O PrincÃpio Ativo é um coletivo antiproibicionista de Porto Alegre, há muito tempo na linha de frente da luta por redução de danos e por uma outra mentalidade que paute a polÃtica de drogas no Brasil. Quando formamos o nosso humilde DAR, o pessoal do PrincÃpio já era referência, até o “Coletivo antiproibicionista de SP” no subtÃtulo do nosso blog foi inspirado no antigo site deles. E agora eles estão com um belÃssimo novo portal, o que em São Paulo se costuma chamar de “patronagem”, realmente muito bom, confiram: o conteúdo de qualidade de sempre (e agora com mais atualizações) aliados a uma forma muito boa de navegar.  Além de indicar o novo portal, remetemos a esse ácido e sensato post:
RESUMO:
Há algum tempo atrás, um artigozinho vergonhoso “contra as drogas†fora evacuado no meio acadêmico brazuca. Embora pesquisadores da Associação Brasileira de Estudos de Ãlcool e outras Drogas (ABEAD) tenham assumido a responsabilidade pelo atentado, o Observatório Esporádico de NotÃcias Surreais do coletivo PrincÃpio Ativo nunca descartou uma provável conexão com a máfia dos leitos.
Acompanhe agora & em detalhes, neste blog, a revisão do infame artigo “Crack – redução de que danos para crianças e adolescentes“, uma triste amostra do baixo nÃvel da pesquisa sobre drogas no paÃs.
Confira, também, nossas dicas sobre como prevenir sua inteligência e paciência destes verdadeiros flagelos sociais.
INTRODUÇÃO:
1- Tentando jogar pra sua torcida (a de ovelhas), o autor do artigo pegou a onda do pânico moral sobre crack. Ponto para ele.
2- Ao construir sua argumentação, o artigo informa que o crack é uma droga fumada que vai para o pulmão (e não para o fÃgado ou para o ombro esquerdo, como certamente devem pensar os pesquisadores que não fazem parte da ABEAD).
3- Mais adiante vimos que, para o dito pesquisador, nenhuma polÃtica de prevenção poderia “deixar†[sic] que ninguém usasse droga alguma. Notamos aqui, no artigo, a falta de dados empÃricos que apontassem para exemplos de experiências de repressão que tenham dado certo – pelo menos nos últimos 4.429 anos.
4- De repente, a medieval teoria da “porta de entrada†ressurge das cinzas. Além disso, o autor desconsidera totalmente que dar um dois possa fazer diferença justamente ali, onde o remedinho não funciona pra conter a fissura.
5- Depois disso, informa-nos o artigo de que o crack libera uma tal de dopamina não-importa-onde e que, por isso, têm um “grande potencial aditivoâ€.
6- Por fim, culminando toda sua erudição num golpe de mestre, utiliza-se o pesquisador de um rebuscadÃssimo método comparativo para alertar-nos do poder destrutivo do crack, afirmando que a tal dopamina, durante o uso, consta como “seis vezes mais alta do que a obtida [sic] no prazer sexual“.
Este último cálculo é especialmente revelador. Pra essa turma, “prazer sexual†é algo que, além de ser obtido, também pode ser medido. Assim, não fica tão difÃcil pensar em qual laboratório eles costumam obter seus dados.
Foto: pesquisador da ABEAD,
flagrado durante o processo de coleta de dados.
DESENVOLVIMENTO:
Redução de Danos têm a ver com estratégias de saúde que não consideram quem usa drogas como necessariamente pessoas que deveriam ser internadas ou presas. A máfia dos leitos costuma ver tudo isso como um grande perigo. Eis que aqui nosso manequim da ABEAD, para dizer que a Redução de Danos “não funcionaâ€, descreve a RD da seguinte maneira:
“(…) ensinem [sic] ao adolescente usuário de crack a conviver melhor com os apetrechos de uso, criar ‘vÃnculo emocional’ com o seu cachimbo, e que priorizem [sic] a produção de cartilhas que orientem [sic] o adolescente a como usar de modo “seguro†álcool e outras drogas [sic], dificilmente podem ser consideradas benéficas para um indivÃduo em fase de maturação cerebral [sic]“.
Não vamos entrar no debate sobre em qual “fase de maturação cerebral†uma pessoa deve se encontrar para concordar com o texto. O que nos chama atenção é: desde quando isso que o autor descreve é considerado como Redução de Danos? Segundo fontes oficiais, a RD “é uma diretriz de trabalho do SUSâ€. Segundo nossas fontes informais, a RD “funciona porque o pessoal entra na roda na humildadeâ€.
Na verdade, distribuir receitas para usos seguros de drogas seria uma contradição com a RD, pois as estratégias da Redução de Danos são construÃdas junto com quem usa. Não são “orientaçõesâ€. Desorientadas são só as pessoas que levam a sério um artigo evacuado desses.
Se para a pesquisa da ABEAD, Redução de Danos é isso mesmo, é porque não cumpriram com o dever de casa. Viciaram o olhar desde a escolinha da graduação, onde aprenderam (com seus amigos representantes de laboratórios) que o negócio da saúde é ganhar dinheiro sem passar trabalho.
CONCLUSÃO:
Se é óbvio que crianças e adolescentes usando crack por aà têm uma série de questões tão ou mais problemáticas do que a presença da droga em si (e o próprio autor do artigo arranha esta questão), bem, não é internando e dopando que vamos resolver as causas dos problemas. Se o crack não existisse, elas estariam gastando seus pulmões e neurônios (infelizmente) atrás de um outro remédio antimonotonia qualquer. Dizer que o crack é perigoso e que portanto “abordagens sociais como distribuição de panfletos†não funciona, é TERGIVERSAR. Abordagem social, antes de mais nada, é aquela não se cria de cima pra baixo.
A Redução de Danos nunca foi e nunca será algo reduzido a “distribuição de insumos e receitinhas de boloâ€, a não ser somente de acordo com a limitada compreensão de certos especialistas sobre o que signifique promover saúde.
Por isso, invertemos a pergunta para ABEAD e sua turma: defendendo a guerra policial nas comunidades, promoção de que saúde, para as crianças e adolescentes que usam crack?