MAURICIO FIORE
ESPECIAL PARA A FOLHA
Estimativas apontam que as apreensões conseguem retirar do mercado entre um décimo e um quarto do total de drogas ilÃcitas.Quando aumenta sua eficiência e apreende mais drogas, a polÃcia pode causar um impacto temporário de aumento de preço que, como uma de suas consequências, hipertrofia o lucro de um negócio -o tráfico- cujo principal valor agregado é o risco de distribuição.
Ademais, o preço das drogas no varejo é muito sensÃvel aos rumores, como se viu recentemente em São Paulo e no Rio de Janeiro: falou-se da escassez de oferta de maconha ora atribuÃda à eficiência policial ora a uma mudança de estratégia do comando do tráfico.
De fato, vemos apenas que a apreensão de maconha não cresceu e que é possÃvel encontrá-la no mercado, mas com preços triplicados. Parte desse lucro extraordinário pode ter sido investido na compra de armas e na corrupção policial.
DINÂMICA
Pode-se perguntar se menos drogas no mercado e o decorrente aumento de preço significa menos consumo. O fato é que cada droga tem sua própria dinâmica de consumo. No caso do crack, não obstante a polÃcia ter triplicado as apreensões entre 2007 e 2008, os preços se mantiveram estáveis. Ainda que viessem a subir, muitos dependentes dessa variação grotesca e potente da cocaÃna buscariam alternativas violentas para pagá-lo.
É sim possÃvel que a dificuldade de comprar uma substância possa levar algum dependente a interromper o seu uso, mas as pesquisas indicam que isso ocorre com uma minoria já propensa a fazê-lo.
Há muitos tipos de usuários de drogas e os dependentes não são maioria. Um adulto de classe média, consumidor diário de maconha, poderá aumentar a parcela de seu orçamento dedicada à erva; um jovem que consome cocaÃna nos finais de semana pode, caso não a consiga, optar pelo crack.
Num cenário oposto, o aumento da oferta e a diminuição dos preços, não levariam automaticamente ao aumento do consumo: nos últimos 25 anos, o preço da cocaÃna despencou cerca de 80% nos EUA, mas o consumo diminuiu no mesmo perÃodo.
REFLEXO NOS PRESÃDIOS
Não se pode esquecer, por fim, que essas apreensões culminam em mais presos para se juntar à massa de quase 90 mil que cumprem pena por tráfico, crime que mais tem contribuÃdo na superlotação dos presÃdios.
Os resultados pÃfios alcançados pelos esforços louváveis da polÃcia em cumprir uma lei cujo objetivo anacrônico é enfrentar o problema das drogas pela sua erradicação nos levam a pensar em alternativas mais realistas.
Seguir os norte-americanos e reforçar a proibição à s drogas não é uma delas: com mais de um trilhão de dólares gastos nos últimos 40 anos, aquele paÃs figura nas primeiras posições de consumo e, no caso da maconha, de produção de drogas.