Marcha da Maconha atrai centenas de pessoas no centro de Belo Horizonte
Movimento, que acontece neste ano em 33 cidades brasileiras, busca convidar a população ao debate sobre a legalização do uso da erva
Humberto Siqueira – Estado de Minas
Debate aberto sobre o consumo da maconha é o objetivo do movimento que sai às ruas da capital |
Centenas de pessoas, que desde as 13h começaram a se concentrar na Praça da Estação, no Centro de Belo Horizonte, iniciaram no fim da tarde deste sábado a Marcha da Maconha. Eles deixaram o local à s 16h20 e saÃram em caminhada em direção à Praça da Liberdade. O objetivo da mobilização é incentivar o debate aberto em torno dos benefÃcios e malefÃcios do consumo da maconha e vantagens e desvantagens de uma possÃvel sua legalização e regulamentação.
Dezenas de policiais militares acompanharam o evento, que transcorre sem qualquer tipo de tumulto ou confronto. Faixas e cartazes exibidos pelos participantes do movimento deixavam claro o objetivo de se abrir o diálogo sobre o uso da erva, sem buscar incentivar o seu consumo, o que configuraria crime de apologia ao uso de drogas.
A estudante Laura Bubantz Fantecelle pesquisou sobre o tema antes de decidir apoiar o movimento |
Dados da ONU demonstram que 80% dos usuários de drogas optam pela maconha. “Qualquer negócio não suporta uma perda desse tamanho. Seria um duro golpe no tráfico, se a maconha fosse legalizadaâ€, afirma Nilo Victor do Carmo, comerciante de 31 anos, um dos coordenadores da Marcha em BH.
A estudante Laura Bubantz Fantecelle, de 19, diz ter se informado bastante sobre o tema antes de se decidir pelo apoio à legalização. “Percebi existir mais prós do que contras. Como a queda no tráfico, controle do uso, produto de melhor qualidade aos usuários, receita com impostos e tributos para os cofres públicos, o uso medicinal, entre outrasâ€, esclarece.
Para um dos coordenadores do evento, Nilo Vitor, a proibição é mais nociva do que o uso. “A maconha tem mais de 25 mil utilidades. O uso recreativo é apenas uma delas. A proibição, por conta desse uso recreativo, prejudica todas as outras formas de uso, inclusive a medicinalâ€, pondera.
Concentração contou com mais de 400 pessoas, mas pelo Facebook cerca de 2 mil confirmaram presença |
Cerca de 500 pessoas, de acordo com a PolÃcia Militar (PM), participaram da Marcha da Maconha neste sábado (12), em Belo Horizonte. A concentração começou à s 13h, na Praça da Estação, no Centro, e, à s 16h20, os manifestantes iniciaram a passeata rumo à Praça da Liberdade. Além da capital mineira, Cuiabá, Fortaleza, Niterói e Uberlândia também sediam o evento neste sábado.
De acordo com o Tenente Nascimento, responsável pelo policiamento, antes da marcha, três pessoas que participariam do evento foram encaminhadas à delegacia por causa do porte de drogas. “Dois deles foram detidos na Praça Rui Barbosa. Eles vieram do EspÃrito Santo e disseram que iriam para a marcha. A outra pessoa detida se apresentou como uma das organizadoras do eventoâ€, afirmou.
Até as 18h15, a passeata ocorria de forma pacÃfica. O tatuador Sávio Henrique, de 21 anos, teve que se explicar aos militares por causa de uma faixa que dizia “polÃcia mata, maconha nãoâ€. De acordo com o jovem, os policiais foram educados durante a abordagem e pediram que jogasse a faixa fora porque os dizeres eram ofensivos. O tenente explica que foi acordado com a organização que não haveria uso de inscrição ofensiva contra os órgãos públicos durante o evento e, que por isso, o jovem foi abordado. Para evitar problemas, Sávio Henrique seguiu a recomendação.
A polÃcia reconhece que durante o evento alguns manifestantes fizeram uso de droga. “Podemos ver que algumas pessoas estão usando maconha, mas, quando as abordamos, elas já esfarelaram a droga, não havendo materialidade para o registro da infraçãoâ€, afirmou.
Legalização
Assim como o tatuador, vários participantes da marcha carregavam faixas e cartazes. Um deles é o analista de sistemas Alexandre de Castro, de 33 anos, que é a favor da legalização da maconha, principalmente devido aos usos medicinais. “Maconha é somente um planta e muito útil pela sua aplicação medicinal. A proibição custa muitas vidasâ€, pontuou.
Por causa da manifestação, alguns lojistas preferiram fechar as portas no Centro da capital. O vendedor Alair de Oliveira, que acompanhou a passagem da marcha pela Avenida Afonso Pena, é contra a legalização da droga. “Se liberar, o povo e o governo vão perder o controle. Vai haver mais roubos, mais assaltos para a compra de drogasâ€, avaliou.
Além de policiais militares, guardas municipais e agentes da Empresa de Trânsito e Transportes de Belo Horizonte (BHTrans) acompanharam a passeata. O trânsito chegou a ser parcialmente interrompido para a passagem dos manifestantes, causando leve retenção no tráfego.
Legalidade
De acordo com a PolÃcia Militar, a legalidade da Marcha da Maconha é garantida por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). A liberdade da realização de protestos pela legalização de drogas foi confirmada no ano passado. A pedido da Procuradoria-Geral da República, o STF mudou a interpretação do artigo da Lei de Drogas, que proÃbe induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga. Em 2012, a previsão é que o evento aconteça em 37 cidades.