Entre os dias 22 de outubro e 3 de novembro está rolando em São Paulo um dos mais importantes festivais de cinema da América Latina, a Mostra Internacional de São Paulo. São 467 filmes de muitos paÃses, e entre eles destacamos alguns que dizem respeito à temática das drogas (clicando nos tÃtulos é possÃvel ter acesso aos horários e locais onde eles serão exibidos).
O documentário Os dois escobares, produzido pela ESPN filmes, é sensacional. Traça um paralelo entre as trajetórias do zagueiro Andrés Escobar – assassinado após marcar um gol contra na Copa do Mundo 1994 -, do grande traficante Pablo Escobar e da própria Colômbia, através de muitas imagens de época e entrevistas com diversos personagens importantes, como o “número 2”, a irmã e o primo de Pablo, o ex-presidente Cesar Gaviria, e jogadores companheiros de Andrés como Valderrama e Asprilla. O docuemntário peca por contextualizar apenas a escalada do chamado cartel de Medellin (veja texto do DAR sobre a utilização do termo cartel), ignorando o processo paraelelo e distinto pelo qual passou o “cartel” de Cali: enquanto Escobar buscou a penetração direta na polÃtica e depois atos espetaculares como assassinatos de ministros e polÃticos, os irmãos Rodriguez Orejuela empreenderam uma polÃtica de penetração estatal via corrupção muito mais efeitva, e que marca o Estado colombiano até hoje. Além disso, o filme também toma a proibição das drogas como natural e inquestionável, deixando apenas que suas imagens impactantes mostrem o terrÃvel impacto que ela traz sobre paÃses inteiros, como é o caso da ainda devastada Colômbia. No entanto, é uma obra indispensável não só para os fãs de futebol (que verão lindos gols e muito da sujeira na qual o esporte sempre esteve envolvido) mas para qualquer um interessado em conhecer as nuances da história polÃtica latino-americana, que propicia que uma figura como Pablo Escobar tenha se tornado praticamente uma figura mÃstica para muitos pobres colombianos.
Outro documentário bastante interessante é William S Burroughs: Um Retrato Ãntimo , filme sem grandes inovações formais mas que vale pela história desse escritor, pilar de sustentação do chamado movimento beat, ao lado de Allen Ginsberg e Jack Kerouac. Homossexual, amante das drogas e das armas, Burroughs tem uma história de vida marcada pela contestação aos modelos impostos pela sociedade estadunidense do pós-guerra, e também por dramas pessoais e familiares (numa brincadeira idiota, ele assassinou sua mulher, por exemplo). O documentário traz entrevistas de figuras ligadas ao escritor, como os cantores Patti Smith e Iggy Pop, e imagens de arquivo dele com Ginsberg e com outros grandes nomes da cultura pop, como Keith Richards, Kurt Kobain, The Clash e uma série de outros por ele influenciados.
Partindo para a ficção, provavelmente a melhor obra que trata do tema nesta mostra é Dias Violentos, filme que pode ser indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro pela Geórgia. Dirigido por Levan Koguashvili, o filme mostra com muita felicidade as imensas dificuldades na qual um usuário de heroÃna está envolvido enquanto este comércio é regido pela ilegalidade: acossado por policiais corruptos e pela inconstância do mercado, o protagonista nos traz a angústia de uma dependência regida pela falta de escrúpulos deste senhor da ilegalidade (e da polÃtica), o dinheiro.
Voltando aos documentários, mais dois tÃtulos tratam da temática e prometem ser interessantes: 2012, tempo de mudança , de João Amorim, que busca inserir o uso de psicodélicos dentro de perspectivas mais amplas de transformação de mentalidade, e o suÃço Além deste lugar, que mostra uma viagem de bicicleta entre um velho hippie e seu filho.