Ricardo Fontão de Pauli
Médico Veterinário e Neurocientista
rfdepauli@gmail.com
No último mês de Abril, mais um caso de violência chamou a atenção da sociedade. Em Lages, cidade localizada na serra de Santa Catarina, um jovem de 20 anos, filho de pais de classe média alta, cometeu um crime que chocou todo o Brasil. Ele confessou ter assassinado a facadas a mãe e a irmã de 11 anos que era portadora de SÃndrome de Down. O jovem, chamado Gustavo Henrique Waltrick, disse à polÃcia que era viciado em maconha e que estava sob efeito da droga durante o crime e por isso teria resolvido assassinar a famÃlia.
É freqüente a associação de crimes ao uso de substâncias psicoativas. O último caso público teria sido o assassinato do cartunista Glauco, lÃder religioso e fundador da igreja Céu de Maria, vinculada ao Santo Daime. O perfil psicótico do assassino foi traçado quando Carlos Eduardo, conhecido como Cadu, confessou ter matado a tiros Glauco e seu filho Raoni e demonstrou frieza e falta de arrependimento frente à s câmeras. Também filho de pais de classe média alta de São Paulo e freqüentador da igreja Céu de Maria, Cadu era usuário de maconha e outras drogas. Este fato levou uma grande parte da população pensar que o comportamento de Cadu foi decorrente do vÃcio pelas drogas.
Estes dois exemplos são apenas a ponta de um imenso iceberg, já que situações semelhantes ocorrem há tempos e constantemente em todo Brasil. Portanto, é papel da sociedade como um todo refletir sobre o tema.
Qual é a relação de drogas com a violência? Será que o uso de drogas causa a violência ou é a violência que leva ao uso de drogas? Será que um baseado pode fazer com que uma pessoa cometa um crime tão bárbaro como um assassinato?
DROGAS X VIOLÊNCIA: Uma visão neurobiológica
A relação entre violência e drogas é extremamente discutida, mas a questão que muitos cientistas buscam solucionar cai naquele velho paradigma: quem nasceu primeiro? O ovo ou a galinha? Pois bem, para isso é necessário que entendamos um pouco a neurobiologia das drogas, ou seja, a forma como as drogas atuam no cérebro.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), droga é toda substância natural ou sintética capaz de alterar uma ou mais funções do sistema nervoso. Como conseqüência, a droga é capaz de alterar os sentidos e exacerbar ou inibir comportamentos pré-existentes à caracterÃstica pessoal de cada indivÃduo. De acordo com os seus efeitos, as drogas podem ser classificadas como estimulantes (cafeÃna, cocaÃna, anfetaminas), depressoras (álcool, heroÃna, benzodiazepÃnicos) e perturbadoras (maconha e alucinógenos em geral como o LSD, chá de ayahuasca, chá de cogumelo, peyote, etc). Portanto, é provável que todos nós, ao menos uma vez na vida, experimentaremos drogas, seja ela uma xÃcara de café, um copo de cerveja, um cigarro ou até mesmo uma substância ainda considerada ilÃcita.
Todas as drogas ativam um mecanismo de recompensa cerebral, ou seja, quando usadas promovem algum tipo de prazer. Este sentimento de prazer ocorre porque as drogas ativam um conjunto de neurônios que liberam uma substância chamada dopamina. Este conjunto de neurônios forma a via mesolÃmbica, também conhecida como a “via do prazerâ€. Sempre que o indivÃduo sente prazer esta via é ativada. Portanto, quando vencemos um jogo difÃcil, quando fazemos sexo, quando comemos uma comida gostosa, existe a ativação desta via. A via mesolÃmbica é formada por neurônios que partem de uma região do cérebro chamada de área tegmental ventral, e que se comunicam com outros neurônios no núcleo acumbente. Além disso, estes neurônios se ramificam e se projetam para outras áreas do sistema nervoso incluindo o córtex pré-frontal (porção mais frontal do cérebro).
Mas se jogos, comida e desafios diários estimulam esta via, por que tantas pessoas ainda procuram drogas?
Isso se deve principalmente pela intensidade de ativação da via mesolÃmbica. Vamos supor que um gol decisivo para seu time do coração ser campeão de um campeonato libere um valor X de dopamina no núcleo acumbente. Em outra situação, o uso de uma droga libera um valor 10X de dopamina no núcleo acumbente. Ou seja, as drogas promovem uma maior estimulação da via mesolÃmbica, quando comparada a uma situação de prazer natural.
Adicionalmente, existem diferenças quanto ao padrão de ativação desta via, de acordo com o tipo da droga e da forma como ela é utilizada (via de administração). Por exemplo, a via mesolÃmbica será mais estimulada quando uma pessoa cheirar uma carreira de cocaÃna do que quando tomar uma xÃcara de café, no entanto a estimulação será ainda muito maior se esta pessoa injetar cocaÃna na veia (via endovenosa). Usuários de heroÃna relatam que o primeiro uso da droga se assemelha a um orgasmo, tamanha é a intensidade do prazer quando a droga é injetada. No entanto, diferente do que ocorre no orgasmo, cuja duração é muito breve, o efeito da heroÃna perdura por muito mais tempo. Outra comparação interessante é o efeito do crack em relação ao efeito da cocaÃna. Ambas são cocaÃnas, no entanto para fazer a pedra de crack é feita uma mescla de cocaÃna e bicarbonato de sódio. Portanto, as duas drogas atuam no sistema nervoso da mesma forma, no entanto, elas são utilizadas de forma diferente. No caso da cocaÃna, a droga é absorvida por pequenos vasos sangüÃneos presentes nas narinas, assim, a droga atinge os grandes vasos e chega ao cérebro, desencadeando o efeito da droga. Já o crack é fumado e não cheirado, dessa forma é o pulmão que permite o acesso desta droga à corrente sanguÃnea. No pulmão, a quantidade de vasos sanguÃneos é muito superior à quantidade presente nas narinas, isso faz com que a droga alcance os grandes vasos e o cérebro em quantidades maiores e mais rapidamente. Portanto os efeitos cerebrais decorrentes do uso do crack serão mais intensos que os efeitos da cocaÃna.
Além disso, algumas drogas em diferentes doses possuem efeito paradoxal, ou seja, em doses pequenas geram um comportamento, mas quando a dose é aumentada este comportamento se contraria. Este é o caso da maconha, que em pequenas doses causa ansiólise (diminuição da ansiedade), mas quando o uso se prolonga e a dose de ∆9-THC inalada aumenta o resultuado é um efeito contrário, ou seja, tem um efeito ansiogênico (aumento da ansiedade).
Adicionalmente, sabe-se que após o uso continuado de uma droga, o estado de intoxicação é seguido por um estado de depressão e angústia. Isto ocorre porque o uso crônico da droga promove uma série de adaptações na via mesolÃmbica, que por sua vez culminam no desajuste da mesma. Este processo é denominado de alostasia da via mesolÃmbica.
A via mesolÃmbica, em seu estado normal, apresenta certa intensidade de ativação (ativação tônica). No entanto, em decorrência do mecanismo de alostase, a atividade tônica da via mesolÃmbica está abaixo do normal quando o dependente não está sob o efeito da droga. Este fato faz com que eles busquem a droga principalmente para normalizar o tônus da via mesolimbica, em outras palavras, no dependente, o uso da droga é tanto em decorrência do prazer como do alÃvio da angústia que a mesma proporciona. Dessa forma, é fácil deduzir por que um dependente pode deixar de realizar tarefas cotidianas (trabalhar, estudar, namorar) para limitar-se ao uso da droga, ou até mesmo usar a droga como estÃmulo para realizar tarefas diárias (ter que cheirar cocaÃna para ir trabalhar, por exemplo).
Por outro lado, sabe-se também que a simples ativação da via mesolÃmbica não é uma condição suficiente para o desenvolvimento da dependência de drogas. Isso fez com que os neurocientistas pesquisassem outros mecanismos que explicam de forma mais convincente o fenômeno da dependência. Uma caracterÃstica marcante na dependência de drogas é que mesmo após um longo perÃodo sem o uso da droga, uma simples recaÃda é suficiente para a pessoa voltar a usar a droga de forma compulsiva. Esta caracterÃstica sugere que exista uma relação direta entre aprendizagem e memória com a dependência. Surge então a hipótese que a dependência de drogas poderia ser decorrente de alterações dos mecanismos fisiológicos da aprendizagem e memória. Com esta hipótese, faz sentido o porque de uma pessoa que sempre usou drogas em uma determinada situação (reunião com os amigos, por exemplo), quando vivencia situações semelhantes, relatam desejo de utilizar-las novamente. Embora importante para a neurobiologia da dependência, prefiro não entrar em maiores detalhe sobre esta hipótese, visto que sua relação com violência não é conhecida.
COMO ENTENDER A VIOLÊNCIA???
Em meados do século XIX, um acidente na cidade de Vermont nos Estados Unidos abriu portas para muitos estudos em comportamento humano. Phineas Gage trabalhava em uma empresa que fazia manutenções de estradas de ferro. Ele era benquisto por todos que o conheciam e ótimo chefe de famÃlia, portanto tido socialmente como um homem normal. No entanto em 1848, após uma explosão no local onde trabalhava, uma barra de ferro perfurou seu cérebro na região do córtex pré-frontal. Por incrÃvel que pareça, Gage sobreviveu ao ferimento e sem seqüelas aparentes voltou a sua vida normal. Contudo, com o passar do tempo ficou claro que Gabe não era mais a mesmo de sempre. Ele se tornou indiferente, frio e frequentemente era vÃtima de ataques de ira, se comportando de forma inconseqüente frente à s pessoas que conviviam com ele. Sua vida fora tomada por brigas, bebedeiras e acabara desempregado. Desde então, o caso de Gage foi um marco nos estudos na área da violência e após muitos anos os neurocientistas descobriram a associação do córtex pré-frontal com atos violentos e imorais.
O córtex pré-frontal é a região do cérebro responsável pela tomada de decisão e controle dos impulsos e por conta disso freqüentemente é chamado de “freio socialâ€. Pacientes com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) possuem esta região hipoativa, o que explica o comportamento precipitado, inconseqüente e anti-social comumente visto nestes indivÃduos.
Além do córtex préfrontal, a amÃgdala (também conhecida como “coração cerebralâ€) é importante no comportamento agressivo. Podemos pensar na amÃgdala como o centro emocional e o córtex pré-frontal como o centro executivo. Ambos se encontram hipoativos em psicopatas, explicando o porque destas pessoas serem incapazes de sentir emoções positivas como o amor, a amizade, a alegria, generosidade, solidariedade, etc. Vale ressaltar que os psicopatas ou pessoas violentas não possuem lesões na amÃgdala ou no córtex pré-frontal, como no caso de Gage. Além disso, pessoas com lesões nestas regiões por tumores, hemorragias ou traumas são indiferentes para com os outros e consigo mesmas, tornando-se incapazes de se adaptar ao ambiente de trabalho e familiar. Por outro lado, psicopatas podem ter uma vida aparentemente normal, apenas com pequenos traços de imoralidade. Pessoas desse tipo podem ser bem sucedidas, mas são geneticamente ou neurobiologicamente predispostas a serem agressivas ou indiferentes para com outras pessoas.
ONDE DROGAS E VIOLÊNCIA SE ENCONTRAM???
Na literatura, muito se discute sobre a relação entre drogas e violência. Ao discutir e refletir sobre esta relação deve-se considerar tanto os efeitos diretos e indiretos que possam estar envolvidos. Ou seja, é necessária a abordagem dos aspectos farmacológicos da droga e o efeito da mesma sobre o comportamento (efeito diretos) e também as questões do meio social que favoreça o comportamento agressivo de um indivÃduo (efeitos indiretos).
Quanto aos efeitos diretos, a relação entre drogas e violência é diferenciada por três situações: intoxicação (efeito farmacológico da droga), neurotoxicidade (danos causados pelo uso prolongado da droga) e efeitos da abstinência (comportamento induzido pela ausência da droga após um uso prolongado).
A primeira delas é a Intoxicação, que é caracterizada pelo uso agudo de uma droga (intenso e em grandes quantidades). A intoxicação causa quatro efeitos diretamente relacionados à violência: efeito psicomotor das drogas, alteração da ansiedade (ansiólise ou ansiogênese), aumento ou diminuição da sensibilidade à dor, alteração da capacidade cognitiva e do controle dos impulsos. Estes efeitos variam de acordo com a droga, dose utilizada, via de administração e o estado psicológico ou emocional antes do uso. Sobre a questão da neurotoxicidade, sabe-se que as drogas em geral são capazes de promover morte de neurônios ou então comprometer seriamente a arquitetura do mesmo. Com isso a comunicação neuronal fica prejudicada, o que leva ao mau funcionamento do cérebro. Está bem documentada na literatura a existência de atrofia de regiões corticais, e até mesmo sub-corticais, com o uso de estimulantes (cocaÃna, anfetamina, ecstasy), álcool e inalantes (cola, solventes). Vale ressaltar que a maconha compromete o funcionamento de várias regiões do sistema nervoso (entre elas a amÃgdala e córtex préfrontal). No entanto este efeito não é decorrente de toxicidade neuronal e sim de inibição do funcionamento dos neurônios destas regiões. Pesquisas recentes mostraram que componentes presentes na maconha (incluindo o ∆9-THC, componente responsável pelos efeitos psicoativos da planta) são neuroprotetores em modelos animais de derrame cerebral vascular, epilepsia do lobo temporal, traumatismo crânio-encefálico, Mal de Parkinson e Mal de Alzheimer. Além disso, vários canabinóides apresentam ação antitumoral em gliomas e neuroblastomas. Por fim, talvez o fator mais associado com a violência em um dependente de drogas seja a sÃndrome de abstinência. Sabe-se que no funcionamento normal da via mesolÃmbica, existe uma determinada estimulação tônica do córtex pré-frontal, tônus este essencial para o controle adequado dos impulsos. Por outro lado, em um dependente que se encontra em abstinência o tônus desta região está comprometido, em decorrência do processo de alostase da via mesolÃmbica. Logo, as decisões impulsivas e impensadas ocorrem de forma significativa. Isso pode explicar por que um dependente de crack rouba dinheiro de sua própria mãe para conseguir comprar a droga.
Mediante o exposto, torna-se claro que o mau funcionamento de determinados circuitos neuronais, principalmente córtex pré-frontal e amÃgdala são responsáveis pelo comportamento agressivo associado ao uso de drogas. Este mau funcionamento é decorrente de um processo de adaptação do sistema nervoso frente à presença contÃnua da droga, processo este denominado alostase. Adicionalmente, a alostase esta diretamente relacionada com a intensidade de estimulação da via mesolÃmbica, que vai depender da droga e de como ela é utilizada. Fumar crack promove uma alostase mais intensa da via mesolÃmbica quando comparado à cocaÃna cheirada ou à maconha fumada.
CONCLUINDO…
Definitivamente EXISTE uma relação entre drogas e violência. Esta relação esta presente quando o indivÃduo está sob o efeito da droga, mas também em abstinência.  Além disso, outros fatores neurobiológicos como a personalidade e/ou conduta do indivÃduo, bem como a existência prévia de transtornos psiquiátricos (como ansiedade e depressão) influenciam de forma significativa a ocorrência da violência. No entanto, não podemos nos limitar estritamente à análise neurobiológica, já que os fatores sociais e ambientais têm um papel crucial no ser como um todo. Além disso, estes fatores são capazes de alterar de forma significativa o funcionamento do sistema nervoso, podendo em muitos casos desencadear distúrbios de ordem neurobiológica. De acordo com os proibicionistas, a luta contra as drogas indiretamente colaboraria para o controle da violência. No entanto a violência gerada pelo proibicionismo é indiscutivelmente maior que a gerada pelas drogas. A proibição permite que o mercado negro se arme e com isso a violência só tende a piorar. Adicionalmente sabe-se que a legislação anti-drogas atual está apresentando pouco impacto sobre o consumo destas drogas.
Segundo o último levantamento domiciliar sobre uso de drogas psicotrópicas no Brasil, publicado em 2005 pelo CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas), houve um aumento no consumo de drogas de 2001 para 2005. A porcentagem de pessoas que usou pelo menos uma vez na vida uma droga aumentou de 19,4% para 22,8% (Maconha – de 6,9% para 8,8%, BenzodiazepÃnicos – de 3,3% para 5,6%, Estimulantes – de 1,5% para 3,2%, Solventes – de 5,8% para 6,1% e CocaÃna – de 2,3% para 2,9%).
Se isso não bastasse, a necessidade do usuário ter que manter contato com traficantes para conseguir sua droga, pode, de certa forma, despertar a curiosidade por drogas de maior efeito. O córtex pré-frontal de um usuário em abstinência está hipoativo, logo suas decisões serão impensadas. Neste sentido, esta pessoa poderá experimentar outras drogas sem pensar nas conseqüências deste uso.
O problema da relação entre drogas e violência só vai ser minimizado quando forem adotadas polÃticas públicas que priorizem o dependente em sua essência. A melhoria das condições sócio-econômicas como um todo (englobando desde urbanização à educação) e uma atenção especial para a saúde mental (visando a prevenção, detecção precoce e tratamento adequado de diferentes psicopatologias) são medidas essenciais para a resolução deste problema. Embora o efeito de tais medidas não gerar efeitos imediatos, seu impacto a médio e longo prazo além de incontestável sem dúvida nenhuma será sustentável.
Definitivamente, a polÃtica atual contra drogas precisa ser revista. A idéia de internação compulsória para todos os usuários de drogas é impraticável e neurobiologicamente impactante. Tirar usuários de crack da rua e colocar num centro de recuperação não irá fazer com que estas pessoas abandonem o uso. No primeiro contato com o crack, estes usuários “lembrarão†inconscientemente do efeito da droga, levando-os à fissura e à busca pela droga. Por outro lado, este comportamento de ansiedade e angústia gerado pela abstinência será reduzido se medidas de redução de danos forem adoradas. Neste caso, a droga será retirada de forma gradual ou substituÃda por outra de menor impacto na saúde mental do paciente. Esta atitude visa respeitar as alterações neurobiológicas decorrentes do uso crônico da droga, no entanto o que vemos é cada vez mais iniciativas para punir o dependente, e não tratá-lo.
Para saber mais…
STAHL S.M. Psicofarmacologia – Bases neurocientÃficas e aplicações clÃnicas. 1 ed. Editora Médica CientÃfica, Rio de Janeiro, 1998.
HOAKENA, P.N.S., STEWARTB, S.H. Drugs of abuse and the elicitation of human aggressive behavior. Addictive Behaviors, Canada , 2003. bDepartment of Psychology and Psychiatry, Dalhousie University, Halifax, Nova Scotia, Canada