por Conceição Lemes
Localizada mais uma vÃtima da violência policial na reintegração de posse do Pinheirinho, ocorrida no dia 22 de janeiro.
É o aposentado Ivo Teles dos Santos, 69 anos (14/02/1942), natural de Ilhéus (BA), RG 27106829-2, que morava sozinho no Pinheirinho, numa região chamada Cracolândia.
Ele  está em coma, entubado, na UTI do Hospital Municipal de São José dos Campos, desde o dia 22 de janeiro.
“O senhor Ivo foi espancado por policiais militares no dia da reintegração de posseâ€, denuncia Renato Simões, conselheiro do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), onde representa o movimento nacional de direitos humanos. “Várias testemunhas viram-no ser espancado, depois ser levado para dentro do Pinheirinho.â€
Neste sábado à tarde, 4 de fevereiro, Renato Simões, o deputado estadual Adriano Diogo (PT-SP) e Antonio Donizete Ferreira, conhecido como Toninho e um dos advogados dos ex-moradores do Pinheirinho, estiveram na UTI do Hospital Municipal de São José dos Campos, onde comprovaram que Ivo está lá mesmo.
Eles, o defensor público Jairo Salvador, os vereadores Amelia Naomi e Tonhão Dutra e Aristeu Neto, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-São José dos Campos, conversaram com dona Osorina Ferreira de Souza (na foto abaixo, de vestido rosa, bolsa cinza) com quem o aposentado viveu durante muitos anos. Ela também morava no Pinheirinho.
“A dona Osorina desmaiou no dia da desocupação, foi parar no pronto-socorroâ€, prossegue Simões. “Só no dia 23, quando foi levada para um dos abrigos da Prefeitura, ela soube que o ex-companheiro tinha sido espancado. Como é muito doente, não teve condições de procurá-lo. Outro ex-morador do Pinheirinho tentou fazer isso por ela, mas não obteve sucesso.â€
No dia 27 de janeiro, ele foi incluÃdo na lista dos desaparecidos. Mas, apenas nessa sexta-feira, 3 de fevereiro, depois de peregrinar por diversos lugares, dona Osorina descobriu o paradeiro do ex-companheiro. Como é sua procuradora, foi ao posto da Previdência Social na cidade. Lá foi orientada a procurar o Hospital Municipal da cidade, onde finalmente o encontrou.
“Por volta das 16 h deste sábado, nós pedimos ao hospital o Boletim de Atendimento de Urgência (BAU), que é onde está relatado como Ivo chegou lá, a direção nos negouâ€, revela Simões. “Disse que só sob ordem judicial.â€
Depois de quase três horas de canseira – mais exatamente à s 18h50 – o hospital entregou apenas um relatório assinado pelo médico de plantão, doutor Luis Carlos Nacácio e Silva, CRM 70-867. O relatório (imagem abaixo) informa que o senhor Ivo teria dado entrada no hospital no dia 22 de janeiro, à s 18h30, com “quadro confusional e crise hipertensivaâ€; a “tomografia de crânio evidenciou AVCH (acidente vascular cerebral hemorrágico)â€.
“Nós não aceitamos esse relatório, queremos o BAU, que descreve as agressões sofridas pelo ex-morador do Pinheirinhoâ€, avisa Simões. “No final da tarde, um policial entrou na UTI, perguntando pelo prontuário do Ivo.â€
Neste sábado, integrantes do Condepe, da Defensoria Pública do Estado, da Comissão de Direitos Humanos da OAB-São de José, o deputado Adriano Diogo (presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa) e os vereadores Tonhão Dutra, Amélia Naomi e Wagner Balieiro ficaram horas no hospital. Eles exigem que o seu administrador, Marcelo Guerra, entregue o BAU.
A recusa do Hospital Municipal, administrado pela OSs SPDM, foi justificada como interferência direta de Danilo Stanzanni, Secretário da Saúde de São José.
Caso a sonegação de informações permaneça, as entidades e parlamentares irão registrar boletim de ocorrência na polÃcia local. A reportagem abaixo, publicada no O Vale, no dia 23 de janeiro, irá junto.
Será que o doutor Nicácio e Silva depois de ler essa matéria de O Vale manteria o seu relatório?
Será que ele sabia que o paciente foi hospitalizado com traumatismos?
Por que não fez qualquer menção no relatório, já que descreve o quadro do aposentado ao dar entrada na emergência?
Supondo que, coincidentemente, o senhor Ivo tenha tido também um AVCH, por que “ignorar†os machucados no relatório, afinal compõem o quadro completo do doente?
Até que ponto a violência sofrida não contribuiu para elevar a pressão arterial do senhor Ivo, favorecendo o acidente vascular cerebral? A hipertensão arterial é um fatores de risco para AVC e ele era hipertenso.
Se não há nada esconder, por que o secretário da Saúde de São José dos Campos interferiu para que o BAU não fosse fornecido à comissão de entidades e parlamentares que o estão requisitando?
Será que o doutor Nicácio deixaria de reportar os traumatismos do senhor Ivo se fosse chamado a prestar esclarecimentos no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp)?