“Vamos precisar de todas as igrejas e entidades que têm uma polÃtica efetiva de combate à s drogas. A questão da droga no século XXI é muito diferente daquele tempo de Woodstock, que tinha um componente libertário.”
Reproduzimos abaixo um trecho da entrevista concedida por Dilma Roussef – candidata à presidência pelo PT – à revista Época em que ela fala sobre sua posição em relação à proibição do aborto e das drogas.
ÉPOCA – Qual é sua posição sobre o aborto?
Dilma – Nenhuma mulher, feminista ou não, é a favor do aborto. Se você é mulher, consegue imaginar o que o aborto produz numa pessoa, o nÃvel de violência que é. É extremamente distorcida essa questão de falar que fulana ou beltrana é a favor ou contra o aborto. É a favor ou contra o quê? Sou a favor de que haja uma polÃtica que trate o aborto como uma questão de saúde pública. As mulheres que não têm acesso a uma clÃnica particular e moram na periferia tomam uma porção de chá, usam aquelas agulhas de tricô, se submetem a uma violência inimaginável. Por isso, sou a favor de uma polÃtica de saúde pública para o aborto.
ÉPOCA – Alguma mulher próxima à senhora fez aborto?
Dilma – Conheci mulheres que passaram por isso. Amigas minhas fizeram. Todas foram fazer chorando e saÃram chorando. Não conheço uma que não tenha sido assim. Nunca tive de fazer aborto. Apenas, tive uma gravidez tubária.
ÉPOCA – Como a senhora vê a descriminalização das drogas?
Dilma – A droga é uma coisa muito complicada. Não podemos tratar da questão da droga no Brasil só com descriminalização. Estou muito preocupada com o crack. O crack mata, é muito barato, está entrando em toda periferia e nas pequenas cidades. Não vamos tratar o crack única e exclusivamente com repressão, mas com uma grande rede social, que o governo integra. Há muita entidade filantrópica nas clÃnicas de recuperação. A gente tem de cuidar de recuperar quem já está viciado e cuidar de impedir que entrem outros. Tem de cuidar também para criar uma polÃtica de esclarecimento sobre isso. Não acho que os órgãos governamentais, Estado, municÃpios e União, vão conseguir sozinhos. Vamos precisar de todas as igrejas e entidades que têm uma polÃtica efetiva de combate à s drogas. A questão da droga no século XXI é muito diferente daquele tempo de Woodstock, que tinha um componente libertário.
ÉPOCA – A senhora é a favor da repressão mesmo no caso de drogas leves, como a maconha?
Dilma – Não conheço nenhum estudo que comprove que a droga leve não seja o passo para outra. Esse é o problema. Num paÃs com 50 milhões de jovens entre 15 e 29 anos, é complicado falar em descriminalização, a não ser que seja para fazer um controle social abusivo da droga. Não temos os instrumentos para fazer esse controle que outros paÃses têm. A não ser que a gente tenha um avanço muito grande no controle social da droga, fazer um processo de descriminalização é um tiro no pé. O problema não é a maconha, mas é o crack. O crack é uma alternativa à s drogas leves, médias, pesadas. Não é possÃvel mais olhar pura e simplesmente para a maconha, que não é um caso tão extremo nem tão grave.