O Coletivo DAR está iniciando uma parceria com a respeitadÃssima ONG de Redução de Danos É DE LEI, que trabalha com usuários de crack no centro de São Paulo. O seguinte texto é o primeiro relato dessa caminhada.
“Chegaram os meninos de ouro!â€. Assim a equipe de campo do Centro de Convivência É de Lei, formada por psicólogos, cientistas e assistentes sociais e redutores de danos afins, foi recebida ao chegar na zona tabu da sociedade paulistana: a cracolândia.
O trabalho é simples e reconhecido pelos usuários. Com jaquetas e camisetas coloridas e um crachá que os identifica, eles se aproximam. Levam camisinhas, piteiras feitas de silicone e manteiga de cacau com própolis e calêndula. As camisinhas, ajudam a prevenir o HIV e a gravidez. As piteiras tem boa aceitação e são usadas para que os usuários de crack não queimem suas bocas e não compartilhem saliva. A manteiga de cacau ajuda a curar os lábios maltratados pelo metal do cachimbo frequentemente aquecido. Diminuem o contágio de hepatite. Convidam as pessoas a frequentarem o centro de convivência, localizado na mesma região. Lá acontecem oficinas de vÃdeo e debates.
O trabalho é complexo e reconhecido pelos usuários. Com essas pequenas ações, conseguem abrir um canal no insondável mundo da cracolândia. Tem sucesso em, a partir da cultura de uso, ouvir as pessoas que ninguém mais quer ouvir. Conversar e oferecer alternativas. Mostrar cuidado, um outro caminho, buscam soluções para o que parece impossÃvel de mudar.
E a situação não é fácil. São pessoas muita vezes em situação de rua, em óbvia fragilidade fÃsica e psicológica, marginalizadas e estigmatizadas por uma sociedade que perdeu a capacidade de cuidar dos seus e deixa a cargo da polÃcia uma questão que deveria ser encarada de outra forma. O uso do crack, nesse sentido, acaba sendo a cereja do bolo do descaso.
E a forma que o Estado encontrou para lidar com isso poderia ser engraçada se não fosse muito pelo contrário. Os usuários se aglomeram em lugares determinados para usar as substâncias entre os seus. Ficam lá até que chega a PM ou a Guarda Civil, com cassetetes de 1 metro (são realmente espantosos) e empurram geral para uma romaria sui generis. Como numa manifestação silenciosa e abnegada, todos craqueiros saem andando, fazendo sua romaria e “dando áreaâ€. Por alguns minutos. Tão logo as forças do Estado se retiram, recomeça a brincadeira de gato e rato.
Que fique claro que não é pedindo licença que a polÃcia consegue remover temporariamente as pessoas. Abusos de autoridade, violência, jogar o carro em cima, apavorar, bater, chutar são expedientes comuns da corporação que mais cresce em morte e tortura no Brasil.
Mas é possÃvel vislumbrar um caminho. Tanto se você é um usuário como se você é alguém que se preocupa com a questão das drogas no Brasil. O É de Lei faz a gentileza de apontar o trajeto.