Morto no último dia 27 de março, o escritor Millor Fernandes foi homenageado pela Psicotropicus com a publicação de um artigo seu contrário à proibição das drogas, publicado originalmente no Jornal do Brasil. Reproduzimos aqui o ótimo texto e sobretudo a necessária homenagem. Vida longa ao livre pensar!
Contra a proibição
Sempre defendi os fumantes (como defendo os drogados), mas acho que tudo que se faça pra tirar o charme do fumo (e da droga, quando ela for definitivamente liberada) está certo. Desde proibir publicidade, até botar fotos assustadoras (doenças e deformidades) nos maços de cigarro. Mas essa medida, como tantas outras, é inócua. Pros mais pobres vai aparecer logo camelô vendendo capinha de plástico. Fumantes com um pouco mais de dinheiro vão voltar àquelas antigas e elegantes carteiras de metal.
Mas, tudo bem. O que não se pode é apoiar essa criminosa estupidez que é a Proibição. Quem criou o tráfego e tráfico de drogas, e o mantém, foi, e é, a Justiça, a Lei, a PolÃcia (nessa ordem). Mas, em vez de fotos horrÃveis nos maços de cigarro, peço que aceitem minha velha sugestão, da qual fumante algum conseguirá se livrar. Sempre que botar um cigarro na boca será ridicularizado. Em cada cigarro, bem grande, estará escrito: VICIO IDIOTA.
Por circunstâncias, não por virtude (a virtude também causa câncer no duodeno), jamais botei um cigarro na boca. Paralelamente, acho o cigarro um vÃcio absolutamente não compensador – até pico na veia tem retorno melhor.
Agora, pelo amor dos céus, ministro, nem pense em proibir o fumo. A proibição cria imediatamente, saindo de todos os buracos da sociedade, o conluio polÃcia-traficante-legisladores-juÃzes-prefeitos e todos os demais homens honrados.
Em 30 anos, a legislação internacional transformou o comércio de drogas na maior empresa multinacional de todos os tempos. Inextirpável, agora.