Quando o menino João Hélio foi lamentavelmente morto em um assalto no Rio de Janeiro, a indignação da mÃdia brasileira foi grande. A revista Veja, porta-voz da extrema direita, clamava por ação:
Nesta segunda-feira (22), o menino Joel Santos foi assassinado pela PolÃcia de Salvador, uma das mais violentas do Brasil (coincidentemente em uma cidade com grande número de negros). E agora, VAMOS FAZER ALGO, VEJA? Que tal ao menos pensarmos sobre o papel da polÃcia como crimiinalizadora dos pobres, e da proibição das drogas como instrumento deste genocÃdio cotidiano?
Bala perdida mata criança em Salvador; pai diz que pediu ajuda à polÃcia e não foi atendido
O menino Joel da Conceição Castro, 10, morreu no começo na madrugada desta segunda-feira (22), depois de ser atingido por uma bala perdida em uma troca de tiros entre policiais militares e supostos traficantes no Nordeste de Amaralina, bairro próximo ao novo centro financeiro de Salvador. Após ser baleado no rosto, o estudante foi encaminhado para o Hospital Geral do Estado (HGE), mas morreu duas horas depois de receber os primeiros atendimentos.
Em protesto à morte de Joel Castro, dezenas de moradores do Nordeste de Amaralina interditaram uma rua nesta manhã, segundo informações da Superintendência de Trânsito e Transporte de Salvador. À tarde, os vizinhos fizeram novo protesto, desta vez em frente à delegacia do bairro. Cerca de 100 pessoas iniciaram o protesto gritando “polÃcia é para ladrão, não para criança. Queremos Justiça. Quem matou foi a polÃcia”. A delegada Jussara Souza disse que vai ouvir as primeiras testemunhas do crime ainda hoje.
Em depoimento a agentes da 28ª Delegacia, responsável pela investigação da morte do crime, parentes do estudante disseram que ele estava na janela de sua casa quando policiais militares iniciaram uma operação no bairro para reprimir o tráfico de drogas.
O pai do menino, Joel Castro, disse no começo desta tarde que estava no quarto quando ouviu o som dos tiros. “Pedi ajuda (aos policiais) e não fui atendidoâ€, afirma. A mãe do estudante, Mirian da Conceição, afirmou que a polÃcia baiana é “despreparadaâ€. “Eles chegaram atirando.†O secretário da Segurança Pública da Bahia, César Nunes, ressaltou que vai acompanhar pessoalmente as investigações. “Vamos esclarecer tudo.â€
Até à s 13h desta terça-feira (14h de BrasÃlia), a perÃcia não tinha informado se Castro foi atingido por disparos efetuados por armas dos policiais ou dos supostos traficantes. O final de semana foi marcado pela violência em Salvador. De acordo com a polÃcia, 11 pessoas foram mortas _oito, somente ontem_ na capital baiana. Também ontem foram registradas sete tentativas de homicÃdios. No bairro da Federação (centro), quatro inocentes foram baleados durante uma troca de tiros entre dois grupos de traficantes. Com ferimentos leves, todos foram encaminhados e atendidos no Hospital Geral do Estado.
SALVADOR – Os nove policiais militares que participaram da ação de repressão ao tráfico de drogas no bairro de Nordeste de Amaralina, em Salvador, na madrugada de sábado, foram afastados das operações de rua pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia. Na ação, o estudante Joel da Conceição Castro, de 10 anos, morreu atingido na cabeça por uma bala perdida. Até que o inquérito sobre a morte do menino seja concluÃdo, os policiais cumprirão atividades administrativas.
Moradores do bairro acusam o grupo de PMs, que integram a 40ª Companhia Independente, de ter chegado ao bairro atirando e de ser o responsável pela morte. Os policias afirmam que trocavam tiros com criminosos e que os disparos que atingiram a casa onde estava o estudante teriam partido de uma arma encontrada na frente de uma casa no bairro. As pistolas usadas por eles foram entregues à corporação e estão passando por perÃcia.
O enterro do menino foi realizado no inÃcio da tarde de hoje, no Cemitério do Campo Santo, no bairro da Federação, na capital baiana. Cerca de 200 pessoas, entre familiares, moradores do bairro e colegas de escola e do grupo de capoeira que Joel integrava, o Gingado Baiano, promoveram manifestações durante a despedida. Com cartazes, cobraram rapidez nas investigações e improvisaram uma roda de capoeira em frente ao túmulo. Após o enterro, eles promoveram uma caminhada pelo bairro para protestar contra a ação dos policiais.
O pai da vÃtima, o capoeirista Joel Castro, conhecido como mestre Ninha, e os colegas da Gingado Baiano, preparavam-se para uma série de apresentações na Itália, no inÃcio de 2011. No inÃcio do ano, o estudante, junto com o pai, havia estrelado uma propaganda do governo da Bahia, para promover o turismo no Estado.