Por favor, devolva minha cerveja sagrada
Noves fora exigências imorais e ilegais da Fifa, por favor, devolva a minha cerveja sagrada no estádio.
Não podemos pagar eternamente pelos vândalos e pela máfia.
No tempo em que se bebia com o Maracanã lotado, mais de cem mil lá dentro, era tudo menos violento.
Idem no Arruda ou na Ilha de Lost do Recife.
Devolva-me, prezada otoridade.
Sem essa de Copa do Mundo, estou falando em qualquer Bangu x Madureira, qualquer Salgueiro x Araripina, qualquer Bavi da vida, qualquer Sport x Santa, qualquer 4 de Julho de Piripiri x River, qualquer Galo x Tupi de Juiz de Fora.
Rato de arquibancadas desde menino, quando testemunhava as pelejas de Icasa x Guarani no Romeirão, em Juazeiro, aproveito o debate copeiro para exercitar o meu esperneio jurÃdico: devolva a nossa sagrada cerveja gelada.
Nós, os considerados torcedores decentes, não podemos continuar nesse castigo eterno por causa da minoria baderneira. Com ou sem bebida, eles irão aprontar do mesmo jeito –o Estado que ache uma maneira de freá-los e garantir a paz aos homens ludopédicos de boa vontade.
Futebol sem cerveja é uma lástima, não orna, não combina, fica faltando alguma coisa, é namoro sem beijo, Romeu sem Julieta, é como ir a Roma e não ver o Papa.
E quando nosso time anda mal das pernas, Deus nos acuda, como agüentar sem molhar a goela?
Na ascensão ou na queda do nosso onze, urge uma loira que nos socorra, facilita bastante e melhora a qualidade da pelada.
Nesse sobe e desce, nesse Elevador Lacerda que é o futiba, carecemos -mais do que nunca!- das espumas flutuantes, como nos afiança neste pleito o bardo Castro Alves.
Tempo desses houve uma tentativa do retorno do precioso lÃquido em São Paulo.Nada feito, mesmo com um representante de Deus, o padre Marcelo Rossi, como avalista publicitário da causa.
Conhecedor da história, o famoso vigário sabe que a cerveja é invenção dos mosteiros. Por esta razão e com uma ajudinha monetária de cartolas e cervejarias, fez a defesa da bebida. Necas de pitibiriba. Os homens da lei jogaram duro.
Proibir rende votos. Jânio Quadros, que enxugava todas, sabia disso. E está aà o Kassab, a sua versão zero álcool, que copia a mesma onda.
Se um servo de Deus não obteve êxito, como o padre midiático, resta a nós, humildes pecadores, rogarmos às autoridades: devolvam o nosso prazer de testemunhar um jogo decentemente no campo.
Antes uma cervejinha livre do que o câmbio negro que rola em algumas praças. Tem também a máfia dos camarotes Vips que nunca sofreram com a lei seca. Os homens do Morumbi que o digam.
Sem se falar na massa, obrigada a comer toda água do mundo antes do começo das partidas. Ai adentra o estádio chamando Jesus de Genésio. Bronca na certa. Não seria melhor beber aos pouquinhos lá dentro?
O futebol é um engradado de surpresas. Tem algo que combine mais com um jogo do que uma cerveja gelada?