da revista Vice
por BRUNO B. SORAGGI
Crackeiro é muito troll, gente do céu. Com eles é risos que só — passada a nóia, óbvio. Afinal, não é que os traficantes pegaram todo mundo nessa história de oxi ser mais pesado que o crack, ainda que mais barato (mesmo que com nomes tipo Capitão América e cores várias)? Só que aà a PolÃcia Federal chegou no começo de junho dizendo que “não considera o ‘oxi’ como sendo uma droga nova, e sim uma diferente forma de apresentação da cocaÃna†— tudo baseado em estudos comparativos e seguindo práticas mundialmente utilizadas. Ou seja.
Isso mesmo tendo rolado alguns estudos sobre a tal droga, que chamou atenção também da secretária nacional de polÃticas sobre drogas, Paulina Duarte – ainda que não como epidemia. Enfim, o corta brisa da PF (Nota à Imprensa 054/2011)  começa assim: “Informações recentes de várias fontes sugerem que uma nova droga ilÃcita, chamada de ‘oxi’, estaria se espalhando por todo o Brasil. Ela seria utilizada na forma fumada e seria muito similar à cocaÃna na forma de crack: pequenas pedras de amareladas a marrom-claro. Como foi divulgado pela mÃdia, a cocaÃna na forma de ‘oxi’ seria diferente do crack por este conter sais carbonato ou bicarbonato, enquanto o ‘oxi’ teria cal (óxido de cálcio) e querosene (ou gasolina) em sua formulaçãoâ€. Daà que pegaram 20 amostras de “oxi†apreendidas pela PolÃcia Civil do Acre e outras 23 de cocaÃna caÃdas na malha da PF daquele mesmo Estado. “As amostras se apresentavam como pedras e grumos, com coloração variada (branca, amarelada ou marrom-claro).â€
Tudo levado pro Instituto Nacional de CriminalÃstica, em BrasÃlia, a parada toda foi submetida a várias técnicas da Ciência. “Dentre elas destacam-se a espectroscopia na região do infravermelho, análise termogravimétrica e análises por cromatografia gasosa, acoplando-se detectores de ionização em chamas ou espectômetro de massas e injetores para soluções ou de fase de vapor†— sem esquecer que análises elementares qualitativas também foram conduzidas segundo procedimentos clássicos de via úmida (determinação de cátions, ânios e açúcares), tudo seguindo classificação dos nÃveis de oxidação (refino) realizada através da aplicação de critérios do DEA (Drug Enforcement Administration) dos EUA.
Resultado: “As 23 amostras da PF-AC, todas contendo cocaÃna na forma de base livre, exibiram teores de cocaÃna na faixa de 50-85% (média de 73%), sendo compostas predominantemente de cocaÃna “não oxidadaâ€, isto é, na forma de pasta base de coca. As demais amostras foram refinadas (“moderadamente oxidadas†ou “altamente oxidadasâ€) e se encontravam na forma de cocaÃna base. Para as 20 amostras de “oxiâ€, vindas das apreensões da PC/AC, foram observados teores de cocaÃna na faixa de 29-85% (média de 65%). Dentre elas, 04 amostras apresentavam menores teores de cocaÃna (29-47%) e quantidades significativas de carbonatos, sendo tÃpicos exemplos da cocaÃna na forma crackâ€.
Mais: “Os resultados obtidos por TGA, HS-GSMS e análises qualitativas revelam que não há quantidades significativas de cal (óxido de cálcio) e de hidrocarbonetos (como querosene ou gasolina) nas amostras de “oxi†apreendidas pela PC/AC. Isto é, os resultados deste estudo não confirmam a informação que tem sido vinculada na mÃdia que quantidades significativas destas substâncias teriam sido utilizadas na formulação da cocaÃna “oxiâ€â€.
“Dentre as 10 amostras restantes de “oxiâ€, 07 eram compostas de cocaÃna “não oxidada†e, portanto, classificadas como pasta base de coca (55-85% de cocaÃna nestas amostras) e as últimas 03 amostras eram compostas de cocaÃna que passou por algum refino oxidativo e, portanto, classificadas como cocaÃna base (43-73% de cocaÃna nestas amostras). O único fármaco adulterante encontrado nas amostras de “oxi†analisadas foi a fenacetina, encontrada entre 0,4-10% em 05 amostras da PF/AC e entre 0,4-22% em 07 amostras da PC/AC.â€
E a conclusão foi exatamente aquela, de que não existe uma nova droga no mercado ilÃcito. “O que se observa são diferentes formas de apresentação tÃpicas da cocaÃna (sal, crack, pasta base, cocaÃna base) sendo arbitrariamente classificadas como “oxiâ€, sem que sejam utilizados para este processo critérios objetivos e técnicos. As amostras de “oxi†analisadas neste estudo não podem também ser classificadas como uma “nova forma de apresentação da cocaÃnaâ€, uma vez que os componentes majoritários/minoritários e adulterantes encontrados são os mesmos encontrados nas formas de apresentação usualmente apreendidas para esta droga.â€
Ufa! Agora posso voltar a pensar em ter filhos. Três no total, que já tenho os nomes. Mas diz aÃ: alguém sabe de algum doutor barato e limpinho pra eu desfazer minha vasectomia?
BRUNO B. SORAGGI
IMAGEM: REPRODUÇÃO
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