• Home
  • Quem somos
  • A razão entorpecida
  • Chame o DAR pra sua quebrada ou escola
  • Fale com a gente
  • Podcast
  • Quem somos
  • A razão entorpecida
  • Podcast
  • Chame o DAR pra sua quebrada ou escola
  • Fale com a gente
Abril 23, 2018

Seminário Check!n Viseu: o que está sendo discutido sobre drogas em Portugal

Coluna da Isa Bentes*

No último dia 12 de abril aconteceu, no auditório do campus universitário do Instituto Piaget de Viseu, um seminário promovido pelo Check!n Free Mind, um projeto português que cria espaços em festas para informar e apoiar o que eles denominam de “gestão dos prazeres e riscos”.

A tônica do seminário foi a dimensão de uma política que trata de realizar testagens de substâncias psicoativas para conhecer sua pureza e, portanto, dimensionar os danos possíveis que podem vir a acontecer, assim como sugerir práticas de consumo seguras. Este serviço de drug-checking existe há 12 anos em Portugal, tendo a cidade do Porto como pioneira nos testes.

É a primeira vez que participo de um seminário sobre drogas genuinamente desde que cheguei a Portugal. Não posso deixar de falar do meu espanto quando penso nos debates com relação ao Brasil, e tenho cada vez mais certeza de que estamos defendendo o óbvio há tempos. Mas também percebo que temos uma visão extremamente idealizada sobre as políticas voltadas para a atenção de comportamentos aditivos que são implementadas aqui em Portugal. Por mais que tenha sido pioneiro, a sensação é que parou-se no tempo em relação aos avanços necessários que se exige de tais políticas de descriminalização. Além da exigência da expansão de grupos de drug-checking que operem para além de contextos festivos, as salas de consumo seguro têm sido outra pauta relevante e presente no debate luso sobre drogas.

26757864_963480210470304_1681580784194256191_o

A mesa de abertura, que contou com representantes institucionais do Instituto Piaget, APDES, Câmara Municipal e SICAD, em nenhum momento sequer ouviu-se expressões sobre a volta ou a necessidade da manutenção da repressão, segurança pública, militarização. Não. Esse debate, ao que parece, no trato das drogas, já foi superado há tempos e está guardado nos fundos da gaveta da inquisição da proibição. Fala-se em direitos humanos e saúde, expansão da autonomia e do cuidado com os usuários e usuárias, compreendendo o uso de drogas como algo pertencente ao campo do desenvolvimento pessoal do sujeito.

Algo a ser destacado nos serviços de drug-checking foram os resultados apresentados pelos grupos do Check!n, de Portugal, e do Energy Control, da Espanha, sobre as testagens realizadas nas substâncias psicoativas. Partindo de uma explicação metodológica e procedimental acerca das testagens, foi mostrado que os adulterantes presentes nas drogas submetidas às testagens eram de níveis elevadíssimos, sendo por vezes indetectável a substância que inicialmente fora pensada ser. O caso mais exemplar é o da cocaína, que, dentre anfetaminas e anestésicos em geral, sua composição era ínfima em uma nuance de substâncias de outras naturezas presentes. Isso aponta para uma ideia de que mesmo em contextos de descriminalização não há segurança na composição química das drogas, compreendendo que só a regulamentação de toda a cadeia produtiva pode resolver tal questão.

Na audição pública, ocorrida em dezembro 2017 no parlamento português, uma questão colocada reforça essa ideia, em que foi dito que “a descriminalização resolveu em parte o problema apenas do sistema carcerário, mas o problema que atinge diretamente o usuário ou usuária ficou deixado no campo das expectativas”.

Entretanto, projetos como estes expõe a fragilidade do discurso sobre a natureza das afirmativas de que as drogas matam: em um sistema de descontrole, o que mata é o desconhecimento que se tem sobre o que se está consumindo. É uma caixa de pandora a cada pastilha, papel ou pó que se coloca pra dentro do organismo, e que a estratégia da gestão dos prazeres implicados nos serviços de drug-checking são gretas abertas dentro do proibicionismo comprometidos de fato com a atenção à saúde e aos cuidados dos usuários e usuárias de drogas.

19477692_856216727863320_1298373279725607235_o

Acabei por integrar o último debate, sobre gênero e drogas, onde compartilhei a mesa com duas companheiras que pesquisaram sobre mulheres em contextos da noite, em perspectivas que colocavam por um lado a incorporação do discurso que culpabiliza as mulheres pelas violências sofridas por elas próprias e, por outro lado, o momento da noite e do empoderamento vivenciado por elas nos contextos festivos. Me coube trazer para a comunicação a dimensão do feminismo como estratégia de cuidado e redução de danos, acúmulo este feito pelo Bloc Feminista da Marcha da Maconha de São Paulo.

Compreender como os danos da proibição recaem sobre as mulheres é chave da herança histórica que doutrinou, e doutrina, nossos corpos e comportamentos, e o feminismo é isso: é entendido como nosso meio de sobrevivência coletiva e de resistência.

*Isabela Bentes é socióloga pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Mestra em Sociologia pela Universidade de Brasília e integrante do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre psicoativos. E-mail: isa.bentes@gmail.com

Comments

comments

Nos ajude a melhorar o sítio! Caso repare um erro, notifique para nós!

Recent Posts

  • NOV 26 NÓS SOMOS OS 43 – Ação de solidariedade a Ayotzinapa
  • Quem foi a primeira mulher a usar LSD
  • Cloroquina, crack e tratamentos de morte
  • Polícia abre inquérito em perseguição política contra A Craco Resiste
  • Um jeito de plantar maconha (dentro de casa)

Recent Comments

  1. DAR – Desentorpecendo A Razão em Guerras às drogas: a consolidação de um Estado racista
  2. No Grajaú, polícia ainda não entendeu que falar de maconha não é crime em No Grajaú, polícia ainda não entendeu que falar de maconha não é crime
  3. DAR – Desentorpecendo A Razão – Um canceriano sem lar. em “Espetáculo de liberdade”: Marcha da Maconha SP deixou saudade!
  4. 10 motivos para legalizar a maconha – Verão da Lata em Visitei um clube canábico no Uruguai e devia ter ficado por lá
  5. Argyreia Nervosa e Redução de Danos – RD com Logan em Anvisa anuncia proibição da Sálvia Divinorum e do LSA

Archives

  • Março 2022
  • Dezembro 2021
  • Setembro 2021
  • Agosto 2021
  • Julho 2021
  • Maio 2021
  • Abril 2021
  • Março 2021
  • Fevereiro 2021
  • Janeiro 2021
  • Dezembro 2020
  • Novembro 2020
  • Outubro 2020
  • Setembro 2020
  • Agosto 2020
  • Julho 2020
  • Junho 2020
  • Março 2019
  • Setembro 2018
  • Junho 2018
  • Maio 2018
  • Abril 2018
  • Março 2018
  • Fevereiro 2018
  • Dezembro 2017
  • Novembro 2017
  • Outubro 2017
  • Agosto 2017
  • Julho 2017
  • Junho 2017
  • Maio 2017
  • Abril 2017
  • Março 2017
  • Janeiro 2017
  • Dezembro 2016
  • Novembro 2016
  • Setembro 2016
  • Agosto 2016
  • Julho 2016
  • Junho 2016
  • Maio 2016
  • Abril 2016
  • Março 2016
  • Fevereiro 2016
  • Janeiro 2016
  • Dezembro 2015
  • Novembro 2015
  • Outubro 2015
  • Setembro 2015
  • Agosto 2015
  • Julho 2015
  • Junho 2015
  • Maio 2015
  • Abril 2015
  • Março 2015
  • Fevereiro 2015
  • Janeiro 2015
  • Dezembro 2014
  • Novembro 2014
  • Outubro 2014
  • Setembro 2014
  • Agosto 2014
  • Julho 2014
  • Junho 2014
  • Maio 2014
  • Abril 2014
  • Março 2014
  • Fevereiro 2014
  • Janeiro 2014
  • Dezembro 2013
  • Novembro 2013
  • Outubro 2013
  • Setembro 2013
  • Agosto 2013
  • Julho 2013
  • Junho 2013
  • Maio 2013
  • Abril 2013
  • Março 2013
  • Fevereiro 2013
  • Janeiro 2013
  • Dezembro 2012
  • Novembro 2012
  • Outubro 2012
  • Setembro 2012
  • Agosto 2012
  • Julho 2012
  • Junho 2012
  • Maio 2012
  • Abril 2012
  • Março 2012
  • Fevereiro 2012
  • Janeiro 2012
  • Dezembro 2011
  • Novembro 2011
  • Outubro 2011
  • Setembro 2011
  • Agosto 2011
  • Julho 2011
  • Junho 2011
  • Maio 2011
  • Abril 2011
  • Março 2011
  • Fevereiro 2011
  • Janeiro 2011
  • Dezembro 2010
  • Novembro 2010
  • Outubro 2010
  • Setembro 2010
  • Agosto 2010
  • Julho 2010
  • Junho 2010
  • Maio 2010
  • Abril 2010
  • Março 2010
  • Fevereiro 2010
  • Janeiro 2010
  • Dezembro 2009
  • Novembro 2009
  • Outubro 2009
  • Setembro 2009
  • Agosto 2009
  • Julho 2009

Categories

  • Abre a roda
  • Abusos da polí­cia
  • Antiproibicionismo
  • Cartas na mesa
  • Criminalização da pobreza
  • Cultura
  • Cultura pra DAR
  • DAR – Conteúdo próprio
  • Destaque 01
  • Destaque 02
  • Dica Do DAR
  • Direitos Humanos
  • Entrevistas
  • Eventos
  • Galerias de fotos
  • História
  • Internacional
  • Justiça
  • Marcha da Maconha
  • Medicina
  • Mídia/Notí­cias
  • Mí­dia
  • Podcast
  • Polí­tica
  • Redução de Danos
  • Saúde
  • Saúde Mental
  • Segurança
  • Sem tema
  • Sistema Carcerário
  • Traduções
  • Uncategorized
  • Vídeos