É o manicômio do século XXI: sedação, regimes de solitária para os que causam mais problemas, tortura e castigos fÃsicos e psicológicos, tudo isso para resgatar a sanidade daqueles que caÃram nas fendas do vÃcio e da impureza
Coletivo DAR
No último dia 19/12, na Folha de São Paulo, pudemos acompanhar mais um caso de denúncia de maus-tratos em clÃnicas de “reabilitação†de dependentes. São impressionantes as imagens relatadas, os métodos brutais, mas mais impressionante do que esse simulacro de prisão ou de campo de concentração é a reação do dono do estabelecimento: “Denúncia de drogado não deve ser levada a sérioâ€. Um salto qualitativo em relação à Nuremberg: o acusado não lava as mãos falando que apenas cumpria algum tipo de ordem (ou de protocolo, a versão contemporânea do chefe). Não, ele aponta para a questão de que um drogado pode falar qualquer coisa para não se afastar das drogas, não pode então ser considerado como um sujeito razoável capaz de avaliar a própria condição desumana à qual é subjulgado.
É o manicômio do século XXI: sedação, regimes de solitária para os que causam mais problemas, tortura e castigos fÃsicos e psicológicos, tudo isso para resgatar a sanidade daqueles que caÃram nas fendas do vÃcio e da impureza. Pois afinal, tratar um usuário de crack mantendo ele completamente dopado de substâncias vendidas na farmácia parece ser uma boa idéia (um coquetel de Fenergan, Haldol e Diazepan, coisa leve, “recreativaâ€, diriam os defensores da legalização). O problema parece se situar mais na espiritualidade corrompida do jovem, que se entrega ao hábito ilÃcito, do que no fato dele não ter controle sobre o uso do próprio corpo, virtude que se mostra negada à força nesse tipo de clÃnica estilo “Auschwitzâ€.
Como também vimos recentemente numa pesquisa da Fundação Perseu Abramo, os usuários de drogas são, ao lado dos ateus, as pessoas mais odiadas pela população. Isso nos aponta tanto o descaso público com relação a esse tipo de estabelecimento brutal (que são vários, embora a denúncia só tenha revelado um) e também o que leva aos donos e aos profissionais que lá trabalham a aceitarem esse tipo de “propostaâ€.
O drogado, segundo essa lógica, é uma pessoa inimputável, está completamente fora de si em razão da fissura pela droga. Logo, ela deve ser submetida, necessariamente, a coisas as quais ela não vai gostar, a começar pelo afastamento compulsório da droga (saúde nesse caso é sinônimo de abstinência.Das drogas ilÃcitas claro, ninguém liga para um café ou uma cervejinha). Se já não bastasse esse ideal de abstinência, carregado de ranço e proselitismo religioso, os meios de atingi-lo também parecem mais com as cruzadas cristãs, que invadiam, massacravam e pilhavam em nome de Deus.
Ao negar a cidadania ao dependente de drogas, abra-se mão de tratá-lo como humano. Pior, abre-se mão de tratá-lo como alguém que pode necessitar do sistema de saúde como todos os outros cidadãos. A lógica da abstinência coloca-a como a mais imprescindÃvel das prerrogativas até mesmo para o atendimento de saúde. Até que o dependente pare definitivamente e para sempre de usar sua substância (ilÃcita), todos e quaisquer problemas de saúde que ele venha a ter serão em função desse uso, e de nada adiantará tratá-lo, pois a saúde definitiva não pode se distanciar do respeito à s leis. O fascismo não necessita mais de suas figuras carismáticas para impregnar a sociedade de suas idéias e suas metodologias.
Veja vÃdeo e outros links relacionados ao assunto abaixo, com outras denúncias recentes:
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=2xQ2Gn-YhaU[/youtube]
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