Marcelo Mora Do G1 SP
Fotos dos panfletos com as ameaças foram postadas em páginas do Facebook por estudantes da USP (Foto: Reprodução/Facebook)
Panfletos com ameaças a usuários de maconha estariam sendo distribuÃdos na Cidade Universitária, na Zona Oeste de São Paulo, por um grupo ultraconservador. Alguns estudantes da USP postaram fotos dos panfletos nas mÃdias sociais, como o Facebook. Nele, há uma foto de um grupo de carecas, alusivo aos skinheads ou Carecas do ABC, tribos conhecidas pelo uso da violência e por serem de ultradireita.
No entanto, a suposta assinatura do documento é do CCC, sigla que significa Comando de Caça aos Comunistas, que surgiu na década de 1960 na Universidade Mackenzie. Em 3 de outubro de 1968, integrantes do CCC entraram em confronto com estudantes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, em episódio que resultou na morte do estudante secundarista José Carlos Guimarães, então com 20 anos, com um tiro na cabeça.
Outros três universitários foram baleados e dezenas ficaram feridos. O episódio entrou para a história como a Batalha da Maria Antônia, em referência à rua, na região central, que serviu de palco para a briga. Os estudantes que iniciaram o movimento contra a presença da PolÃcia Militar, no inÃcio de outubro, após três alunos terem sido flagrados com maconha no campus, foram, justamente, os da FFLCH.No panfleto, o grupo defende o convênio da USP com a PolÃcia Militar, assinado no começo de setembro. “Atenção drogado! Se o convênio USP-PM acabar, nós que iremos patrulhar a Cidade Universitáriaâ€, diz. Outra frase afirma: “Maconheiro: aqui você não terá paz!â€. Em outro panfleto, distribuÃdo conjuntamente, há uma foto do jornalista Vladimir Herzog, torturado e morto pelos agentes da Ditadura Militar nos porões do DOI-CODI, em outubro de 1975, aos 38 anos.
Abaixo da foto, se lê: “SuicÃdio é triste, né?†Ao lado da frase, há uma máscara sorridente. A versão oficial apresentada na época pelos representantes do regime foi a de que o jornalista de origem iugoslava teria se suicidado, utilizando o próprio cinto, como aparece na foto. No entanto, testemunhos de presos na mesma época relataram que ele foi assassinado sob tortura.
Integrantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da USP também ficaram sabendo dos panfletos com as ameaças pela internet. O fato, inclusive, foi comentado na assembleia geral realizada na noite de quinta-feira (17) no prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. “Não vimos nenhum (panfleto) no campus até o momento, mas se houver algum partiu de um grupo extremamente minoritário na USPâ€, disse Renan Teodoro, diretor do DCE, que classificou o material de “mau gosto†e “quase infantilâ€.
No entanto, ressaltou que é uma manifestação preocupante. “Evidentemente que preocupa esse tipo de intolerância, até mesmo na cidade. Temos o exemplo dos meninos da Paulista que foram agredidos com lâmpadas fluorescentesâ€, disse.
A assessoria de imprensa da USP informou que a reitoria não iria comentar o assunto.