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Novembro 28, 2015

Proibir o MDMA é optar pela doença ao invés da cura: entrevista exclusiva

COLETIVO DAR

Membro fundador do Plantando Consciência, organização multidisciplinar sem fins lucrativos que busca pesquisar e educar sobre psicodélicos, o neurocientista Eduardo Schenberg é uma referência na pesquisa científica com alteradores de consciência no Brasil, tendo estudado e publicado artigos científicos sobre o uso de ibogaína no tratamento da dependência química e sobre efeitos da ayahuasca e do LSD no cérebro, além de experiências espirituais vividas com psicodélicos. Seu novo projeto é tão ambicioso quanto necessário: regulamentar a terapia com MDMA no Brasil até 2021.

Para isso, foi lançada uma campanha de financiamento no site Catarse – VEJA MAIS E APOIE AQUI – que busca arrecadar 50 mil reais, que serão usados para o tratamento de quatro pacientes de Estresse Pós Traumático já no ano que vem, primeiro passo para o objetivo maior de regulamentar a pesquisa e a terapia com MDMA no Brasil. Pra entender mais essa proposta e como está sendo levada a cabo, o DAR conversou com exclusividade com Schenberg, confiram.

DAR – MDMA no consultório, essa campanha relembra que as drogas também são ou podem ser remédios. Por que algumas delas, como maconha, LSD, MDMA, ainda não são?

Eduardo Schenberg – Os psicodélicos sempre foram substâncias terapêuticas. Foram, e ainda são, usados pela maioria das culturas do mundo em rituais de cura. Apenas a partir dos anos 60, quando começou a repressão, a proibição e a guerra contra as drogas que a ciência parou de dar atenção ao potencial extraordinário dessas substâncias. Indo direto ao ponto, estas substâncias ainda não são usadas como remédio unicamente por conta da proibição das drogas, que forçosamente colocou todos os psicodélicos na categoria mais estrita, dizendo que eles não têm qualquer uso terapêutico, o que está em total desacordo com a evidência científica.

– A campanha acaba tocando em outro ponto também, os remédios são drogas, drogas permitidas. Por que algumas delas, mesmo causando dependência, sendo muito pesadas e etc, são permitidas e estimuladas e outras não, existe algum critério científico que diferencie um prozac de um LSD por exemplo?

O que é droga e o que é remédio não depende da substância, mas do uso que fazemos dela. Tudo na vida pode ser usado de maneiras inteligentes e de maneiras levianas. Fármacos são ferramentas. Cabe a nós desenvolver usos inteligentes e benéficos. Existem sim critérios científicos que permitam distinguir prozac de LSD, como por exemplo efeitos psicológicos, perfis de ativação de receptores e efeitos nas redes neurais do cérebro. Mas não são os critérios científicos que pautam a classificação política das drogas. Diversos trabalhos recentes deixaram isso bem claro, e no caso do MDMA houveram audiências ainda antes da proibição em 1985, o Juiz Francis Young nos EUA recomendou classificação na categoria III, que permite uso médico, mas a DEA classificou como categoria I mesmo assim, evidência clara que não se importam com a evidência cientifica.

– Qual a dificuldade para um cientista brasileiro pesquisar substâncias proibidas? Que prejuízo isso traz?

Muito pouca gente no Brasil se aventura a pesquisar substâncias proibidas. O melhor exemplo é o da maconha e seus princípios ativos, como THC e o canabidiol. As dificuldades impostas através da burocracia não apenas atrasam a ciência mas colocam vidas em risco. Tem criança com epilepsia grave morrendo nesse país por conta de entraves quanto ao uso medicinal da cannabis, um absurdo total. Que eu saiba comos o primeiro grupo a de fato fazer uma pesquisa clínica com algum psicodélico, com excessão de estudos com ayahuasca, que não é proibida. Espero que não tenhamos muitos entraves, mas já temos verba no orçamento para cobrir despesas com advogado para o processo de importação.

– No caso específico do MDMA, qual seria a importância dessa droga no tratamento do estresse pós traumático, que é o objeto da campanha? É uma condição comum? Como ela é tratada hoje em dia e por que melhoraria com MD?

A violência urbana no Brasil é epidêmica e os números muitas vezes superam os de regiões em guerras declaradas. Estudo da UNIFESP com a população de São Paulo e Rio de Janeiro mostrou que 90% da população dessas capitais já passou por eventos traumáticos, como assaltos, roubos, sequestros, violência sexual, tiroteios, entre outros. Destes, 10% preenchem os critérios psiquiátricos de Transtorno de Estresse Pós Traumático (TEPT). Portanto são miilhares de pessoas com este sofrimento profundo. Os tratamentos disponíveis atualmente são de baixa eficácia e incluem tomar remédios psiquiátricos diariamente por anos a fio. Isso muitas vezes gera efeitos colaterais e agrava o quadro dos pacientes. Muitos cometem suicídio, e portanto o desenvolvimento de um novo tratamento é urgente. Estudo clínico controlado com placebo em pacientes com TEPT grave e resistente aos demais tratamentos mostrou que 83% dos pacientes que receberam a psicoterapia com MDMA melhoraram, contra 25% no grupo placebo. E as melhoras duraram em média 4 anos. O MDMA reduz o medo e a ansiedade e permite aos pacientes reprocessarem o trauma, desassociando a memória traumática do quadro de medo intenso e paralisante. No cérebro esse efeito se dá por redução de atividade neural na amígdala, área que processa o medo, e aumento de atividade no hipocampo (memória) e no córtex frontal (raciocínio).

– Vocês pretendem tratar 4 pacientes em 2016, fazendo “psicoterapia assistida”. O que é isso? O governo pode impedir esse tratamento mesmo com o financiamento da MAPS e o dinheiro do catarse?

Nosso estudo já está aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), do Ministério da Saúde. E essa é a autorização que necessitamos para fazer o estudo. Não há porque o estudo ser impedido. Psicoterapia assistida significa fazer psicoterapia com auxílio dos efeitos da substância. É um modelo novo, que ao invés de depositar a suposta cura apenas no remédio, une o processo psicoterapêutico com a facilitação farmacológica da substância. Ou seja, os pacientes tomarão o MDMA no consultório e ficarão com os terapeutas durante todos os efeitos da substâncias. Durante este tempo eles ouvem música e permanecem grande parte do tempo com vendanos olhos e fones de ouvido. Quando sentem que precisam de auxilio, chamam os terapauetas, que estão sempre na mesma sala, e inicia-se um período de diálogo e psicoterapia. Assim vão alternando-se períodos introspectivos com os efeitos do MDMA e da música com períodos de psicoterapia. O protocolo inclui 3 sessões de psicoterapia preparatória sem MDMA, 3 sessões com MDMA e 9 sessões de psicoterapia integrativa sem MDMA, 3 após cada sessão com MDMA. Portanto é um processo de tratamento que leva uns 4 meses no total.

– A partir daí quais seriam os outros passos pra legalizar a pesquisa científica psicodélica no Brasil? Quais outros ganhos seriam possíveis para a população? Ha exemplos de outras pesquisas similares em curso ou feitas em outros países?

A pesquisa científica não é proibida, mas o uso terapêutico ainda não é regulamentado. O principal objetivo desta campanha é incluir o Brasil em um estudo internacional com objetivo de regulamentar a terapia com MDMA até 2021. Tratar 4 pacientes em 2016 é o primeiro passo, que nos permitirá participar do estudo internacional fase III, a última etapa necessária para regulamentação de medicamentos. Os outros países já envolvidos incluem EUA, Canadá, Suíça e Israel.

– Pelo que diz a página do catarse esse projeto é coordenado por você mas conta também com uma equipe de colaboradores, pode falar um pouco mais sobre eles e que papel terão?

A pesquisa inclui um time de ponta, tanto no aspecto científico como clínico. O corpo clínico inclui os terapeutas Alvaro e Dora Jardim, de goiânia, e o médico Bruno Rasmussen Chaves. São eles que farão a terapia e cuidarão dos pacientes durante todas as sessões. A equipe de pesquisa inclui os Professores Sidarta Ribeiro (UFRN), Luís Fernando Tófoli (UNICAMP) e Dartiu Xavier da Silveira (UNIFESP). A função dos pesquisadores é de ajudar no desenvolvimento do protocolo, que já foi feito, e na análise dos resultados e redação do artigo científico. É uma equipe multidisciplinar especializada neste assunto de várias perspectivas distintas, um trabalho muito rico.

– Por fim, pra encerrar, a campanha é mais um grande exemplo de que se por um lado Estado e estigma só impedem o avanço da paz e de um mundo melhor, por outro as pessoas cansaram de esperar que a mudança venha de cima e vem se virando como podem, corroendo a repressão sem pedir licença nem autorização. Você acha que é por aí, que a mentalidade da sociedade em relação a drogas tem mudado mesmo que os Cunhas e Bolsonaros continuem por aí engordando com nosso dinheiro?

Acho que a mudança virá pelo uso terapêutico. É só ver o que acontece com a maconha. É no contato com pacientes em estado de sofrimento grave que o preconceito começa a ceder. Além de oferecer tratamento a quem está flertando com o suicídio, nossa esperança no longo prazo é fornecer mais evidências sobre o equívoco da proibição. A proibição se efetua por repressão e guerra, e estas são causas do TEPT. O MDMA sendo proibido significa que o governo está optando pela doença ao invés da cura.

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