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Outubro 21, 2009

Sobre helicópteros, laranjas e mato

 

 

 

Favela do Jacarézinho

Favela do Jacarézinho

 

Os fatos que se desenrolam nas favelas do Rio de Janeiro essa semana demandam que este coletivo, que se propõe debater a questão das drogas e consequentemente a criminalização da pobreza sobre todos seus aspectos, analise essa situação de forma séria.

Antes de tudo, um exercício de memória, ainda mais num país desmemoriado como o nosso, onde esse fardo parece assolar a sociedade com todo o peso do esquecimento: faz duas semanas que foi publicada neste blog uma notícia sobre dois homens sendo mortos em uma favela. Que homens? Não foi especificado pela brilhante, típica e naturalista reportagem do G1 (da Globo). Que favela? A do Jacarézinho, a mesma que está mais uma vez invadida pelas garras mais truculentas do estado brasileiro e cujo tráfico local foi responsável por derrubar o fatídico helicóptero. O motivo? Três tabletes de maconha.  (Para ler a íntegra da matéria que publicamos em 2 de outubro, clique abaixo: http://coletivodar.wordpress. com/2009/10/02/vitimas-de-uma-razao-entorpecida/).

O saldo até agora foi de 23 mortos (desde ontem, 20/10, quando este texto foi escrito, os números oficiais saltaram para 29 e devem crescer nos próximos dias): 20 (26 agora) suspeitos e 3 políciais (quem conferir a matéria da Folha de São Paulo verá que a manchete é “Morrem 2 políciais em confronto no RJ” ou algo assim. 20 suspeitos não têm nome, não têm categoria, não são nada além de suspeitos. Não são manchete. Podem ser crianças, mulheres, velhos, homens, pouco se sabe. São suspeitos. A única condição que define alguém que vive no gueto. Além disso, outras favelas foram invadidas.

Diante deste quadro, que fazer? Note-se que policiais até agora apreenderam principalmente maconha. Lula, que antes de ser eleito defendia a legalização da maconha, agora diz que legalizar não resolverá o problema do consumo (quantas pessoas morreram neste ano de overdose de maconha? E quantas pelas mãos da polícia ou do tráfico?). Para ele, a saída é mais repressão: “Nós estamos repondo o helicóptero que foi derrubado e queremos colocar um blindado para dar mais possibilidades para a polícia combater o crime no Rio de Janeiro e tentar perseguir e encontrar quem praticou este ato de violência com a queima de ônibus, a morte de pessoas e sobretudo a morte de policiais”. Além do apoio ao nefasto blindado Caveirão, sofisticada máquina de tortura e assassinato no Rio de Janeiro, o que assusta é o “sobretudo a morte de policiais”, valorando o peso de vidas de acordo com a função que ocupam dentro da institucionalidade do estado. O ministro Tarso Genro já anunciou que enviará mais verbas para as forças de repressão. Parece que somente após ou antes de entrarem no poder os governantes desse país resolvem propor medidas razoáveis para lidar com esse problema.  Sai Fernando, entra Fernando, sai Fernando, entra Luiz e o máximo que conseguimos foi uma legislação subjetiva que alivia o consumidor (jovem de classe média, brancos em geral), continua servindo de pretexto para o assassinato covarde de milhares (jovens pobres, negros e pardos em sua maioria), e não ataca de forma alguma o grande capital por trás do tráfico internacional.

José Beltrame, Secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, declarou que o contingente de policiais no RJ subirá de 43 mil para 60 mil. “O que eu queria mesmo é que entendêssemos a queda do helicóptero no último dia 17 como sendo nosso 11 de setembro. E a partir daí houvesse política de segurança, não de governos, mas de estado. Não de um, mas de todos. Sociedade também”, afirma Beltrame. Tal prognóstico assustador revela tanto o estado de guerra civil que vivemos, quanto à possibilidade de incrementar o sentimento de medo, aumentarem torturas e assassinatos. 11 de setembro, mais do que dois aviões em duas torres, foi o início de uma ferrenha ditadura do medo. Sob o pretexto de combater o terrorismo, tudo é permitido pela apavorada população. Não é uma imagem bonita de se evocar como forma de resolução deste complicado conflito.

Enquanto isso, temos 9.179 óbitos registrados como “autos de resistência” – quando a polícia mata um opositor em legítima defesa – entre 2000 e 2009 (até maio), de acordo com o Instituto de Segurança Pública, órgão vinculado ao Executivo Estadual, segundo nos informa artigo de Marcelo Salles. A Polícia do RJ é campeã mundial de letalidade (Rio 2016, já temos a primeira medalha de ouro). Mais polícia com a mesma política só pode significar o aumento proporcional do número de mortes.

No país do esquecimento, onde milhares são assassinados em conflitos no campo, mas não se tolera mexer com laranjas, a questão das drogas continua sendo tratada de forma obscurantista e como tabu, sem mexer nos pilares de sustentação dos interesses de poucos. Apesar da raiz da violência urbana na sociedade capitalista ser anterior à proibição das drogas, sua relação hoje não poderia ser mais imbricada. A legalização interessa ao consumidor, ao dependente, a democracia, ao produtor, a paz, enfim.

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