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Maio 04, 2010

Proibição: um negócio malvado

Entrevista com André Dahmer, do cartunista do site Malvados

Em março deste ano, os jornalistas Pedro Nogueira e Otávio Nagoya, também membros do DAR, entrevistaram o cartunista André Dahmer para uma matéria da revista Caros Amigos (ler trecho aqui – se gostar compre e apóie a revista). Papo vai, papo vem, o tema das drogas surgiu. Infelizmente, não pudemos publicar tudo que gostaríamos sobre esse tema na reportagem da revista, por uma limitação de espaço e porque a matéria era sobre quadrinhos (mas quem comprar a revista, irá reconhecer trechos comuns em ambas). Julgamos que seria definitivamente uma pena que palavras tão lúcidas e críticas sobre a questão das drogas não fossem publicadas. Autorizados pelo cartunista, publicamos aqui o que ele tem a dizer sobre o tema, que é muito convergente com o que pensa este coletivo.  Imperialismo, regulação, legalização de todas drogas, proibição da Marcha da Maconha, Indústria Armamentista. Está tudo aí. Bom proveito!

Para situar: havíamos feito uma questão sobre censura e liberdade de imprensa, se havia alguma censura sobre seu trabalho. Ele relatou já ter recebido ameaças de pessoas, mas que seu trabalho nunca foi censurado. A seguir, fica o que rolou de papo dali em diante.

André Dahmer – O que é mais preocupante é a questão da opinião no Brasil. Porque copiamos todo o modelo americano de vida, o consumo, o livre mercado. Mas uma coisa não pegamos: o direito pleno de se expressar. Então existe ainda apologia ao crime como acontece com a Marcha da Maconha. Imagina se nos EUA você não vai poder fazer uma marcha sobre a maconha, sobre o aborto, pelo sexo na rua, você pode pleitear qualquer coisa, as pessoas podem se reunir e tentar mudar a lei. E querer mudar a lei não é apologia ao crime. Então pegamos os piores valores americanos. A ampla liberdade de hoje em dia pode ser condenada por calúnia injuria, difamação. E estou fazendo humor. A lei no final fica na mão do juiz e a marcha da maconha foi um exemplo disso, o pessoal está sendo chamado nas delegacias. A gente está tratando a questão das drogas, há anos, como caso de polícia, então a polícia é militarizada, com armas, carro blindado e helicóptero. Esses dias ficaram assustados porque derrubaram um helicóptero, eu não me assusto com isso, porque é o caminho natural que estamos trilhando.

O Brasil assinou, juntamente com outros países, uns três tratados que tratam as drogas como assunto de polícia, é uma orientação americana, então foi uma escolha dos nossos governantes tratar isso como uma questão de polícia. Quem aplaude isso? Os vendedores de armas! Hoje em dia a questão moral caiu, quem tem 35, 40 anos não vê nada demais em dois moleques fumando maconha na praia. A questão é que os países ricos precisam vender armas. Quando chega ao fim da guerra fria e acaba com a ameaça atômica todo mundo acha que está tudo bem. O AK-47, esse fuzil russo, foi vendido para centenas de milhares, ele provocou vários holocaustos. Os homens das armas não estão interessados em legalizar as drogas. É um caso muito maior do que o dinheirinho que a polícia ganha, ou então a classe média poder pagar para não ser presa.

Eu achava no início que defender a legalização das drogas era uma discussão burguesa de quem queria se drogar, das classes altas, mas sabemos que a droga se democratizou entre as classes baixas. E quem sofre mais com o problema das drogas são os pobres, que são marginalizados, morrem primeiro, inflam as cadeias, e com o agravante desse sistema penitenciário debilitado. Então se estamos vendo as penas alternativas por pequenos furtos ou porte de pequenos quantidade de drogas é porque a situação é insustentável. Se o FHC está falando agora para legalizar as drogas, então estamos muito atrasados nesse debate. Se um cara como FHC acha que isso passa por um debate de saúde pública então estamos atrasados uns 20 anos.

Só existe esse caminho, acho que tem que legalizar. A cocaína também, você compra cocaína com controle do Estado. Eu prefiro que o Estado venda a cocaína e cobre imposto, do que fique na mão do zé galinha, o dono do morro. Temos agora esse problema de crack no Rio de janeiro e em São Paulo e você não imagina como vai subir o número de latrocínio, o roubo seguido de morte, daqui a dois, três anos. Na Mangueira, hoje em dia você vê espantalhos andando pelo rua, que são pessoas mortas-vivas.

DAR – Com o crack? Justamente uma droga que surge da proibição.

André Dahmer – É claro, e é uma questão de saúde pública. O Gabeira, apesar dos rumos que vem tomando, disse uma coisa bem interessante. Ele disse que a gente não vê os caras da Kovak descendo de uma Kombi e matando os caras da Orloff. Isso porque é legalizado, paga imposto, se eles tiverem alguma divergência de concorrência desleal eles vão para o tribunal. Se é clandestino não vai resolver nada, vai alimentar essa estrutura perversa, para continuar a vender arma.

DAR – Recentemente você publicou uma tirinha abordando o tema das drogas, você costuma trabalhar com o assunto?

Foi uma tira que substitui a maconha pela jujuba, dizendo que estava proibida. Isso trata a questão do açúcar que é uma droga, ou então do café, do álcool ou do tabaco, que são drogas legalizadas. Eu sou tabagista, mas se eu quiser parar de fumar existem remédios no mercado, posso ligar pro telefone do governo e eles vão me orientar. É uma questão de maior urgência, você não pode deixar que aconteça uma guerra civil no Rio de Janeiro e achar que o que resolve é a polícia pacificadora, que é um nome engraçadíssimo pra polícia do Rio de Janeiro.

DAR – Cria-se um paralelo engraçado, se essa é a polícia pacificadora, então como chamam a outra polícia?

André Dahmer – Pois é, deve ser a polícia de mau humor, o tal do BOPE. Mas esse é um paralelo com o carro ecológico, como que funciona a força da palavra, como as pessoas conseguem manipular a palavra para tocar um projeto político, ou construir a imagem de uma empresa, ou a imagem de um estado.

DAR – A tirinha que me referi é uma com diversas pessoas no celular e uma dizendo: “cuidado, maconha vicia”.

André Dahmer – Pois é, a questão da maconha, que está quase sendo legalizada com apoio de FHC e outros chefes de estado da América do Sul. A maconha é só a maior das distorções, pois você sabe que o tabaco e o álcool matam. As mortes diretas e indiretas relacionadas ao álcool, como brigas de rua, atropelamento, é um holocausto liberado. Acho que tem que ser liberado mesmo, o cara tem que ter a opção e até ter ajuda se ele quiser. Acham que tem que legalizar primeiro a maconha, mas eu acho isso um atraso, tem que legalizar tudo. O Estado não tem o direito de dizer, ‘seu corpo é meu”. Não pode dizer, “você não pode comer coco”, eu não gosto de comer coco, mas quem gosta não deve ser preso por comer e não deve ser preso, ainda mas se ele comer como e não operar nenhuma máquina, agora se ele atropelar alguém, porque tava doidão de tanto comer coco, deve ser julgado por uma lei mais dura, pois assumiu o risco de comer coco e dirigiu. Lógico que eu to fazendo graça, mas é um assunto sério, análogo à questão do aborto, o corpo é meu, não é do estado.

DAR – Na tirinha você mostra a dependência da sociedade pela tecnologia. Como você trabalha com essa questão?

André Dahmer – Estamos no tempo da hipercomunicação, essa que chamam de sociedade da informação, mas na verdade é a sociedade da desinformação, porque hoje em dia se você perguntar pra qualquer um como se faz suco de tomate, as pessoas não sabem fazer. Faço a analogia com o alimento, pois é a maneira mais clara de mostrar isso, as pessoas não sabem mais comer, chegamos em um momento da industrialização da comida que as pessoas perderam a relação com a comida. Que sociedade de informação é essa em que você não sabe o mal que está fazendo essas porcarias que vendem para nós nos supermercados. Não é de se estranhar que os casos de câncer estão aumentando assustadoramente, enterrei recentemente um amigo com um caso raro de câncer de estômago e ninguém sabe explicar o porquê. E a gente não pode discutir isso, pois a única informação que interessa é a que gera lucro.

DAR – Os transgênicos entram nessa discussão?

André Dahmer – Olha, hoje quem come tomate para combater o câncer vai morrer de câncer, isso é gravíssimo. Essa é a sociedade da desinformação, você vê na televisão que o tomate combate o câncer e na verdade ele está te dando câncer. As pessoas estão muito afastadas da realidade, vivem a vida como se só existissem elas, isso não é uma sociedade da informação. Existe uma diferença enorme entre informação e conhecimento, a informação é uma coisa: “sei que o plástico faz mal pro mundo”, conhecimento é você ter a certeza que tem que parar de consumir dessa maneira. Conhecimento é você adquirir consciência e ter a percepção de que você faz parte de algo maior.

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