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Março 04, 2012

SP está prestes a proibir consumo de álcool nas ruas

Revista Vice

Assim Dessa Maneira São Paulo Não Aguenta

By Equipe VICE

Vê se te orienta e prepara o saco de pão, que SP pode virar USA. O Projeto de Lei proibindo a pessoa de beber em qualquer rua ou avenida ou praia ou calçada ou parque tá prontinho pra ser votado na Assembleia Legislativa. E com “sanções de natureza civil e criminal” pra quem descumprir. A tábula tá na ordem do dia desde dezembro do ano passado, com aval favorável de todas as comissões competentes e apoio de “personalidades” de tudo quanto é partido, vice-presidente da República, OAB-SP e senhoras cristãs. Fora que o autor e deputado estadual Campos Machado (PTB) já disse ter enviado cópias dos artigos pra presidentes de assembleias de outros Estados do País “para que sirva de inspiração.” E provavelmente fez isso sóbrio.

Dá pra ver a íntegra do PL 767 de 2011 aqui ou aqui. A justificativa que embasa a ideia manda ver nos “mais terríveis acidentes automobilísticios” e “barbáries de crimes violentos” que “todos os dias assistimos nos telejornais e na imprensa em geral”. E segue com papo de oitava economia do mundo, preocupações condizentes com nosso status de nação líder, e cita o Canadá — aquele país pioneiro. “Não se pode ser permissivo quando se trata de bebida alcoólica. O limite é zero”, frisa a argumentação.

Como não sabemos ainda a posição da Bancada Cervejeira, fomos à rua Augusta na noite de terça-feira (ontem) perguntar pra alguns verdadeiros boêmios o que eles acham da história. Papo gostoso versado a goles, quem sabe pelas últimas vezes. Mas já convidamos todo mundo pro dia em que o rolê do findi for se enfurnar e jogar Rock Band.


Ivan Inácio, 20 e Luan Gameiro, 21

VICE: Vocês tavam sabendo desse Projeto de Lei?
Luan:
Não. Mas tô chocado. Pelo que eu vi do que você tá me mostrando não vai poder beber em lugar nenhum, então?

Em “recintos onde se realizarem eventos fechados” pode. De resto vai ter que fazer igual filme americano e esconder em saco.
Luan: Complicado. Eu acho difícil isso passar, até porque tem muito interesse envolvido nisso. Mas aí também tem que dobrar o contingente de policial pra fiscalizar tudo isso… Tem muita gente que consome fora das baladas, a maioria. E eu nem sei como vai ser o reflexo econômico disso. É chato, né?

Mas qual o problema de não poder beber na rua?
Luan: Acho que vai prejudicar muito os…
Ivan: A rua Augusta não vai existir. Vai acabar! Porque o pessoal fica todo mundo na rua – de sábado, domingo, feriado… Até de semana.
Luan: A rua é o lugar de começar, pra depois ir pra balada. Até pra esperar os amigos, conversar. E ir pros lugares. Às vezes você tá em um lugar, quer ir pra outro, pede uma ice ou coisa assim pra ir tomando no caminho. Eu espero que essa lei não passe nunca.
Ivan: Em relação à Rua Augusta é um marco histórico de São Paulo. Tem gente do Brasil inteiro que vem ficar na rua, bebendo, ou nos bares. As pessoas se conhecem por ali.


Lucas Pretti, 28 e Francele Cocco, 27

VICE: Então, o projeto já passou em tudo quanto é comissão. Agora falta votar e ver se o governador…
Ela:
Sanciona! Se for aprovada ele sanciona.
Ele: Eles colocam a saúde pública como uma filosofia, quando na verdade a questão é de cerceamento de liberdades individuais.

Uma das justificativas são os acidentes automobilísticos relacionados à bebedeira do condutor.
Ela: Mas já há responsabilidade legal pra isso, né? Agora vai punir duas, três vezes pelo mesmo delito?
Ele: Tá rolando uma onda gigantesca de conservadorismo. Mas é mais a ideia de cidade pros indivíduos e não pros coletivos… Por exemplo: por quê a Augusta até hoje não é um boulevard? Bota um bonde aí subindo e descendo e só as pessoas. Mas é por causa da opção de uma cidade mais fechada, de indivíduos dentro dos seus carros, com medo das outras pessoas.
Ela: Não é nem só isso. Você pega todas as subprefeituras, é tudo militar aposentado. Associação de moradores? Um bando de reacionários. Criminalizados. E outra: quem disse que eu vou beber e pegar o carro? Essa punição já existe. Agora, eu não poder tomar uma cerveja descendo pra casa porque eu moro ali…
Ele: É muita Disney e Igreja Católica na infância. Vira moralista, certo errado.
Ela: É a mesma história de Diadema, que instaurou toque de recolher.
Ele: Mas a gente tá falando do quê, de índice de violência? É o conceito de cidade. Por que existe uma cidade? Por que as pessoas começaram a morar juntas? Pra trombar gente, pessoas desconhecidas.
Ela: As pessoas estão aceitando muito caladas esse cerceamento de liberdade. E além de aceitarem caladas, acham bom.
Ele: Na verdade a solução pra isso é a desobediência civil. Eu não vou deixar de beber.

Mas vocês acham que a lei passa?
Ela: Eu acho que não. Não é nem pela bondade do indivíduo, mas pelos interesses financeiros por trás. Quem vai fazer o lobby contra são as empresas – eles estão cagando pro que a gente pensa. Não passa pelo ‘defender o direito do cidadão’. Por isso eu acho que não passa.
Ele: Eu fico pensando que vida levam essas excelências. Uma vida chata pra caralho! Sério.
Ela: No apartamento, ou num bar pagando cinqüenta pila num bom drinque.
Ele: Os caras passam 30 anos da vida convivendo com as mesmas pessoas. É isso que eles fazem. Três amigos que vão na casa deles, e é isso que eles fazem. E a gente não quer ter essa vida.
Ela: Você acha? Eles não são quadrados [ela fez referência à farinha].
Ele: Não! E aí tá a hipocrisia do caralho! ‘A segurança dos filhos’.

Pra não mentirmos, depois encontramos um cara favorável ao esquema. “A gente bebe na rua porque é acostumado, mas isso é só o primeiro passo. No futuro talvez nossos filhos não sintam essa necessidade”. Ele, por acaso, com um copo na mão e encostado num carro. Só que não quis se identificar nem tirar foto porque ele e os amigos trabalhavam relacionados a uma empresa de bebidas. Mas foi uma boa conversa de bêbados.

Aí, subindo de volta pra Paulista, encontramos esses dois.


Chico Werton, 26, e Fabiana Andrade, 25

VICE: Você votou no Campos Machado?
Ele: Nem fudendo, mano! [Risos]. Cê tá muito louco, mano.

É que ele propôs um Projeto de Lei que proíbe venda e consumo de bebidas em logradouros públicos e queríamos saber o que vocês acham disso.
Ela: Você tá gravando depoimento bêbados. [Risos]
Ele: Filho da puta! [Risos] Você gravou eu falando nem fudendo? Porra!
Ela: Agora ele gravou o ‘nem fudendo’ e o ‘porra’ [Risos] Mas, OK, vamos falar bonito.

O que vocês acham disso, de de repente você não poder beber na rua amanhã?
Ele: Sério, na humildade, sem tirar ninguém. Vou continuar bebendo! Mas como a do cigarro pegou, acho que essa não pega. Acho que não. Mesmo porque eu posso disfarçar com o saquinho!
Ela: Também acho que vai ser uma fiscalização bem difícil de se cumprir. Vai fazer o quê, fechar a Augusta inteira? Assim, já não tão fazendo a lei pra não vender bebida pra menores? OK, sou super a favor. A gente tá bebendo na rua, meu, mas eu ainda tô no horário, não passou ainda da uma da manhã, o bar ainda tá aberto… Eu não tô cometendo crime nenhum. Quando for lei eu acho que não vai pegar. Não tem como fazer fiscalização. Sei lá. Eu gosto de beber na rua. Só não tô entendendo o porquê dessa lei. Já tem todas as outras, não estou esfregando a bebida na cara de ninguém e incentivando ninguém a beber.

Um dos argumentos é a soma álcool e volante.
Ela: Eu não estou dirigindo, graças a Deus. Mas também não existe metrô suficiente. A cidade não tá bem preparada pra isso. Se a Lei Seca já é difícil de fiscalizar, vai fiscalizar quem tá na calçada bebendo? Vai arrumar coisa mais importante pra fazer.

Já teve um porre memorável na rua?
Ela: Nunca passei mal na rua, graças a Deus.

Mas como você acha que isso afetaria a vida de cidade como cidade?
Ela: Vai fechar estabelecimento, tirar o emprego de muita gente. Ferrar com a vida de muita gente que não tem nada a ver. E os bêbados vão continuar nas ruas.

O engraçado é que tudo isso vem na esteira do Psiu! municipal, artistas de rua non gratos, malha de transporte público insuficiente e cara, manifestações bombardeadas. E outras leis, por acaso, já voltadas pra inibição do consumo de álcool exagerado. Coincidência ou não, também na mesma época em que se discute a permissão ou não de bebidas em estádios durante a Copa do Mundo.

Vai achando que cu de bêbado não tem dono não.

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