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Outubro 11, 2011

Steve Jobs, do LSD ao LCD

  • Por Renato Cruz

Continuem famintos. Continuem tolos. “Stay hungry. Stay foolish.” Assim Steve Jobs terminou seu famoso discurso a formandos da Universidade de Stanford, em 2005. A frase foi tirada da contracapa da edição de outubro de 1974 do Whole Earth Catalog. Símbolo da contracultura, era catálogo de produtos voltados para um estilo de vida criativo e autossustentável.

Morto na última quarta-feira, o cofundador da Apple fez, como ninguém, a ponte entre a geração de beatniks que se reunia na livraria City Lights em San Francisco e os nerds que deram origem à era digital nas garagens do Vale do Silício. Em 1968, quando estudantes clamavam pela revolução em câmpus universitários de todo o mundo, Jobs tinha somente 13 anos. Mas ele levou a ideia adiante e detonou uma revolução anos depois, ao criar a Apple com Steve Wozniak.

Antes da Apple, quando trabalhava na Atari, Jobs fez uma viagem à Índia, para conhecer o guru Neem Karoli Baba. Lá, adotou o budismo como filosofia de vida. De volta à Califórnia, participou de sessões de terapia do grito no Centro Zen de Los Altos. Certa vez, disse ao jornalista John Markoff que tomar LSD foi “uma das duas ou três coisas mais importantes que fez na vida”.

O telefilme Piratas do Vale do Silício, de 1999, conta a história da criação da Apple e da Microsoft. Numa cena do início do longa-metragem, o ator Noah Wyle interpreta um jovem Steve Jobs, de cabelos compridos e barba, que, numa viagem de ácido, se imagina um maestro que rege o universo.

Jobs se considerava um artista. E exigia que a equipe de desenvolvimento da Apple produzisse arte. No documentário O triunfo dos nerds, criticou a Microsoft com argumentos que não tinham nada a ver com tecnologia: “O único problema com a Microsoft é que eles não têm gosto. Quero dizer de uma maneira ampla, no sentido de que eles não têm ideias originais e não colocam muita cultura em seus produtos.”

Depois do lançamento do documentário, meio que se desculpou: “Só acho que ele (Bill Gates) e a Microsoft são um pouco limitados. Ele seria um cara mais amplo se tivesse tomado ácido uma vez ou ido a um ashram (eremitério hindu) quando mais jovem.”

Diferentemente de Jobs, Bill Gates não cresceu numa cidade da Califórnia, mas em Seattle, ao norte dos Estados Unidos, e estudou em Harvard, na Costa Leste, onde a diversão eram partidas de pôquer, e não viagens lisérgicas.

Precursor. O Whole Earth Catalog era editado pelo escritor Stewart Brand. Não foi à toa que Steve Jobs escolheu uma referência a Brand para fechar seu discurso em Stanford. Brand criou o aforismo “a informação quer ser livre”. Brand trabalhou numa equipe liderada por Douglas Engelbert, que apresentou, em 1968, tecnologias que se tornariam realidade muitos anos depois, como o mouse, a videoconferência e o hipertexto. Em 1985, foi um dos fundadores do serviço The Well (sigla de Whole Earth ‘Lectronic Link), uma comunidade virtual pioneira.

No mês passado, quando recebeu a reportagem do Estado na sede da revista Wired, em San Francisco, o escritor Chris Anderson falou sobre a influência da contracultura no Vale do Silício. “Stewart Brand é um grande amigo meu”, disse Anderson. “O Whole Earth Catalog representava a noção de individualismo, de movimentos de baixo para cima, de autossuficiência e de que as pessoas podem mudar o mundo de uma maneira que as instituições não podem.”

O slogan “Think different” (pense diferente), que foi usado pela Apple há algum tempo, refletia essa postura. A campanha trazia imagens de ícones do século 20, como Albert Einstein, Bob Dylan, Martin Luther King, John Lennon, Mahatma Gandhi, Amelia Earhart e Pablo Picasso.

O famoso comercial de lançamento do Macintosh em 1984 (abaixo), dirigido por Ridley Scott, também procurava passar essa mensagem contracultural. Nela, uma heroína, que representava o Macintosh, destruía uma tela gigante que mostrava o Grande Irmão. Na cabeça dos telespectadores, a imagem do Grande Irmão acabava sendo associada à IBM, que dominava o mercado de tecnologia na época.

Não deixa de ser irônico a Apple ter usado conceitos de cultura alternativa num comercial para ser exibido durante o Super Bowl, final do campeonato de futebol americano, horário mais caro da televisão dos Estados Unidos.

Outros empreendedores de tecnologia tinham raízes na contracultura. Um exemplo é Mitch Kapor. Antes de criar a Lotus Software, em 1982, Kapor foi disc-jóquei numa rádio de rock progressivo e estudioso de meditação transcendental. O nome de sua empresa veio da posição de meditação usada no budismo e na ioga. Kapor criou o software de planilhas eletrônicas Lotus 1-2-3, primeiro aplicativo de sucesso para o IBM PC.

Mesmo assim, Jobs tinha qualidades únicas. Para ele, a técnica servia à estética. O design buscava garantir a melhor experiência. Vai ser difícil substituí-lo, não somente na Apple.

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=HhsWzJo2sN4&feature=player_embedded[/youtube]

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