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Abril 18, 2011

O mercado e as drogas

As drogas são isso. As bruxas de nosso tempo. Quando a Polícia Federal queima não sei quantas toneladas de maconha, sentimos o mesmo alívio que os antigos sentiam com a morte de uma bruxa. “Menos uma”. O mundo ficou um pouco melhor. Amanhã, haverá outras. Mas, hoje, fizemos aquilo que é certo.

Por Jotavê em Luis Nassif Online

A proibição da venda e comercialização de drogas é um problema sério de economia internacional que se reflete, dentro de cada país, num sério problema de lógica. É preciso entender esses dois problemas separadamente.

Do problema econômico, não se conhece ao certo o tamanho. Só se sabe que é gigantesco. Suspeita-se que o giro anual de dinheiro ande pela casa do trilhão de dólares. É muita grana. Grande parte dela fica “empoçada” em paraísos fiscais. Outra fatia vai para o financiamento de políticos. O dinheiro do crime organizado, no século XXI, continua tão funcional e tão integrado ao sistema político quanto o dinheiro da venda ilegal de bebidas durante a Lei Seca.

É um erro, portanto, pensar nas drogas como um elemento estranho,que convive mal com a economia de mercado. Pelo contrário. O mercado é perfeitamente indiferente às leis positivas. Mercado não vai para a cadeia, nem responde a processo. Seus operadores é que, de raro em raro, dançam na mão da polícia. Ele, o mercado, continua ali, impassível, ditando suas próprias leis. A principal delas – a da oferta e da procura – é afetada de modo direto pela proibição, que joga o preço da droga nas alturas. O mercado, comovido, agradece.

Economistas deveriam se debruçar com mais cuidado sobre esse aspecto da questão. As drogas são uma parte importante da economia internacional contemporânea, e não é razoável pensar que a liberação das mesmas – com seus impactos altamente “negativos” sobre o mercado – não fosse causar alguma espécie de prejuízo. A perguntinha é simples: alguém aí consegue imaginar o que aconteceria com a economia se, de repente, tirássemos 1 trilhão de dólares do giro anual de dinheiro?

O problema lógico é mais simples e mais complicado ao mesmo tempo. Fosse uma dessas falácias sutis, que embaralham a vista, seria tudo mais simples. Bastaria escrever algumas linhas mostrando onde é que está o erro, e as pessoas não cairiam mais nessa. Mas, não. O discurso antidrogas está assentado sobre um discurso logicamente tosco, onde nada se cola a nada, onde há o mais completo desprezo por relações de causa e efeito, onde as evidências não parecem desempenhar nenhum papel.

O delírio central da alucinação coletiva é o seguinte: da noite para o dia, multidões sairiam fumando craque pelas ruas. Haveria um colapso no sistema público de saúde. Mais: nossos filhos estariam provavelmente incluídos nessa multidão de malucos imaginários. Acordariam corados, alegres e saudáveis num dia e estariam embaixo do Minhocão no dia seguinte, perdidos para sempre.

O grande problema desse delírio é, como sempre, a confusão entre realidade e ficção. Neste caso, porém, a confusão é mais perversa, pois se dá em dois níveis complementares. Num primeiro momento, a imaginação desenha um futuro catastrófico. Num segundo (e este é mais insidioso, mais profundo), desenha um presente cor-de-rosa. Somos levados a pensar que HOJE nossos filhos não estão expostos a drogas perigosas, como o craque. A verdade é que estão MUITO MAIS expostos do que estariam caso esse tipo de droga fosse distribuída em postos governamentais, em lugares determinados e muito bem conhecidos.

As distorções discursivas são grosseiras, e acabam criando um discurso oficial sem nenhuma aderência aos fatos. Qualquer um que tenha experimentado maconha concorda com a Organização Mundial da Saúde – maconha NÃO VICIA. Causa a tal “dependência psicológica”? Cria um hábito, um costume do qual nos desvencilhamos mais facilmente do que do hábito de comer chocolates ou de tomar Coca-Cola. Se isso é “dependência psicológica”, então, cria. Mas, não nos esqueçamos – é APENAS DISSO que estamos falando.

Aí o jovem escuta o babaca na televisão dizendo (contra todas as evidências) que maconha vicia, e ele(a) SABE que é mentira. Tem dezenas de amigos(as) que saíram daquilo quando quiseram, sem nenhum drama. (Se todo mundo que fuma maconha aos 18 anos ainda fumasse aos 30, a cidade estaria toda perfumada, concordam?) Logo em seguida, o jovem escuta o mesmo babaca dizer, no mesmo tom de voz, que craque também vicia. E não dá a mínima. Se ele mentiu a respeito da maconha, por que não mentiria a respeito do craque, né? Experimentar não deve fazer mal a ninguém. E parte para aquela história de “só uma vez”.

Peguem o montante de dinheiro gasto no mundo para combater as drogas. É muita grana. Pensem no que seria uma campanha internacional HONESTA, martelando dia e noite na cabeça das pessoas as consequências do consumo de DETERMINADAS drogas. Na televisão. Nas escolas. Nas revistas. Nos outdoors. Não é óbvio que os resultados seriam muito efetivos do que têm sido?

“Isso quer dizer que compraríamos maconha no bar da esquina?” Isso mesmo. Quer dizer que compraríamos maconha (mas não craque) no bar da esquina. E daí? Qual é o grande problema que o(a) senhor(a) vê nisso?

Sabe o que não suportamos, de verdade? A morte de um demônio. Demônios são necessários para a nossa estabilidade emocional. Sem os demônios, não teríamos explicações descartáveis para os males que afligem nossas vidas. Teríamos que depender de explicações reais, e estas nem sempre estão dando sopa por aí. Na falta delas, usamos um demônio. As drogas são isso. As bruxas de nosso tempo. Quando a Polícia Federal queima não sei quantas toneladas de maconha, sentimos o mesmo alívio que os antigos sentiam com a morte de uma bruxa. “Menos uma”. O mundo ficou um pouco melhor. Amanhã, haverá outras. Mas, hoje, fizemos aquilo que é certo.

Olhem para a fronteira do México. Olhem para os morros cariocas. Esse é o preço de nossa moderna “caça às bruxas”. Vale a pena continuar alucinando?

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