2017
  • Janeiro 2017
  • Dezembro 2016
  • Novembro 2016
  • Setembro 2016
  • Agosto 2016
  • Julho 2016
  • Junho 2016
  • Maio 2016
  • Abril 2016
  • Março 2016
  • Fevereiro 2016
  • Janeiro 2016
  • Dezembro 2015
  • Novembro 2015
  • Outubro 2015
  • Setembro 2015
  • Agosto 2015
  • Julho 2015
  • Junho 2015
  • Maio 2015
  • Abril 2015
  • Março 2015
  • Fevereiro 2015
  • Janeiro 2015
  • Dezembro 2014
  • Novembro 2014
  • Outubro 2014
  • Setembro 2014
  • Agosto 2014
  • Julho 2014
  • Junho 2014
  • Maio 2014
  • Abril 2014
  • Março 2014
  • Fevereiro 2014
  • Janeiro 2014
  • Dezembro 2013
  • Novembro 2013
  • Outubro 2013
  • Setembro 2013
  • Agosto 2013
  • Julho 2013
  • Junho 2013
  • Maio 2013
  • Abril 2013
  • Março 2013
  • Fevereiro 2013
  • Janeiro 2013
  • Dezembro 2012
  • Novembro 2012
  • Outubro 2012
  • Setembro 2012
  • Agosto 2012
  • Julho 2012
  • Junho 2012
  • Maio 2012
  • Abril 2012
  • Março 2012
  • Fevereiro 2012
  • Janeiro 2012
  • Dezembro 2011
  • Novembro 2011
  • Outubro 2011
  • Setembro 2011
  • Agosto 2011
  • Julho 2011
  • Junho 2011
  • Maio 2011
  • Abril 2011
  • Março 2011
  • Fevereiro 2011
  • Janeiro 2011
  • Dezembro 2010
  • Novembro 2010
  • Outubro 2010
  • Setembro 2010
  • Agosto 2010
  • Julho 2010
  • Junho 2010
  • Maio 2010
  • Abril 2010
  • Março 2010
  • Fevereiro 2010
  • Janeiro 2010
  • Dezembro 2009
  • Novembro 2009
  • Outubro 2009
  • Setembro 2009
  • Agosto 2009
  • Julho 2009

Categories

  • Abre a roda
  • Abusos da polí­cia
  • Antiproibicionismo
  • Cartas na mesa
  • Criminalização da pobreza
  • Cultura
  • Cultura pra DAR
  • DAR – Conteúdo próprio
  • Destaque 01
  • Destaque 02
  • Dica Do DAR
  • Direitos Humanos
  • Entrevistas
  • Eventos
  • Galerias de fotos
  • História
  • Internacional
  • Justiça
  • Marcha da Maconha
  • Medicina
  • Mídia/Notí­cias
  • Mí­dia
  • Podcast
  • Polí­tica
  • Redução de Danos
  • Saúde
  • Saúde Mental
  • Segurança
  • Sem tema
  • Sistema Carcerário
  • Traduções
  • Uncategorized
  • Vídeos