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Janeiro 08, 2011

O México mergulha na violência

Der Spiegel, publicado e traduzido pelo Uol

Mathieu von Rohr

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O governo mexicano tem usado o exército para combater os cartéis das drogas do país há quatro anos. Mas não está funcionando. Alguns críticos dizem que o exército é parte do problema, mesmo que alguma missão ocasional remova um chefão. Mas o presidente Felipe Calderón não tem mais ninguém em quem confiar.

Ivana García não fugiu quando dois corpos sem cabeça foram encontrados diante da prefeitura, nem quando um corpo sem braços e pernas foi pendurado em uma praça do centro.

Mas quando um combate estourou na rua diante de sua casa, quando mercenários contratados pelos cartéis das drogas começaram a disparar com seus rifles Kalashnikov de veículos blindados, e quando os combates prosseguiram de casa em casa por horas, como se Ciudad Mier fosse uma cidade no Afeganistão, e não na fronteira com os Estados Unidos, ela não teve escolha a não ser fugir. De fato, quase toda a população, aproximadamente 6 mil pessoas, deixou Ciudad Mier. Quando eles perceberam que não havia ninguém para protegê-los –nenhum governo, nenhum exército– eles empacotaram seus pertences e deixaram suas casas.

Ciudad Mier era um município mexicano discreto no Rio Grande, consistindo de um centro colonial e alguns poucos blocos retangulares de casas. Agora ela é mais conhecida por todo o país como uma cidade fantasma –um daqueles lugares simbólicos que existem por todo o México. Cada uma dessas cidades pode contar a história de um país mergulhando na violência.

Horrível, mas comum

Uma delas é Ciudad Juárez, onde mais de 3 mil assassinatos foram cometidos apenas neste ano, o que a transforma na cidade mais violenta do mundo. Criminosos se enfrentam em plena luz do dia no balneário de Acapulco. No vilarejo de Praxedis, uma mulher de 20 anos se tornou chefe de polícia porque ninguém mais ousou aceitar o cargo. Em uma fazenda no norte do México, um homem de 77 anos atirou e matou quatro homens armados que foram enviados para matá-lo, apenas para ser assassinado pelos demais. Ele foi celebrado como herói.

Relatos horríveis se tornaram comuns na imprensa mexicana. Aproximadamente 29 mil pessoas morreram na guerra das drogas nos últimos quatro anos, e neste ano o número de mortos dobrou para 12 mil. Impressionantes 98% dos crimes cometidos no México permanecem não punidos.

Há quatro anos o presidente Felipe Calderón chegou ao governo prometendo derrotar os cartéis, organizações multibilionárias que fornecem aos Estados Unidos, o maior mercado de drogas do mundo, cocaína, metanfetamina, heroína e maconha.

Calderón mobilizou 45 mil soldados e policiais federais para sua campanha. Não havia ninguém mais em quem podia confiar, incluindo forças policiais locais e governadores. O Exército é sua única ferramenta confiável.

Certamente ocorreram muitas prisões espetaculares. Chefões das drogas famosos foram presos ou mortos, incluindo o líder do cartel “La Familia”, que morreu no início deste mês. Mas esses sucessos enfraqueceram os cartéis das drogas? Há poucos indícios de que este seja o caso.

Inicialmente, muitos cidadãos viam os excessos violentos como um mal necessário. Mas pesquisas de opinião recentes mostram que a maioria agora se opõe à estratégia do governo. Os jornais estão repletos de relatos de sequestros, extorsões e decapitações. Há blogs especializados na publicação de fotos de membros decepados tiradas com celulares.

É fácil imaginar a selvageria com que esta guerra está sendo travada. Mas é mais difícil entender por que a violência não para, quais são suas causas e o que pode ser feito a respeito.

A legalização das drogas poderia ser a resposta, como sugerem alguns especialistas? Ou talvez um maior controle nas fronteiras? Uma nova força policial nacional e uma reforma do governo resolveriam o problema? Ou seria melhor simplesmente deixar os cartéis em paz, que foi a política do governo por muitos anos?

Essas são as perguntas que o México está se fazendo em 2010, o 200º aniversário do início de sua guerra da independência. O cineasta Luis Estrada deu ao seu país um filme amargo em seu aniversário: “El Infierno” (O Inferno). É o retrato de um mundo que consiste apenas de narcotraficantes, prostitutas e corrupção.

“Nós temos um problema nacional, que se chama impunidade”, diz Estrada, um homem de voz suave, óculos e barba grisalha. “As pessoas que quebram a lei não são punidas. Esse é o motivo para muitos acreditarem que não vale a pena ser honesto. Nós mexicanos estamos no inferno, com certeza. Eu apenas não sei em que poço do inferno estamos no momento.”

Um censo de cidades fantasmas

É um dia quente de final de novembro e Ivana García criou coragem para retornar para Ciudad Mier pela primeira vez desde que partiu. Ela caminha pelas ruas abandonadas da cidade que antes era dela, uma mulher de 34 anos vestindo jeans, brincos folheados a ouro e carregando uma bolsa de plástico. O Exército a contratou para contar o número de pessoas que ainda moram na cidade, mas restaram poucas para contar.

Ele ofereceu para ela 700 pesos, ou US$ 55, por semana. Ela teve medo de aceitar o emprego, mas precisava do dinheiro para pagar o preço exorbitante do aluguel de seu apartamento em Ciudad Alemán, a cidade vizinha, onde ela vive agora.

García e outras duas mulheres jovens caminham de casa em casa, batendo às portas que ninguém abre. As poucas pessoas que encontram não têm dinheiro para partir ou são muita velhas. Os questionários que as mulheres levam consigo em pastas de plástico transparentes incluem perguntas sobre renda e a opinião dos moradores restantes sobre segurança. Eles representam uma tentativa desajeitada do governo de demonstrar que ainda existe.

Duas dúzias de soldados acompanham as mulheres, a pé e em picapes armadas com metralhadoras, protegendo as ruas. A maioria das casas por que passam está crivada de buracos de bala. Cães famintos perambulam pelas ruas de terra.

Cerca de 400 pessoas ainda moram em um campo de refugiados na cidade vizinha. Elas estão lá há mais de quatro semanas e a maioria não deseja retornar para Ciudad Mier. Elas dizem que quando o Exército se retirar, em poucas semanas ou meses, a coisa toda recomeçará.

`Alguns Estados me recordam o Afeganistão’

Ciudad Mier fica em um estreito de terra no noroeste do Estado de Tamaulipas, margeando o Texas. É uma das áreas que alguns especialistas comparam a Estados fracassados.

Edgardo Buscaglia, um especialista em crime organizado ligado às drogas, está atualmente trabalhando em Kandahar, Afeganistão. Em uma entrevista por telefone, ele disse que parou de usar a expressão “colombinização” para descrever o que está acontecendo no México. “Atualmente há áreas em alguns Estados que me lembram o que vejo aqui no Afeganistão”, ele disse. Os narcotraficantes controlam 12% do território mexicano, segundo algumas estimativas.

Não existem mais policiais ou prefeitos em grande parte de Tamaulipas e no norte de Nuevo Léon, dois Estados no nordeste do México. Eles foram mortos ou fugiram, e agora os narcotraficantes operam barreiras nas ruas.

Os dois cartéis das drogas que estão em guerra em Tamaulipas eram aliados até um ano atrás: o Cartel do Golfo e seu braço paramilitar, os Zetas. Aqui, o termo guerra das drogas não é apenas uma metáfora para uma série de assassinatos de gangues, como em Ciudad Juárez. Em vez disso, ele descreve uma violência quase militar entre os cartéis, que enviam exércitos de “sicarios” (assassinos) adolescentes para o combate, frequentemente melhor equipados do que os soldados do Exército mexicano.

Um código de silêncio

O prefeito de Ciudad Mier, um homem perfumado que usa sua camisa aberta no peito, está parado diante da prefeitura. Ele diz que não pode dar uma entrevista, caso contrário –ele passa seu dedo pelo pescoço deste repórter para demonstrar o que aconteceria caso o fizesse.

Os cidadãos desta cidade querem falar, mas também querem permanecer anônimos. Sempre houve tráfico de drogas aqui, eles dizem, e os Zetas sempre estiveram no poder. Em uma cidade onde quase não há trabalho para os jovens, os senhores das drogas conseguem atrair recrutas com a promessa de dinheiro rápido, cocaína e garotas bonitas.

Seus palacetes, construídos no estilo ornamental do narcotráfico, com corrimãos dourados e colunas ornamentais, ainda permanecem. Os proprietários fugiram quando os Zetas romperam com o Cartel do Golfo, e atualmente vivem nos Estados Unidos ou na Cidade do México.

Houve uma espécie de desfile da vitória quando o Cartel do Golfo capturou a cidade em 22 de fevereiro. Uma carreata com 60 utilitários esportivos e picapes, carregando homens altamente armados, percorreu as ruas de Ciudad Mier.

Eles mataram cinco policiais que trabalhavam para os Zetas, decapitaram o chefe de polícia e uma traficante, e expuseram os restos mortais na praça da cidade. Depois disso, disseram moradores locais, as novas gangues eram amistosas. Diferente dos Zetas, elas cumprimentavam as pessoas na rua.

Mas o combate ainda não tinha acabado. Em meados de outubro, Ivana García encontrou um Zeta morto na rua. Ela nunca tinha visto o homem. Ele deveria ser um mercenário de outro lugar, ela pensou, um homem jovem trajando calça marrom e com tronco musculoso. Ele estava caído em uma poça de sangue.

Em 2 de novembro, os Zetas voltaram, dirigindo 40 utilitários esportivos com armamento pesado, com canos de armas brotando de suas laterais. A batalha que se seguiu durou dias e noites, matando muitos, provocando a partida dos moradores e a chegada do Exército.

Os soldados que escoltam García enquanto ela caminha por Ciudad Mier seguram seus rifles de prontidão, como se alguém pudesse disparar contra eles a qualquer momento. Eles invadem casas de aparência suspeita. O comandante encapuzado diz que não sabe se todos os bandidos foram expulsos. O governo de Tamaulipas alega que a cidade agora está segura e pede para que a população local retorne para suas casas. No final de seu primeiro dia de trabalho, García contou seis casas desabitadas.

Santos do narcotráfico, dinheiro e garotas

Quase nenhum outro negócio no mundo é tão lucrativo quanto o narcotráfico. A Organização das Nações Unidas estima que são vendidos anualmente US$ 72 bilhões em drogas. A cocaína é a mais lucrativa de todas as drogas. A pasta de cocaína custa US$ 800 por quilo na Colômbia e um comprador em Chicago paga US$ 100 por grama. O preço sobe 12.400% ao longo do caminho. Estima-se que os cartéis mexicanos contrabandeiam 192 toneladas para os Estados Unidos a cada ano.

Há sete cartéis das drogas no México. Apesar das alianças mudarem com frequência, quase todos os grupos têm suas origens em Sinaloa, um Estado na costa oeste do México, conhecido como berço do narcotráfico. A área é lar de Joaquín Guzmán, também chamado de El Chapo, o líder do cartel de Sinaloa. Ele é o chefão das drogas mais glamouroso do mundo, como evidenciado pelo fato de a revista “Forbes” tê-lo incluído na lista das pessoas mais ricas do mundo. (Ninguém, entretanto, tem acesso aos seus extratos bancários.)

Culiacán, a capital de Sinaloa, é a Roterdã do comércio de cocaína, o lugar onde os preços são estabelecidos. Ela fica entre o Oceano Pacífico e as colinas verdes da Sierra, onde agricultores cultivam maconha e a papoula do ópio. Ela é uma cidade de aparência amistosa de 600 mil habitantes, com casas pintadas de branco, apesar de Culiacán ter a segunda taxa de homicídios mais alta do país.

Nos últimos dois anos, El Chapo tem enfrentado seus antigos aliados, os irmãos Beltrán Leyva. É uma guerra de reis, e quando o escritor Elmer Mendoza conta a história, ela soa como uma tragédia grega. Mendoza, 61 anos, é um homem barbado de fala suave nascido em Culiacán, cenário de seus romances criminais. Ele retrata este mundo de modo tão realista que alguns o acusam de ser um narcoescritor.

“Eu ouço estas lendas desde que era menino”, ele diz. “Essas pessoas têm as maiores casas e as garotas mais bonitas, às vezes até mesmo canções são compostas em sua homenagem.” Há um herói folclórico em Sinaloa, Jesús Malverde, que é conhecido como “narco santo”, um Robin Hood que tirava dos ricos e dava para os pobres. Muitos acreditam que El Chapo é sua reencarnação, um herói do povo.

Mendoza diz que o que está acontecendo em seu país é terrível. “Mas como escritor, eu admiro pessoas que fazem coisas extraordinárias. Não há algo épico em transportar uma carga de cocaína de Medellín para Los Angeles?”

Culiacán, Ponto Zero

A guerra de gangues que se originou em Culiacán e posteriormente engolfou metade do país teve início em 21 de janeiro de 2008, quando o Exército prendeu o chefão das drogas Alfredo Beltrán Leyva, conhecido como El Mochomo, em uma casa simples no bairro Tierra Blanca.

Teria El Chapo dado a dica para o Exército? Convencido de que ele o fez, os irmãos Beltrán Leyva trouxeram os mercenários Zeta para a cidade e começaram a matar todos que trabalhavam para ele, incluindo policiais, juízes, políticos e jornalistas.

Essas pessoas acreditavam que El Chapo os protegeria, mas então os Zetas mataram um de seus filhos no estacionamento de um shopping center. “As pessoas começaram a duvidar de seu herói. Elas ficaram com medo”, diz Mendoza. “Isso não é lindo, do ponto de vista puramente literário?”

O escritor se encontra no cemitério de Culiacán, o local de descanso final dos narcotraficantes. O cemitério é uma cidade de mausoléus de mármore com domos, conhecido como Jardines del Humaya. Ele é do tamanho de vários campos de futebol e continua crescendo.

Todos eles estão enterrados aqui, lado a lado –os senhores das drogas e seus rivais, seus filhos e os assassinos de 18 anos que, ao final de suas breves vidas, podiam ao menos bancar certa dose de esplendor. Retratos maiores do que o tamanho natural dos jovens com traços endurecidos estão pendurados nos mausoléus de 10 metros de altura, ao lado de fotos de suas namoradas e suas armas.

Em nenhum outro local em Culiacán o poder dos cartéis das drogas é tão palpável quanto aqui. Este é o templo deles, e qualquer um que profanar seus túmulos pode esperar receber em pouco tempo ameaças de morte de batedores e guardas.

O governo ausente

Por que El Chapo, o mais poderoso dos chefões das drogas, não está na prisão? Ele vive em uma localização secreta há anos. O governo é incompetente, ou está protegendo um cartel? Muitas pessoas com credibilidade acreditam que o governo tem um acordo com o chefão das drogas. Algumas acreditam que ele está tentando solucionar o problema da violência entregando o comércio de drogas para um único cartel.

Em um livro recém-publicado, a jornalista investigativa Anabel Hernández alega que o ex-presidente Vicente Fox permitiu que El Chapo escapasse de uma prisão de segurança máxima em 2001, em troca do pagamento de US$ 20 milhões. Segundo Hernández, o governo Calderón conhece seu paradeiro, mas em vez de prendê-lo, está eliminando seus inimigos.

Há muitos rumores e teorias de conspiração no México. O que talvez seja mais notável é o que as pessoas acreditam que seu governo é capaz. Elas têm pouca fé nas instituições federais, que são fracas. O México é uma democracia real há apenas 10 anos, após ter sido controlado por 70 anos por um único partido, o Partido Revolucionário Institucional (PRI). O PRI protegia o crime organizado, mas também o mantinha sob controle.

O presidente Calderón declarou guerra contra os cartéis, mas carecia das ferramentas necessárias. A polícia é corrupta em quase todos os níveis, e em algumas comunidades é idêntica ao cartel dominante, o que ajuda a explicar por que tantas autoridades municipais são assassinadas. O Judiciário também é visto como corrupto. Não há promotores independentes e acusações nunca são impetradas em muitos casos, porque os processos não são bem conduzidos ou porque os réus compram sua saída.

O Exército é a única instituição em que Calderón pode confiar, apesar da história de Ciudad Mier revelar quão ineficaz ele é. Os soldados podem ocupar um território, mas não podem investigar ou penetrar nas estruturas de um cartel. Segundo o consultor de segurança Alberto Islas, um cartel é como uma empresa de logística com um braço militar. Em vez de investigar as estruturas, o governo acaba se emaranhando em combates com soldados rasos de 18 anos.

Uma `estratégia de decapitação’

O governo não conta com agências de investigação funcionais. O México recebe informações-chave de agências do governo americano como a Administração de Combate às Drogas (DEA). Os americanos fornecem informações ao Exército sobre os paradeiros dos chefões das drogas, permitindo aos soldados mexicanos capturá-los ou matá-los. Essa “estratégia de decapitação” produz relatos de sucesso, mas nenhum sucesso real. Os cartéis substituem rapidamente seus líderes.

O posicionamento em massa das forças armadas também representa uma ameaça à sociedade. Por todo o México, os soldados são acusados de centenas de casos de violações de direitos humanos e tortura, até mesmo assassinato. Os críticos dizem que o grande número de operações militares é responsável pela violência, porque destruiu o equilíbrio e provocou guerras territoriais por todo o país.

O Exército não pode resolver os problemas reais do México –pobreza, falta de educação e governo fraco. A maioria dos especialistas concorda em como o México deve libertar a si mesmo. A única pergunta é se alguém dispõe de poder político para fazê-lo.

O país está longe de ser uma sociedade democrática estável, diz Luís Astorga, um cientista social da Cidade do México. O maior desafio, segundo Astorga, é criar um Estado constitucional forte o bastante para resistir ao poder e dinheiro dos cartéis. Isso exige vontade política não-partidária; mas Astorga diz que os representantes dos três maiores partidos estão todos envolvidos no narcotráfico.

Astorga diz não acreditar que o governo esteja cooperando com um cartel. Mas enquanto não existirem juízes independentes, ele acredita, sempre haverá rumores e especulação.

Muitos anseiam por soluções simples; eles acreditam em um retorno ao tempo em que os cartéis podiam fazer como bem quisessem. Até mesmo alguns políticos importantes dizem de modo privado que o problema é o consumo de drogas nos Estados Unidos, e que é hora de legalizar a maconha. Mas os cartéis estão envolvidos em até 22 outros tipos de crimes, incluindo pirataria de filmes, tráfico de seres humanos e extorsão.

Vanda Felbab-Brown, da Instituição Brookings em Washington, diz que a utilização do Exército foi inevitável, mas o que importa agora é finalmente desenvolver uma força policial funcional. O México tem planos para uma reforma nacional da polícia, mas o progresso é lento.

Edgardo Buscaglia, o especialista em crime ligado às drogas, e sua equipe estudaram 17 países que combateram com sucesso o crime organizado. Ele diz que todos eles adotaram as mesmas quatro medidas importantes.

Primeiro, diz Buscaglia, vem uma reforma do Judiciário. Segundo, leis são necessárias para combater a corrupção na política, porque 70% de todas as campanhas eleitorais no país são parcialmente financiadas por dinheiro das drogas.

Terceiro, o México deve investigar o fluxo dos fundos do comércio das drogas para a economia. Segundo Buscaglia, 78% da economia mexicana estão ligados aos cartéis das drogas.

Finalmente, programas sociais são necessários para os jovens, como demonstrou a cidade colombiana de Medellín. Esses programas visam afastar a atenção dos jovens de uma vida a serviço dos cartéis –uma vida que pode acabar rapidamente.

Retomando o México, com PowerPoint

Há muitas ideias, mas quem as implantará?

Javier Treviño, o vice-governador de Nuevo León, tem um plano que consiste de um grande número de slides de PowerPoint. Ele deseja eliminar a violência em Monterrey, a cidade onde mora, e no Estado que a cerca.

Treviño, um homem de baixa estatura com bigode e óculos, fala inglês com sotaque americano. Ele estudou em Harvard, depois trabalhou como diplomata e posteriormente no setor privado, antes de entrar para a política. Ele é uma das poucas pessoas no México que não perderam a esperança na capacidade da política de moldar o país.

Talvez também seja uma questão de honra para Monterrey, a cidade mais rica do México. Localizada no nordeste do país, a 140 quilômetros ao sul da fronteira americana e cercada por montanhas por três lados, Monterrey lembra uma cidade americana, com suas torres de escritório de mármore e vidro. Muitas das empresas mais importantes do país têm sede aqui.

Foi um choque para os cidadãos ricos da cidade quando, no início do ano, membros dos Zetas e do Cartel do Golfo começaram a trocar tiros em suas ruas. A batalha que estava sendo travada em Ciudad Mier se deslocou para o meio de Monterrey, um centro econômico que sempre esteve imune ao caos de outros lugares no México. Muitos dos ricos deixaram a cidade, ou até mesmo o país –incluindo o publisher do jornal mais importante do país, “La Reforma”, que fugiu para Dallas.

Treviño tem orgulho dos 29 slides de sua apresentação, que ele mostra para todo visitante. Seu plano inclui todos os elementos que os centros de estudos consideram necessários: programas sociais e reforma do Judiciário e do código criminal. O Estado de Nuevo León também criou uma força policial estadual que ele espera que finalmente será limpa e eficaz. Os policiais serão submetidos regularmente a testes com detectores de mentiras. Eles serão bem remunerados para não mais dependerem de propinas; eles receberão bolsas de estudo para seus filhos.

Nuevo León será um modelo para todo o México, diz Treviño. Soa como um plano eficaz. Quem sabe? Pode até funcionar. Assim que for implantado, poderá haver pelo menos um Estado no México com uma força policial funcional. Treviño deseja começar fortalecendo as instituições e a sociedade, e que melhor lugar para lançar esse esforço do que Monterrey, a cidade mais avançada do país?

Ele continua clicando seus slides. O próximo mostra a malha rodoviária do país. Duas das cinco principais estradas no norte estão coloridas de vermelho escuro, o que significa que são seguras para viajar. A meta para 2011, diz Treviño, é tornar as outras três estradas também seguras.

Tradução: George El Khouri Andolfato

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