De norte a sul, a seca assola o paÃs. Dessa vez, não há chuva que dê conta. Então, nem adianta fazer mandinga, dança ritualÃstica ou qualquer tipo de evocação aos céus. É escassez de maconha na praça! Às vÃtimas do proibicionismo e apreciadores da erva, além da expectativa por dias mais verdes, resta uma pergunta martelando na mente, um simples “por quê?â€.
Nas ruas, diversas teorias tomam conta das rodas, que agora não fazem tanta fumaça. Tem gente falando que a seca se deve a uma suposta troca do comando na polÃcia federal. Outros apontam para o fato desse ser um ano eleitoral ou estarmos no perÃodo de entressafra. E ainda existem aqueles que defendem a tese de que o famoso “acerto†entre autoridades e barões do tráfico não esteja lá muito bem acertado.
É complicado comprar uma versão, assim, logo de cara. A suposta troca de comando na PF, realmente, pode ter acarretado nessa intensificação nas buscas, mas o leitor atento, se puxar na memória, vai ver que, de tempos em tempos, a repressão aumenta e grandes apreensões são realizadas, mas o abastecimento sempre continua. Pensando nisso, será que essa intensificação da PF pode explicar a seca? Até hoje, em época de forte policiamento, a oferta de maconha nunca parou, a sociedade sempre deu o seu jeito. O fato de nesse ano acontecerem eleições e as autoridades precisarem mostrar serviço, faz sentido, mas também não se mostra suficiente. Afinal, não existem ocorrências de algo semelhante em pleitos anteriores – aliás, nunca vimos algo parecido, o que elimina o argumento da entressafra – e, como dito anteriormente, frente à repressão do Estado, a sociedade sempre acha uma maneira de romper barreiras, vide o próprio tráfico de drogas ou o contrabando de whisky durante a lei seca americana.
Quanto ao fato de que algumas mãos provavelmente não foram devidamente molhadas, poderia ser uma explicação em âmbito regional. Afinal, em termos de Brasil, muitas mãos teriam que ficar vazias para acarretar em uma escassez dessas. Então o que seria? Algum motivo internacional? É complicado apontar apenas uma causa, o mais provável é que a combinação desses fatores esteja transformando a erva em achado raro. Sobram perguntas e faltam respostas.
Diante desse problema, o usuário, na falta do seu beck, muitas vezes, recorre a outras substâncias para fazer a cabeça. A todo o momento, chegam relatos de gente que está abusando do tabaco ou comprando outras drogas. Com a falta de oferta de maconha, ali, no ato da compra, traficantes oferecem seus demais produtos. Com isso, o consumo de outros alteradores tende a aumentar e, como a maconha é comprovadamente menos danosa ao organismo, para a saúde pública e para o próprio usuário essa seca pode ser mais prejudicial do que aparenta.
Agora, quando a santa maria voltar ao mercado ilegal, é certo que seu preço inflacionará. Assim, o já famigerado 3/1, depois de virar 4/1, pode acabar sendo vendido a 5/1. Absurdo! Mas, se analisarmos a situação, o mais absurdo é a dependência do usuário à s “oscilações do mercado†e possÃveis “acertos†entre autoridades e mega traficantes, para adquirir maconha. Aqueles que já vivem a realidade do auto-sustento apenas assistem o desespero dos menos afortunados, que ainda precisam do mercado negro para obter uma substância. Portanto, essa seca pode – e, ao nosso ver, deve – ser encarada como mais uma motivação para que a luta por um mundo menos proibitivo e mais libertário continue.
Para descontrair, além de comentários sobre o texto, deixem também relatos e sugestões de como vocês estão enfrentando a seca cannabica.