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Junho 27, 2016

“Os grandes traficantes brasileiros não moram nas favelas”, diz inglês autor de livro sobre Nem da Rocinha

El País

Os caminhos da cocaína desde que a folha da coca é colhida por camponeses latino-americanos até chegar às narinas dos exigentes consumidores da Europa ou dos Estados Unidos deixam um rastro de morte no terceiro mundo. E o Brasil, com seus 50.000 homicídios anuais, não é exceção. Não se trata, no entanto, de óbitos provocados pela overdose da droga. São uma consequência direta das infinitas batalhas por rotas e mercados, embates travados em nome da chamada “guerra às drogas”. Crítico da política proibicionista liderada por Washington e Europa e imposta aos países produtores e distribuidores, o jornalista inglês Misha Glenny, que já mergulhou na rede do crime organizado transnacional em McMáfia (Companhia das Letras), agora aborda a o impacto do “fracasso da guerra às drogas” na vida de um indivíduo em particular: o traficante de drogas Nem da Rocinha. Sua história é contada no livro O Dono do Morro: Um homem e a batalha pelo Rio (Companhia das Letras). O autor, que estará na Feira Literária Internacional de Paraty este ano, conversou com o EL PAÍS no final de junho.

Pergunta. Qual a diferença entre o traficante que atua na favela, como o Nem, e o grande traficante, como o mexicano El Chapo Guzmán?

Resposta. Existem dois tipos básicos de traficantes no Brasil. O primeiro são os traficantes como o Nem, que atuam na ponta do varejo e distribuem a droga nas áreas urbanas ao longo da costa brasileira. A cocaína vem da Bolívia, Peru ou Colômbia, e parte dela é entregue nas cidades, levada pelos matutos. Eles se encarregam de levar a droga na mochila, de ônibus ou carro, e são parte fundamental do abastecimento das cidades. Cerca de 50% da droga vendida no varejo é entregue para as facções criminosas pelos matutos, que são pessoas de diversas nacionalidades, e não são especialmente ricos.

O Nem, no contexto doméstico do tráfico de drogas do Rio de Janeiro, era uma figura muito importante. Mas o papel do Nem não tem nada a ver com o papel do El Chapo Guzmán no México, por exemplo. O Chapo faz parte do segundo tipo de traficante, que atua no atacado, que abastece os mercados mais ricos. Esse segundo perfil também existe no Brasil, só que os Chapos do Brasil não têm a mesma origem social que o mexicano, que nasceu em um bairro pobre. Quem faz esse serviço no Brasil costuma ser pessoas de classe média e classe alta que têm negócios legítimos operando, geralmente nas áreas de transporte e agricultura. Acontece que os lucros desses negócios são multiplicados quando eles utilizam essa rede de logística para transportar toneladas de cocaína através do país. Já descobriram carregamentos de cocaína dentro de carne bovina brasileira que seria exportada pra Espanha, por exemplo.

As drogas atravessam o Brasil e deixam o país principalmente pelos portos de Santos e do Rio de Janeiro, e são vendidas no atacado para uma variedade de destinos como países do oeste da África, Espanha, os Balcãs, Holanda e Irlanda. Essa é a função primária do Brasil no mercado global da cocaína: entregar a droga das áreas de produção em grandes quantidades para outros países.

P. São perfis completamente distintos de traficantes no atacado e no varejo…

R. Esses dois perfis de traficantes tem muito pouco a ver entre si. Os lucros do negócio doméstico do tráfico de cocaína que abastece o Brasil – o país é o segundo maior consumidor de cocaína do mundo – não chegam nem perto do negócio de exportar a cocaína para a Europa. As margens de lucro crescem exponencialmente com a exportação.

O perfil social dos envolvidos no tráfico do atacado no Brasil não tem nada a ver com a figura do bandido morador de favela que existe no imaginário da população.

O perfil social dos envolvidos no tráfico do atacado no Brasil não tem nada a ver com a figura do bandido morador de favela que existe no imaginário da população. A única pessoa que circulou pelos dois mercados, atacado e varejo, foi o Fernandinho Beira-Mar, do Comando Vermelho [o traficante foi preso em 2002 na Colômbia, e havia construído uma rede de contatos com guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia para comprar e exportar a droga pelo Brasil].

P. Qual a marca da gestão do Nem na Rocinha?

R. A Rocinha é uma favela muito fácil de defender, ela tem praticamente duas entradas, uma na parte alta e outra na baixa. Isso significa que o Nem não precisou investir tantos recursos na defesa da favela, em armas. Ele pode simplesmente investir mais recursos no negócio da cocaína, e ele aliou isso a uma redução da violência e do uso ostensivo de armas na comunidade. Isso fez com que as pessoas se sentissem seguras para comprar a droga lá, ele atraiu muitos consumidores de classe média que se abasteciam lá por saber que a favela era pacífica.

Logo o faturamento bruto do tráfico subiu muito sob sua gestão. E ele investia parte desses recursos em duas outras coisas: primeiro na comunidade. Para que ela se sinta cuidada, feliz, próspera, ele injetava dinheiro na favela e fez com que a economia local florescesse. E, em segundo lugar, usava o dinheiro para corromper a polícia. Investigadores me disseram que ele tinha informantes na Polícia Civil e na Militar, gente de médio escalão, que o alertava sobre batidas e operações na Rocinha. Tudo isso para garantir seu poder político na comunidade.

P. A impressão que se tem ao ler o livro era de que o Nem era um traficante que evitava a violência. Isso não é romantizar um criminoso?

R. Eu não falei somente com o Nem para escrever o livro. Falei muito com os investigadores e delegados da Polícia Civil que monitoravam ele e a Rocinha. E também com o José Mariano Beltrame, secretário de Segurança Pública do Rio. Todos foram claros: Nem evitou violência sempre que pôde. O pilar de sustentação dele era a corrupção. Esse era seu mais importante instrumento para consolidar o poder na Rocinha e seus negócios. Isso quem diz é o Beltrame e os policiais, não os moradores.

O pilar de sustentação dele era a corrupção, esse era seu mais importante instrumento para consolidar o poder na Rocinha e seus negócios

P. No livro você fala sobre a diferença entre a imagem construída pela imprensa sobre o Nem e a visão que os moradores da Rocinha tinham dele. Por que essa diferença?

R. Foi muito interessante. Eu estava no Rio em 2011 quando o Nem foi preso. Foi um evento público, um acontecimento. E foi impressionante como ele foi considerado herói por metade da cidade e um demônio pela outra. Para mim isso refletiu não apenas a divisão da sociedade carioca, mas também da sociedade brasileira como um todo. Dentro da Rocinha o apoio a ele é enorme. Eu morei lá por três meses, falei com muita gente sobre os tempos do Nem. Eles dizem “sim, ele fez algumas coisas erradas, mas a violência era muito menor, a economia prosperava e todos tinham acesso a ele”. Hoje em dia os moradores têm muito mais medo…

P. A Rocinha está pior agora com a Unidade Policial Pacificadora (UPP) do que nos tempos do Nem?

R. A situação lá agora é pior. A UPP está entrando em colapso no Rio. A monumental crise política, econômica e constitucional pela qual o país passa complica muito a situação da segurança pública. O impacto disso no Rio é enorme. Semanas atrás houve tiroteio na Rocinha. O Complexo do Alemão é uma catástrofe. Assim como outras favelas com UPP. No final de junho houve o resgate do Fat Family [apelido do traficante Nicolas Labre Pereira de Jesus] de um hospital do centro do Rio… Tudo pode acontecer a qualquer momento. E no Rio ninguém sabe o que vai acontecer durante os Jogos. Ninguém arrisca fazer uma previsão. Acho que o Governo do Estado vai alocar recursos suficientes para a segurança até o fim dos Jogos Olímpicos, mas depois disso…

P. Por que o Primeiro Comando da Capital  (PCC), facção criminosa baseada em São Paulo mas com presença nacional, não se consolidou no Rio de Janeiro?

R. O PCC olha para o Rio e diz “obrigado, mas não obrigado”. A situação lá é um caos. E é uma consequência da geografia do Rio, as facções são muito ligadas ao território. E a hostilidade entre elas é profunda. Aparentemente o PCC decidiu manter relações comerciais com as três: Comando Vermelho, Terceiro Comando Puro e Amigos dos Amigos. Acho que o PCC gostaria de ter uma posição mais forte no Rio, mas devem ter avaliado que não vale a pena, a violência e a hostilidade são muito grandes.

P. Qual o efeito da política proibicionista com relação às drogas nos países produtores de cocaína e maconha?

R. Você tem três zonas do negócio da cocaína. As áreas produtoras, que são Colômbia, Peru e Bolívia; as zonas de distribuição, que são Brasil e México; e você tem os polos de consumo, que geralmente são países desenvolvidos do mundo ocidental. Como os Estados Unidos, que têm 5% da população mundial e responde por 40% do consumo global de cocaína. E Europa. Sempre que você se torna parte da rota da droga e entra para a zona de distribuição, você desenvolve seu mercado interno. E invariavelmente a situação sai do controle, porque há muita droga entrando no país, lucros astronômicos a serem obtidos e as forças policiais não têm a estrutura e os recursos para reagir. Na prática o Estado não tem condições de vencer a chamada guerra contra as drogas.

No Brasil ocorrem mais de 50.000 homicídios por ano, é o mais violento em números absolutos. E de acordo com pesquisas, mais de 50% dessas mortes são consequência direta da guerra às drogas.

E aí essa guerra se torna uma parte muito importante, mas ilegal da economia. E por ser ilegal, as armas acabam fazendo parte fundamental do negócio. No Brasil ocorrem mais de 50.000 homicídios por ano, é o mais violento em números absolutos. E de acordo com pesquisas, mais de 50% dessas mortes são consequência direta da guerra às drogas. E não é gente que morreu de overdose: é gente que teve a garganta cortada, foi assassinada. E isso é responsabilidade de quem formula essa política ocidental de combate às drogas. Precisamos desesperadamente de reformas nas leis de droga.

P. Você vislumbra uma reforma nessa política de drogas num futuro próximo?

R. Sim. Uma das razões pelas quais estamos vendo apoio a essas reformas vindo do México e da Colômbia, por exemplo, e também em menor escala no Brasil, é porque são mexicanos, colombianos e brasileiros que estão pagando o preço em vidas humanas por uma política falida implementada por Washington. Mas à medida em que os Estados Unidos, Canadá e partes da Europa começam a fazer parte da zona produtora, num processo lento mas constante, com grandes plantações de maconha no Canadá e nos EUA, por exemplo, eles não querem a violência associada à guerra às drogas em suas ruas. Por isso nestes países cresce o apoio às reformas na legislação.

P. As experiências do Uruguai e do Colorado, que legalizaram a maconha para uso recreativo, são positivas?

R. O Colorado, no seu primeiro ano da legalização da maconha, coletou 76 milhões de dólares em impostos, valor duas vezes maior do que o arrecadado com impostos sobre bebidas alcoólicas. Eles perceberam que há muito dinheiro a ser feito aqui.

Jornalista narra ascensão e queda de Nem, o ‘dono do morro’ da Rocinha

Guto Maia – 10.nov.2011/News Free
RIO DE JANEIR.10 DE NOVEMBRO DE 2011- Ant¾¥nio Bonfim Lopes, conhecido como NEM da Rocinha, foi transferido da Pol¾-cia Federal no centro do RJ, para o pres¾-dio Bangu 1. Foto: Guto Maia / News Free *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
Antônio Bonfim Lopes, o Nem, é transferido para o presídio de Bangu

LUIZA FRANCO
Folha de S.Paulo,

DO RIO

27/06/2016  02h20

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Em junho de 2000, o entregador de revistas Antônio Francisco Bonfim Lopes, 24, subiu a ladeira da favela da Rocinha, zona sul do Rio, para pedir um empréstimo ao dono do morro, o traficante Lulu. Precisava pagar o tratamento da filha bebê, Eduarda, que desenvolvera uma doença rara, histiocitose X.

Desceu de lá com o apelido Nem, e acabou virando o dono do morro, “o mestre”, tema de funks e conhecido por andar com seu macaco de estimação, Chico-Bala.

Hoje, aos 40 anos, está detido em um presídio de segurança máxima no Mato Grosso do Sul, condenado a 16 anos e 18 meses por associação ao tráfico de drogas.

A história de sua ascensão e queda é narrada em “O Dono do Morro”, do jornalista britânico Misha Glenny, que lançará o livro na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), que começa nesta quarta (29).

Pako Mera/Alamy Live News/Latinstock
F1AGXD Edinburgh. UK. 31st August. Edinburgh International Book Festival. Day 17 Edinburgh International Book Festival takes place in Charlotte Square Gardens. Pictured Misha Glenny. Foto:Pako Mera/Alamy Live News/Latinstock ORG XMIT: F1AGXD ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O jornalista britânico Misha Glenny, que investiga a máfia e o narcotráfico

Autor também de “McMáfia” (2008), que trata do crime organizado e que o trouxe à Flip daquele ano, e “Mercado Sombrio” (2011), a respeito de cibercrime –todos da Companha das Letras–, Glenny aprendeu algum português e morou na Rocinha para apurar o livro. Ele conta a história não só de Nem, mas da favela de 100 mil pessoas e do tráfico na cidade.

Pega principalmente dos anos 1980 à instalação da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), essencial para a narrativa sobre o traficante.

NO PORTA-MALAS

O noticiário não mostrava outra coisa na manhã de 10 de novembro de 2011. Lá estava Nem, o traficante mais procurado do Estado, encontrado em posição fetal no porta-malas de um sedã. Para evitar que a polícia o abrisse, o motorista havia dito ser cônsul honorário do Congo.

A imagem de assassino impiedoso, pensou o jornalista, não batia com a que Nem passara em suas poucas entrevistas. Nem com a que um morador da Rocinha transmitira, quatro anos antes, quando Glenny, turista no Rio, visitara a favela.

Foi ter com o próprio Nem. O traficante rejeitara diversos pedidos de entrevista desde que fora preso, mas topou o de Glenny.”Ainda não entendo por que decidiu falar comigo. Mas sei que uma vez que pessoas assim tomam a decisão de falar, falam muito”.

Falou por dois anos, em dez entrevistas, num total de 28 horas. A primeira conversa foi no inverno de 2012.

Talvez Nem tenha sentido o olhar simpático do entrevistador. No livro, ele é descrito como um traficante-ditador benevolente com um tino para os negócios. Sob seu reinado, homicídios caíram, não se via mais tantas armas na rua e a Rocinha passou a atender a cerca de 60% de todo o consumo de cocaína do Rio.

Virou lugar “cool”, que o pessoal “do asfalto” achava bacana frequentar, onde o rapper americano Ja Rule fez show em 2008. Nem bancava enterros, remédios e o que mais os moradores precisassem.

“Quanto menos gente morre, mais bem-sucedido é o negócio e mais felizes as pessoas ficam. Ele sabia disso”, diz Glenny. “Mas tinha o monopólio da violência. Tirava as armas da rua, mas botava de volta se sentisse ameaçado.”

“Não era uma democracia”, diz Nem a Glenny, “mas ao mesmo tempo não era uma ditadura, porque eu sempre explicava meu raciocínio aos moradores comuns.”

Em pelo menos um aspecto de sua vida Nem se mostra muito violento: com suas várias mulheres. Uma delas conta que pediu a um vizinho que a ajudasse a fugir, com medo de ser morta pelo traficante.

Glenny quase justifica o ato: “Havia, de maneira tortuosa, um princípio por trás disso. Se surgisse a mais leve sugestão de que a namorada de um bandido estivesse envolvida com outro, isso traria uma mancha inadmissível para sua honra”, diz o livro.

“O que eu fiz foi mostrar que a cultura é essa. É uma questão de controle, especialmente se você é dono do morro.”

O Dono Do Morro
Misha Glenny
l
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Glenny diz no livro que boatos atribuem uma série de mortes a Nem, mas não há provas. Foi formalmente acusado pelo envolvimento no assassinato de duas jovens, crime que será julgado pelo júri. Nem nega, e Glenny acredita.

“Se ele esteve envolvido em algum assassinato –e é difícil acreditar que ele não tenha alguma responsabilidade– não foi nesses.”

Como Glenny diz, é improvável que Nem tenha subido na hierarquia do tráfico sem cometer um crime contra a vida. O leitor sentirá falta de mais informações sobre os boatos de homicídio. Quantos foram? Não sabemos.

REFLEXÃO NA CADEIA

O título em inglês, “Nemesis” (inimigo implacável), alude ao que Glenny vê como a nêmese de Nem: a política da UPP, quando começou sua queda. “Quando as outras favelas foram tomadas pela UPP, muitos traficantes fugiram para a Rocinha. E ele não tinha tanto controle sobre eles.”

O jornalista conta que, na cadeia, Nem tem refletido sobre a vida e diz que, quando for solto, não voltará a traficar.

“Ele não demonstrava, mas sei que esteve deprimido com a situação na Rocinha, a própria situação legal, problemas de família. Ele sempre pondera as implicações práticas e morais do que faz. Não toma sempre as decisões certas, mas reflete sobre elas.”

*

*EM SÃO PAULO – * O jornalista Misha Glenny vai dar uma palestra no auditório da Folha na segunda (4), às 11h. Autor de “O Dono do Morro”, Glenny trabalhou no “Guardian” e na BBC. O evento é gratuito e aberto ao público. Clique para se inscrever. 

Biografia de Nem já é obra de referência sobre morros cariocas

LUIZ EDUARDO SOARES
ESPECIAL PARA A FOLHA

27/06/2016  02h15

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O sentido de uma história depende do ponto a partir do qual começamos a contá-la. É o que comprova “O Dono do Morro — Um Homem e a Batalha pelo Rio”,do premiado jornalista britânico Misha Glenn. O livro está destinado a figurar –ao lado de “Cidade de Deus”, de Paulo Lins, e “Cidade Partida”, de Zuenir Ventura– em qualquer lista que selecione as obras de referência sobre seu tema.

A chave para entender sua importância está na palavra “tema”, empregada aqui de modo propositalmente vago. O livro de Glenny é um “hub” cultural: uma narrativa polifônica, embora simples e sedutora, que integra circuitos diversos de conhecimento, imaginação e sensibilidade.

O texto é trabalhado com tamanha sutileza, contando com a tradução preciosa de Denise Bottman, que o leitor transita entre temas distintos e passa por reflexões de fôlego sem sobressaltos, deslizando em uma narrativa ágil, atraente e contínua.

Guto Maia – 10.nov.2011/News Free
RIO DE JANEIR.10 DE NOVEMBRO DE 2011- Ant¾¥nio Bonfim Lopes, conhecido como NEM da Rocinha , foi transferido da Pol¾-cia Federal no centro do RJ , para o pres¾-dio Bangu 1. Foto: Guto Maia / News Free *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
Antônio Bonfim Lopes, conhecido como Nem, é transferido para o presídio de Bangu

O ponto de vista do observador nunca é omitido e tampouco neutraliza a distância necessária para que o testemunho do autor conviva em harmonia com o relato objetivo. Essas virtudes são fruto da consciência de Glenny sobre os imensos desafios de seu ofício, que exige a capacidade de experimentar a empatia com as pessoas mais diferentes e a faculdade de afastar-se delas, criticamente.

“O Dono do Morro” é uma biografia de Antôonio Francisco Bonfim Lopes, o mítico Nem. Hoje preso, lideroulíderou por muitos anos o tráfico na Rocinha, o mais próspero da cidade. O livro compõe um notável retrato da favela e, por extensão, do Rio de Janeiro.

Mais ainda, é a história do crime na cidade, pródiga em flashes sobre a economia transnacional da cocaína. Também não estaria errado quem lesse o trabalho de Glenny a obra de como um mapeamento dos tipos de poderes locaisl no Brasil contemporâneo –, um flagrante da interpenetração entre crime e política.

Ou como uma reportagem sobre as formas com que o me por que se têm semanifestam, ao longo das últimas décadas, o machismo brutal, as linguagens da violência que atravessam a sociedade e a barbárie do Estado se manifestaram nas últimas décadas,, afetando sobretudo os segmentos sociais vulneráveis. Um prato cheio para pesquisadores e um repertório comovente de episódios dramáticos repletoscheios de suspense para o público leitor.

Nessa rica variedade de temas, destaca-se a composição biográfica de Nem. U, um primor de delicadeza e acuidade, mosaico de qualidades e contradições, um personagem hamletiano em busca de si mesmo no emaranhado da vida popular carioca.

O DONO DO MORRO – UM HOMEM E A BATALHA PELO RIO 
AUTOR: MISHA GLENNY
EDITORA: COMPANHIA DAS LETRAS
QUANTO: R$ 54,90, 360 PÁGS

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