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Setembro 04, 2011

Em livro, antropólogo defende menos prisão

Folha de S.Paulo

Escritor prega Justiça restaurativa, na qual Estado se compromete a sanar deficiências

RODRIGO RÖTZSCH
DO RIO

Desnaturalizar a prisão como punição natural para qualquer tipo de crime e corresponsabilizar governos por delitos de alguma maneira estimulados pelo próprio Estado – como homicídios cometidos por policiais no exercício de sua atividade.
São essas algumas das ideias defendidas pelo antropólogo Luiz Eduardo Soares em “Justiça – Pensando Alto sobre Violência, Crime e Castigo”, livro que está lançando pela editora Nova Fronteira. Ex-secretário de Segurança Pública nacional e do Rio, Soares, 57, falou à Folha.

 

Folha – O senhor defende no livro uma Justiça mais restaurativa. Como funcionaria na prática?
Luiz Eduardo Soares –
O livro sugere que a Justiça se torne mais corresponsável pela construção de um futuro melhor do que instrumento de vingança. O Rio tem recordes de brutalidade policial letal. Muitos chegam à polícia com a disposição séria de se tornar bons profissionais, mas são treinados para uma guerra. Não vamos dizer que eles não têm responsabilidade. Mas ela tem que ser compartilhada por quem está há anos tolerando e estimulando esse tipo de coisa.

O sr. acha que a punição apenas por prisão é um modelo ultrapassado?
No passado havia torturas públicas, penas de morte. As punições corporais cederam espaço à privação de liberdade. Mas não devemos nos satisfazer com esse avanço como se tivéssemos chegado ao fim da história. Não é uma solução inteligente, civilizada nem produtiva.

Como explica dados como os de SP, onde o número de prisões cresceu ao mesmo tempo em que caíram índices de criminalidade?
O fato de nós termos ao mesmo tempo dois fenômenos não os torna mutuamente relacionados. A correlação que se verifica é com uma política de repressão às armas e aperfeiçoamento da gestão policial. A prisão pode ser eficiente quando ela tira de circulação criminosos violentos. Mas no Brasil nós temos 8% de esclarecimento dos homicídios dolosos e só 2% de condenados. Quem está preso? Aqueles que se envolvem com o comércio de drogas sem recursos à violência.

O sr. dedica o livro à juíza Patricia Acioli. Como evitar que esse crime se torne rotina?
A juíza era dos poucos magistrados do Rio de Janeiro dedicados a enfrentar o crime no Estado. A resposta ao crime vai apontar as possibilidades do desafio do crime organizado.
Se não passarmos a limpo a polícia, todas as boas iniciativas, como as UPPs, têm pouco futuro.

 

O GLOBO | RIO
JUDICIÁRIO | JUDICIÁRIOPara entender e repensar a Justiça brasileira

Luiz Eduardo Soares analisa sistema judiciário em livro que lança hoje no Riocentro, em debate com Zuenir Ventura

ENTREVISTA
Luiz Eduardo Soares

Depois de chamar a atenção do país para a segurança pública em livros como “Elite da tropa” (Objetiva) e “Meu casaco de general” (Companhia das Letras), o antropólogo Luiz Eduardo Soares lança hoje, na Bienal, “Justiça” (Nova Fronteira), obra em que “pensa alto sobre violência, crime e castigo”. Em entrevista ao GLOBO, Soares discute o livro e antecipa um pouco do debate “O Brasil pode ser mais legal?”, às 20h de hoje no Café Literário com Zuenir Ventura e mediação de Marília Martins.

Cristina Tardáguila

cris.tardaguila@oglobo.com.br

O GLOBO: Por que, depois de tantos anos de estudo, resolveu lançar um livro didático sobre justiça e segurança pública? LUIZ EDUARDO SOARES:
Os sistemas judicial e penitenciário do Brasil deveriam ser assuntos de interesse de todo o país porque consomem milhões de reais dos cofres públicos todos os anos, e o cidadão médio tem direito de querer e deve poder participar de discussões sobre ele. Minha ideia, então, era escrever algo que fosse compreendido tanto por meus pares, que estudam isso há anos, quanto por curiosos de todas as idades.

● Foi difícil fugir de expressões e jargões tradicionais da justiça?
Um pouco (risos). Precisei da ajuda da da Miriam (Guindani, sua mulher) e da Cristiane Costa (editora da Nova Fronteira), que fizeram diversas leituras até darmos com um texto que parece ser de compreensão geral.

● Em “Justiça”, você conversa com um leitor curiosamente super ético, justo e correto que, se realmente existisse, deixaria seu livro sem sentido. Já pensou sobre isso?
Já, mas eu precisava debater o assunto em voz alta com alguém que eu respeitasse plenamente, que não fosse moralmente inferior a mim, com um leitor de boa vontade, com o tipo ideal de ser humano que se espera para o bom funcionamento de um estado democrático de direito, alguém que, sobretudo, acabasse, junto comigo, vislumbrando novos caminhos.

● E quais são eles?
A justiça e a sociedade devem repensar o significado das penas. Há muito tempo não se questiona a existência da tabela de conversão que equipara um tipo de crime a um certo número de anos de cárcere, mas este modelo está voltado para o passado. Não olha para o futuro. Além disso, precisamos trabalhar com a ideia de corresponsabilizar o Estado em alguns crimes e lançar mão com mais frequência de TACs (termos de ajustamento de conduta), envolvendo o infrator na construção de uma cultura cívica.

● É possível um Estado sem polícia, como defendem algumas pessoas?
O fim da polícia é impraticável. Se fôssemos todos éticos, honestos e seguidores da lei como o leitor que criei em meu livro, não teríamos violência física, mas continuaríamos precisando de instituições, juízes, mediadores para dirimir dúvidas oriundas de interpretações diferentes da mesma regra.

● Em “Justiça” você defende que, ao contrário do que parece, o mundo vai em direção às mudanças e que nós nos esforçam os para manter tudo igual. É isso mesmo?
É. O homem tem pavor das mudanças porque elas sempre têm relação com o deixar de ser, com a ideia de morte. Então fazemos uma espécie de complô inconsciente contra ela. Um jovem que chega atrasado às aulas causa estranhamento no dia em que é pontual. Tendemos a colocar tudo e todos em gavetinhas classificatórias, que remetem o indivíduo de volta para aquele lugar sempre, mas precisamos permitir que as mudanças aconteçam porque é possível.

● E você enxerga mudanças no horizonte do sistema judicial brasileiro?
Sim! Elas estão logo depois da esquina. Basta que sejam criados cenários que valorizem o que há de melhor e não ressaltem o que há de pior no indivíduo. Os códigos da boa convivência, do respeito mútuo nos são familiares, bastam ser estimulados. Daí a importância de se assumir o discurso da justiça restaurativa.

● Você dedica “Justiça” a três pessoas: o professor Gildo Marçal Brandão, morto em 2010, à juíza Patrícia Acioli, assassinada há poucas semanas, à política Marina Silva e aos defensores públicos do país. O que eles têm em comum?
São ou foram pessoas em quem acredito. Gildo era meu melhor amigo, um grande estudioso. Patrícia, a quem nunca conheci pessoalmente, era um ponto fora da curva no combate à brutalidade policial. Marina Silva é um tipo de ser humano raro, extremamente honesto com suas próprias convicções e capaz de misturar doçura com rigor e determinação. Já os defensores públicos são um grupo que merece muita atenção. Ainda há estados sem Defensoria, um sinal claro de que o acesso à justiça ainda não acontece da forma igualitária. ■

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