Depois do Neip enviar uma nota ao jornal Folha de S.Paulo refutando parte da posição de Rafael Guimarães dos Santos, publicada em resposta a polêmica entre neurocientistas e o fundamentalista Ronaldo Laranjeira, agora o próprio Rafael escreveu ao jornal esclarecendo alguns pontos:
“Em artigo recentemente publicado na Folha de São Paulo (Tendências/Debates, 22/09), me expressei mal em vários pontos. Errei ao escrever: “Também causa estranhamento que este grupo de cientistas [Signatários da Carta], que pretendia iluminar o debate com Laranjeira e Marques, tenha ignorado as evidências fornecidas por dados cientÃficos”; o correto teria sido dizer: “não há ainda suficientes estudos clÃnicos controlados realizados sobre a maconhaâ€. E, em seguida, esclarecer ao leitor leigo que os estudos clÃnicos controlados são ideais, porém não são a única maneira de se verificar a eficácia terapêutica ou aplicação promissora de uma substância, lembrando também que nem todos os medicamentos atualmente consumidos passam por testes clÃnicos para seus diversos usos. Existem outros critérios cientÃficos de observação, e esses são especialmente válidos no caso de uma droga proibida, pois devido à situação de ilegalidade é quase impossÃvel realizar estudos clÃnicos controlados com a maconha in natura. Neste sentido, os Signatários da Carta também estão corretos ao afirmar que existe “evidência cientÃfica†de que a maconha tem potenciais terapêuticos para o tratamento da dependência, e que existem evidências antigas do uso medicinal da maconha para o tratamento da asma.
Outro ponto que ficou pouco claro em meu texto diz respeito à maconha medicinal fumada. A inalação da fumaça, como se sabe, pode ser prejudicial à saúde. Mas, faltou esclarecer que em muitos lugares onde o uso medicinal da maconha é aprovado, se enfatiza o uso oral ou sublingual; embora também exista o uso fumado da maconha medicinal, esta prescinde da fumaça e a inalação não é recomendação médica em nenhum lugar.
Por fim, considerando que este embate entre cientistas ocorre num jornal de grande circulação e dentro de um contexto polÃtico especÃfico, gostaria de deixar clara minha posição neste importante debate público: é imperativa a realização de mais pesquisas na área; as atuais polÃticas proibicionistas impedem o avanço da pesquisa cientifica; é fundamental que seja criada uma agência brasileira para estudos e regulamentação dos potenciais terapêuticos da maconha; o uso medicinal e não-medicinal da maconha e de seus derivados deve ser legalizado; são absolutamente injustas as alegações de Laranjeira e Marques de que o grupo dos Signatários da Carta é “anti-cientÃfico†e representa um “lobby da maconhaâ€.
Rafael Guimarães dos Santos, Doutorando em Farmacologia pela Universidade Autônoma de Barcelona e Pesquisador do NEIP (www.neip.info)”