do AtitudeEco
O ano de 2011 foi realmente um marco para o debate sobre a questão das drogas no Brasil. A marcha da maconha era realizada em São Paulo desde 2008, sofrendo leves repressões ao longo dos anos e trabalhando com dificuldade – interna e externa – na tentativa de colocar esse debate sob uma perspectiva mais cientÃfica e estratégica. Argumentos e exemplos não faltam, mas o moralismo continua a ignorar a voz de quem busca uma solução mais pacÃfica ao problema das drogas no mundo.
As marchas de 2009 e 2010 contavam com poucas pessoas na capital paulista, a grande maioria bradando pelo seu “direito†de fumar um baseado sem ser incriminado e encarcerado. A tragédia era prevista. Os cartazes e gritos de guerra faziam apologia ao uso da droga – estive lá para ver – e isso foi o suficiente para instigar a atitude violenta da polÃcia. Organização era apenas um delÃrio e o amadorismo da marcha entregava as fichas do jogo de bandeja.
Em 2011, como previsto, a polÃcia reprimiu com agressividade a marcha da maconha. A violência policial, resguardada por uma justiça frouxa e empoeirada, gerou uma revolta social. Agora esse movimento não era apenas sobre maconha, agora essa marcha era sobre liberdade de expressão. As redes sociais foram inundadas por imagens e textos criticando a atitude do Estado e o debate ganhou força. Criou-se a Marcha da Liberdade e mais de 18 milhões de pessoas em 40 cidades do paÃs aderiram ao protesto. A tragédia se tornou uma oportunidade.
Com a grande repercussão da marcha da liberdade em 2011 o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu resguardar o Art. 5 da Constituição, considerando lÃcitas as manifestações e acabando com as arbitrariedades das instâncias inferiores. Essa foi uma vitória que ninguém havia previsto. Mesmo com toda a cagada desorganização, a marcha da maconha conseguiu liberação para ser executada em todo território nacional. Ainda em 2011 foram lançados os documentários “Quebrando o Tabu†e “Cortina de Fumaça†e o livro “O fim da Guerra“, que contribuÃram significativamente para o debate.
Após um ano de grandes mudanças a marcha da maconha apresenta uma nova perspectiva – muito mais profissional – sobre a questão e está trazendo uma série de iniciativas positivas para toda a sociedade. Os organizadores decidiram lançar uma campanha no Catarse para arrecadar verba para confecção de adesivos, panfletos, cartazes e outros equipamentos de comunicação. Essa ideia por si só é muito bem vinda, demonstrando maior organização e uma abordagem mais impactante nas manifestações.
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Para colaborar com a arrecadação de fundos para a marcha a organização pretende promover uma série de campanhas paralelas. Foi feito um sorteio do livro “O fim da Guerra†e estão promovendo um debate sobre a descriminalização da posse de drogas com José Henrique Torres (Associação dos JuÃzes para a Democracia – AJD), Leandro de Castro Gomes (Defensoria Pública, autor do processo que está no STF), Pedro Abramovay (ex- Secretário Nacional de PolÃticas sobre Drogas), Pierpaolo Cruz Bottini (advogado criminalista, professor da USP) e VirgÃlio Afonso da Silva (advogado constitucionalista, professor da USP).
A marcha da maconha é um exemplo de amadurecimento da organização de protestos. Em 2009 e 2010 não me representava e hoje faço questão de apoiar a manifestação, inclusive financeiramente. O objetivo está claro e o discurso foi incorporado com muito mais seriedade. Dia 19 de maio estarei na Av. Paulista marchando por uma polÃtica de drogas mais consciente e estratégica.