Última Instância, Fillipe Mauro
Mesmo após quatro anos marcados por resistência judicial e repressão das forças policiais, um dos movimentos mais célebres em prol da legalização do consumo e do plantio de maconha voltou a buscar recursos para promover manifestações em vinte grandes cidades do Brasil.
A Marcha da Maconha planeja cruzar novamente o paÃs nos próximos meses de maio e junho como forma de reforçar as causas que reuniram em São Paulo, no ano passado, cerca de 700 ativistas. Só para os protestos que ocorrerão na Avenida Paulista, via mais disputada de São Paulo quando o assunto é a promoção de mobilizações sociais, os organizadores calculam uma meta de arrecadação de verbas de R$ 15 mil, que deve ser cumprida em pouco mais de um mês. (clique aqui e colabore com a campanha)
Pela internet, já são 29 os colaboradores, que contribuÃram juntos com R$ 1272,00. Esse montante está sendo arrecadado pelo Catarse, site que abre espaço para que projetos sejam financiados pelos internautas em troca de comissões sobre o orçamento estipulado. O valor será destinado para a aquisição de faixas, tintas, megafones e cartilhas informativas sobre os princÃpios do movimento.
A jornalista Gabriela Moncau, membro do coletivo DAR (Desentorpecendo a Razão) e uma das militantes da Marcha da Maconha, revela-se otimista com a edição 2012 do protesto. Em entrevista ao Última Instância, ela lembrou que o movimento “estava sendo muito reprimido pela polÃcia em 2011â€, mas que, “com o posterior julgamento do STF (Superior Tribunal Federal) em favor da liberdade de expressão, abriu-se espaço para que a Marcha não apenas sobrevivesse, mas também disseminasse seus ideaisâ€.
Questionada sobre algum possÃvel empecilho que ponha em risco a promoção do evento, Moncau é enfática: “a Marcha vai ocorrer de qualquer formaâ€. Seu maior temor dizia respeito à s decisões do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), órgão do Judiciário ao qual ela atribui um caráter excessivamente conservador. Agora, contudo, esse parecer do STF faz com que o grupo tenha “a expectativa de que tudo será mais pacÃficoâ€.
Mais que liberdade de expressão
O ex-secretário nacional de PolÃticas Sobre Drogas e professor da Faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas Pedro Abramovay acredita que a autorização conferida à Marcha da Maconha transcende o direito à liberdade de expressão: “É mais que liberdade de expressão, é exercÃcio de democracia, é fazer uma minoria tornar-se maioriaâ€. A seu ver, o movimento deve muito à decisão do STF, que “tem se revelado bem aberto ao debate e tomou uma decisão históricaâ€.
Abramovay reconhece, contudo, “que o público é ainda muito impermeável a essa discussãoâ€. Ele menciona dados do Ministério da Justiça e enfatiza um crescimento de quase 100% no contingente carcerário detido por conta de drogas. O salto de 60 mil para 117 mil no número de presos por crimes relacionados a entorpecentes o leva a concluir que as autoridades “só prendem pobre e pequeno usuárioâ€.
Em maio do ano passado, houve tensão entre os militantes da Marcha da Maconha, policiais militares e ativistas de extrema-direita contrários a qualquer tipo de flexibilização das normas que regem a venda e o consumo de entorpecentes. As centenas de manifestantes da Marcha foram perseguidas ao longo de cerca de três quilômetros pela PolÃcia Militar, que empregou gás lacrimogêneo e projéteis de borracha para dispersar a multidão.