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novembro 22, 2015

Haddad elogiou delegado do Denarc: demos um google e seu passado é bem suspeito

De acusação de suborno do PCC a envolvimento com Itaú, passando por morte de refém e até vídeo de anão pelado na DP: é no mínimo questionável a trajetória do delegado elogiado por Haddad por sua atuação na cracolândia 

COLETIVO DAR

haddad policia

Ele gosta…

Não precisa ser professor da USP, como o prefeito Fernando Haddad, pra saber que elogiar polícia é mais arriscado que passar com a camisa do São Paulo na Festa do título do Corinthians na quadra da Gaviões: se o cara não fez nada de errado, no mínimo passou muito pano. Uma busca no nosso serviço não secreto de informações, o Google, aponta que no caso de Ruy Ferraz Fontes, delegado do Denarc recém elogiado pelo prefeito, essas duas hipóteses são prováveis e é difícil que seja ele o tão falado mas nunca encontrado “bom policial”.

Na última quinta-feira, o atual Kassab comemorou uma suposta redução dos índices de criminalidade na região da chamada cracolândia – novamente deixando claro que as intenções do program De Braços Abertos pouco ou nada têm a ver com drogas e redução de danos – e ainda defendeu o líder do Denarc, uma das organizações mais corruptas da história da raça humana em seus milhares de anos (digitem “corrupção” e “Denarc” no google e verão que são praticamente sinônimos). “Estou positivamente impressionado com o trabalho que o delegado Ruy Fontes está fazendo à frente do Denarc. Ele faz um trabalho de inteligência que não existia antes”, declarou Haddad, que gosta tanto de polícia que já havia colocado um PM  de sua guarda pessoal pra coordenar o Braços Abertos tempos atrás.

Hmmmmm “bom trabalho” e “Denarc” na mesma frase? Estranho. Vamos ver o que a busca revelou sobre o passado recente de Ruy Ferraz Fontes, um delegado realmente inteligente.

Fontes era considerado o “número 1” da polícia civil no enfrentamento ao PCC na época de maio de 2006. Sim, fizeram realmente um puta trabalho, o PCC foi completamente desmantelado como eles previam – #Só Que Não. Não vamos nem falar nas torturas, execuções e assassinatos sumários, que aí estão as Mães de Maio pra não deixar esquecer e que todo mundo sabe que a ordem veio mais de cima. Mas há outros senões aí, como por exemplo o depoimento de Marcos Camacho, o Marcola, pra uma CPI realizada em 2006, que declarou:  “Dr. Ruy Fontes, se não me engano, é o nome dele. E eu já o conheço há uns 15 anos, esse delegado, e ele me conhece. A gente já negociou várias situações, na rua, inclusive, quando eu era preso. Ou seja, ele é um delegado corrupto mesmo”.

Outras menções de Marcola ao delegado foram as seguintes nesse depoimento (a transcrição completa tá aqui):

  • “Tinha uns 15. Aí, nesse meio, o Dr. Ruy, esse Dr. Ruy da 5ª Delegacia, estava lá e, como eu já havia dado dinheiro pra ele várias vezes…”
  • “Fui ao DEIC. Chegando lá, eu falei pra ele: Doutor, o senhor sabe que o senhor tá sendo injusto em fazer isso comigo, em me acusar dessa forma, sem me dar nenhuma chance de defesa, e o senhor sabe também, pelas gravações, que eu sou inocente dessa situação e que eu tô pagando por mais um ano de RDD. Aí ele falou: É, justiça é algo que tem vários sentidos. E tal e tal, aquele papo furado. Tudo bem. Aí, eu falei pra ele: Quanto? Porque eu já havia feito um negócio com ele em 1999, quando eu fui preso, e eu dei 600 mil reais na época, o senhor entendeu? Aí eu falei: Quanto, dessa vez, pro senhor me inocentar, mesmo que seja… Só quero a verdade dos fatos. Eu quero que o senhor coloque no papel que eu me posicionei contra. Aí ele pediu 45 mil reais. Foi entregue pra uma investigadora de nome Sheila, pra que entregasse pra ele, aí ele deu esse documento, esse documento que diz, depois de 6 meses que eu já tinha sido condenado a tirar um ano… Aí ele me deu esse documento eu tive que pagar por ele, embora fosse verdade, pra que eu saísse daqui. E eu saí, porque esse documento foi apresentado em juízo.”
  • “O senhor entendeu? Eu sei que, por conta disso, eu fui condenado a 1 ano de RDD aqui o senhor entendeu? A mais, porque eu já estava há um ano e meio. E só não cumpri graças a essa declaração do próprio Dr. Ruy me inocentando dessa situação.”

Nessa época, “Dr.Ruy” trabalhava no DEIC, que rivaliza com o Denarc nos quesitos reputação e cafezinho. Em 2010, ele foi retirado da chefia da 5ª Delegacia de Roubos a Bancos e foi transferido para o 69º Distrito Policial (Teotônio Vilela), no extremo leste de SP, ali onde a polícia é mestre em direitos humanos – #Só Que Não. Reportagem da Folha de S.Paulo da época explica o porquê do “rebaixamento”:

O 69º é um distrito onde quase nenhum policial quer trabalhar. É muito distante do centro, tem pouca estrutura e atua em uma das áreas mais violentas da cidade. Questionado sobre o seu afastamento do posto de destaque no Deic, onde constantemente comandava ações com grande exposição na mídia, Fontes disse ter sido ele que pediu a transferência.Nos bastidores da polícia, a história que se conta é outra. Fontes teria perdido prestígio depois que policiais de sua equipe começaram a ser investigados por suspeita de extorsão de dinheiro de criminosos, inclusive membros do PCC. Em um dos casos, o investigador Wilson de Souza Caetano foi preso em flagrante há um mês sob acusação de exigir R$ 300 mil de um suspeito de estelionato, que teve seus bens apreendidos irregularmente. A Folha tentou localizar, sem sucesso, o advogado de Souza para ouvir sua versão sobre o caso.

Transferido pra ZL, Dr. Ruy não se manteve longe de polêmicas, pelo contrário, sua casa quase caiu quando em 2011 aconteceu um roubo a uma agência do Itaú na Avenida Paulista. E o que é que um delegado da Zona Leste tem a ver com isso? Nada, claro, se ele não fosse suspeito de receber por fora do banco pra “dar uma forcinha” em casos como esse, como mostra trecho dessa outra reportagem que colamos abaixo. O esquema não é exclusividade do delegado, parecendo ser muito comum nas bandas do DEIC, como mostra esse outro texto aqui. 

O secretário da Segurança Pública Antonio Ferreira Pinto e o delegado-geral de polícia, Marcos Carneiro Lima, decidiram afastar o delegado Ruy Ferraz Fontes do 69º DP (Cohab Teotônio Vilela, Zona leste de São Paulo). O motivo são as suspeitas de que o delegado usasse o distrito para atender de forma privilegiada ocorrências envolvendo o Banco Itaú. Fontes nega. Pelo menos 9 casos envolvendo o banco como vítima que aconteceram em outros bairros da cidade foram investigados pelo 69º DP neste ano. Entre eles, o caso do roubo milionário de 138 cofres da agência do Itaú na Avenida Paulista, crime ocorrido no dia 28 de agosto.

“Opa, pera lá, muita calma, ladrão!”, já diriam os Racionais. Itáu? O mesmo Itaú que está “revitalizando” o Anhagabaú, que doou pra campanha do Haddad e que é dono da Porto Seguro? A mesma Porto Seguro que tem vários imóveis e manda e desmanda no centro de São Paulo e também doou pra campanha?  Hmmmmmmmmmmmmmmmmmmm. Coincidência ou não, o afastado delegado fez uma rápida pausa em outro DP, no Ibirapuera, para depois assumir seu cargo de chefia no Denarc, que atua exatamente nessa mesma região de altíssimo interesse para Itaú, Porto Seguro e Prefeitura. Um homem de confiança do comando da Civil e do governo estadual, aparentemente, mesmo com sua ficha não ajudando muito – e agora elogiado pelo prefeito-gato, de botas.

Além desses casos, encontramos mais duas menções interessantes ao delegado Ruy. Uma é de setembro e relata uma festinha que seus subordinados fizeram na DP, com direito a anão dançando semi-nu, e outra é o caso do assassinato de um professor e mais nove supostos assaltantes de banco em Minas Gerais, realizado pela equipe dele em seus tempos de DEIC. Os fatos são que houve um roubo a banco e policiais de SP e MG meteram bala nos supostos criminosos, sem dar a mínima pro fato de que havia um refém entre eles, o professor Silmar Madeira, de 31 anos. O site Flit Paralisante, especializado em cobertura policial e feito por e para policiais, nos indica o que pode ter acontecido de verdade: assalariada dos bancos, a equipe do DEIC teria feito vista grossa ao assalto porque queria pegar os ladrões depois – e pegar aqui significa não prender mas assassinar – e nessas passaram fogo também no pobre professor.  “Foi um tiroteio intenso, que durou 25 minutos, uma situação de guerra. Para nós, todos eram criminosos naquele momento”, disse o delegado na época. E a mãe do Silmar, como fica? Sem falar nas dos outros nove, que deveriam ter sido presos e não executados.

Haddad, Suplicy e cia. passaram pela cracolândia em 29 de abril e garantiram que não haveria repressão – momentos depois duas pessoas foram baleadas

A prefeitura comemorou também o suposto fato de não ter havido nenhum homicídio doloso na cracolândia em 2015. Só esqueceu de lembrar que quando isso quase aconteceu foi pela ação da polícia que, a paisana, baleou duas pessoas na região. Ninguém nunca foi responsabilizado por essas tentativas de assassinato e o prefeito fingiu que não era com ele. Em julho o Denarc disse ter prendido o “número 1” do tráfico na região da cracolândia – segundo Fontes isso teria sido “o primeiro passo pra acabar com a cracolândia”. Do segundo passo ninguém sabe ninguém viu, e a região segue sendo um dos principais locais de consumo de drogas e também de suborno policial da cidade, afinal nunca existiu um sem o outro.

O salário inicial de um delegado de polícia em São Paulo é de R$ 10.079,28. Uma recente pesquisa do Datafolha indicou que 60% dos paulistanos tem mais medo das polícias civil e militar do que confiança – não ficou claro em que mundo vivem os outros 40%.

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