RJ: abrigo de crianças usuárias de crack tem remédio vencido
Remédios ministrados fora do prazo de validade, prescrições médicas feitas
apenas uma vez por mês, contrariando legislação vigente, ausência de
farmacêutico e nutricionista, além de má conservação de algumas unidades. Estas
são algumas das irregularidades encontradas nos abrigos para onde são levados os
menores usuários de crack apreendidos pela Prefeitura do Rio para internação
compulsória. As informações compõem um relatório divulgado pelo Conselho
Regional de Enfermagem do Rio (Coren-RJ).
A internação compulsória de menores usuários de drogas foi uma medida adotada
pela prefeitura da cidade há três meses, diante do grande número de crianças e
adolescentes nas ruas. Segundo o Coren, no entanto, não há planejamento
terapêutico para recuperar os 85 meninos e meninas abrigados.
O secretário municipal de Assistência Social, Rodrigo Bethlem, foi procurado
através de sua assessoria para responder às denúncias. Uma porta-voz da
secretaria, no entanto, informou que as queixas do Coren são desconhecidas pela
secretaria e só serão respondidas quando houver notificação oficial.
Algumas cartelas de medicamentos controlados encontradas no abrigo Bezerra de
Menezes, que atende cerca de 20 meninas usuárias de drogas, em Guaratiba, zona
Oeste do Rio, estão com a validade vencida desde maio do ano passado. No
banheiro usado pelas internadas há infiltrações no teto e falta água para quem
quiser lavar as mãos.
Ainda segundo informações do Coren, o médico que prescreve remédios e a única
enfermeira que atende nos dois espaços de Guaratiba são voluntários e não
estariam todos os dias nas unidades. “Há uma resolução do Conselho de Enfermagem
que proÃbe uma mesma prescrição médica por mais de 24h. Isto está sendo
descumprido nos abrigos, já que o médico só aparece duas vezes por semana e a
prescrição médica é feita repetidamente, ignorando eventuais alterações do
quadro clÃnico dos pacientes ao longo da administração dos medicamentos”,
explica Wendy Bueno.
Hoje, 85 meninos e meninas estão internados em quatro abrigos. Dois deles
estão localizados em Guaratiba, um em Campo Grande (zona Oeste) e o quarto em
Laranjeiras (zona Sul). Segundo informações da Secretaria Municipal de
Assistência Social, apesar de as crianças não terem aulas nem frequentarem a
escola durante o perÃodo de internação, elas recebem o acompanhamento de um
psiquiatra duas vezes por semana e de uma pedagoga, semanalmente.
No caso dos abrigos dos centros de Atenção à Dependência QuÃmica Bezerra de
Menezes, Manoel Filomeno e Casa Ser Criança, todos são administrados pela Casa
EspÃrita Tesloo, que, segundo a prefeitura, é uma Organização não Governamental,
que mantém uma parceria com a Secretaria.
Apresentando-se como a administradora de uma das casas, Vatusy Ramos nega que
as crianças fiquem ociosas e rechaça também a ausência de profissionais da área
médica. “Há médicos duas vezes por semana e enfermeiras, três. As crianças não
ficam descuidadas. Elas participam de oficinas diárias”, alega.
Nos próximos dez dias, o relatório que aponta irregularidades nos abrigos
será concluÃdo e entregue à prefeitura do Rio de Janeiro. A intenção, segundo
membros do Coren, é contribuir para o aperfeiçoamento da internação compulsória.