Manifestantes reunidos em frente ao Masp para a Marcha da Maconha, em SP Marcos Alves/Ag. O Globo
SÃO PAULO — Ao som de batuque, fogos de artifÃcio, apitos, pelo menos 2 mil pessoas, segundo a estimativa da PolÃcia Militar (PM), realizaram, na tarde deste sábado, a Marcha da Maconha, na Avenida Paulista. A manifestação teve inÃcio à s 16h25 e durou pouco mais de duas horas. Diferente do que ocorreu no ano passado, quando manifestantes e policiais entraram em confronto, a PM não registrou nenhum incidente na edição deste ano. As palavras de ordem variaram: “Ei polÃcia, maconha é uma delÃcia!â€,“ Meu ideal é maconha no quintal“, “Kassab tenha vergonha, o ‘busão‘ (ônibus) é mais caro que a maconhaâ€, “Nós apoiamos o MSTâ€. A passeata saiu do vão livre do Masp, por volta das 16h30m, e foi aberta com um enorme tubo de papelão que simulava um cigarro de maconha, trazido por um grupo de jovens.
O público se dividiu entre usuários e não usuários que são a favor da legalização do uso da maconha no paÃs. Harth Brito, 22 anos, diz que é contra o ato de criminalizar os movimentos sociais. — A proibição da maconha leva à violência contra os negros e os pobres. Tem mais gente presa por tráfico do que por assassinato ou roubo – afirmou Brito. Um jovem de 15 anos, que admite usar maconha ocasionalmente, acredita que a legalização vai acabar com o tráfico. — E vamos ter menos problemas — opinou o rapaz.
— Não uso, mas sou a favor da legalização. Se legalizar, teremos um novo mercado. Se o cigarro pode, por que a maconha não? – questiona uma estudante de 15 anos. Outra menor, também de 15 anos, que usa maconha de vez em quando, diz: — Tem muita problemática nisso daÃ. Quando a gente é jovem faz mal, é melhor deixar para fumar quando ficar mais velho. Eu acredito na legalização. Do jeito que está, é uma guerra só contra os pobres.
Liberação pelo STF
A marcha foi realizada pela primeira vez no Rio de Janeiro, no ano de 2007. Em São Paulo, a primeira manifestação ocorreu em 2008 e foi reprimida. O movimento ficou paralisado até 2011, com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de liberar a manifestação.
— Este é o primeiro ano que não precisamos ficar na defensiva – diz Julio Delmanto, 26 anos, um dos organizadores do movimento.
O grupo costuma se reunir todos os sábados no Centro Cultural de São Paulo, utiliza as redes sociais na internet para angariar adeptos, mobilizar e convocar atos em torno da legalização da maconha.
Delmanto afirma que a polÃtica antidrogas adotada pelo Brasil, para proibição na venda e consumo, coloca atrás das grades centenas de pessoas e faz com que o comércio da maconha fique nas mãos do crime organizado, o mesmo que atua no tráfico de armas e de pessoas.
— É preciso mudar o enfoque, do repressivo para o cuidado, assim como ocorre com o álcool e o tabaco. Está provado que a estratégia atual falhou, pois as pessoas seguem usando drogas — diz ele.
Delmanto afirma que o uso abusivo de drogas é minoritário e por isso a questão deve ser tratada como um problema de saúde pública. Para os organizadores do movimento, a legalização da maconha reduziria a corrupção policial e a violência.
Os impostos arrecadados pelo setor, diz ele, poderiam ser aplicados em polÃtica de consumo consciente e tratamento de saúde, além de programas de inserção social de quem hoje atua na venda da maconha.
Delmanto admite que a legalização da maconha é apenas o inÃcio de uma discussão que, para o grupo, deveria abranger todos os tipos de drogas.
Na concentração no vão livre do Masp, no inÃcio da tarde, dezenas de pessoas pintaram cartazes de apoio à legalização da droga. Houve quem levasse crianças.
O capitão Genivaldo Antonio, do 7º Batalhão da PolÃcia Militar, responsável por acompanhar a marcha, afirmou que as mães que levaram crianças ao movimento foram orientadas de que elas não devem permanecer no local. O STF liberou a Marcha da Maconha, mas recomendou que menores não participem.
Segundo ele, policiais também estão alertando os participantes que não devem usar a maconha durante o ato, pois caso sejam flagrados poderão ser detidos e levados à delegacia para assinar termos circunstanciados.
O capitão explicou ainda que a PM avalia, além da quantidade de maconha encontrada com a pessoa, outros indÃcios relacionados ao crime, como a posse de dinheiro ou suspeita de venda. Segundo a PolÃcia Militar, até as 16h, nenhum manifestante havia sido flagrado com a droga.
Maior Marcha da Maconha ocorre sem incidentes em São Paulo
SpressoSP
Ao contrário do ano passado, passeata foi tranquila e não teve incidentes
Texto e fotos por Mario Henrique de Oliveira
De acordo com informações dos realizadores, cerca de 10 mil pessoas tomaram as ruas paulistanas para reivindicar uma nova polÃtica de drogas no paÃs, na Marcha da Maconha. Já a PolÃcia Militar estimou que aproximadamente 2 mil pessoas participaram da caminhada. Apoiada por uma decisão do Superior Tribunal Federal, que considerou legal a realização da passeata, a Marcha transcorreu em clima festivo e ameno, sem a violência policial registrada no ano passado.
“Fizemos uma arrecadação de dinheiro na internet ao estilo crowdfounding, onde qualquer um podia entrar e doar a quantia que quisesse. Com isso, conseguimos R$ 15 mil, o que colaborou para produzirmos uma Marcha mais bonita e informativaâ€, explicou Pedrão Nogueira, integrante do Coletivo Desentorpecendo A Razão (DAR), que participou da organização da Marcha. â€Estão sendo distribuÃdos milhares de cartazes e panfletos orientando a todos como se comportar. Vão estar todos de olho na Marcha, então queremos que ela seja pacÃfica, como é o movimento, e bonita. Só assim vamos conseguir uma mudança na polÃticas atuais de drogas atuais.â€
A diversidade também marcou a Marcha. Nela, era possÃvel observar jovens e senhoras, punks e rappers, movimentos de luta por moradia e de lésbicas. “A Marcha é isso ai, ela não é de um só movimento, é de vários, mas com todos buscando uma nova maneira de fazer polÃtica no Brasil. É algo que afeta a vida de todosâ€, conclui Pedrão.
A manifestação teve como lema “Basta de guerra: Por outra polÃtica de drogasâ€. Durante todo o trajeto, foram cantadas músicas pedindo a legalização da maconha. Os organizadores afirmaram que essa foi a maior Marcha da Maconha já realizada em São Paulo.
Aula pública
A concentração para a Marcha começou à s 13 horas, no vão livre do MASP. Uma aula pública teve inÃcio por volta das 14h30 e contou com falas de Henrique Carneiro, professor de História na USP; José Henrique Torres, da Associação JuÃzes para a Democracia e Denis Russo Burgierman, autor do livro O Fim da Guerra , uma pesquisa sobre a cultura canábica ao redor do mundo.
Carneiro lembrou a história da maconha na humanidade e a classificou como “a planta mais importante do mundoâ€. Segundo o professor, não haveria, por exemplo, as grandes navegações sem a erva. “A maconha tem grande valor nutritivo, para a confecção de roupas, tecidos e papéis, para óleos e pode ser usada até para se fazer um novo tipo de biodiesel, não é apenas algo para ser fumado que estão impedindo. Na época das grandes descobertas, grande parte de tudo que havia dentro de um navio era feito de cânhamo, o nome da maconha para fins comerciais. Desde a vela até o papel usado para o comandante escrever suas cartasâ€, conta ele.
Para o professor, a proibição da maconha está diretamente ligada à descoberta de produtos industriais sintéticos. “A sua proibição aconteceu por uma pressão econômica daqueles que descobriram alternativas sintéticas para os diferentes usos da planta. Também há o racismo, por ela ser vinculada ao árabes na Europa, aos mexicanos nos Estados Unidos e aos negros aqui no Brasilâ€, revela Carneiro.
José Henrique Torres veio trazer uma visão jurÃdica à causa. Para ele, há diversos princÃpios que são infringidos ao se proibir a maconha, como o da idoneidade. Ele também alertou sobre a criminalização da planta. “Quem cria os crimes são os legisladores e um dos pré-requisitos para tornar algo um crime é que ele seja prejudicial a terceiros. Que mal a terceiros causa o fumo da maconha?â€, indagou.
Denis Russo Burgierman trouxe sua própria experiência para compartilhar com os presentes. Seu livro, O Fim da Guerra,  é resultado de diversas viagens que fez para saber como é a polÃtica local de vários paÃses para a maconha. Ele enalteceu a realização da Marcha e lembrou que foi assim que Portugal e a Califórnia conseguiram uma mudanças nas leis. “Hoje esse locais aceitam o uso, mas ele começou com a iniciativa popular, por meio de referendos e pressão do povo. Estamos no caminho certoâ€, disse.
O urbanista Nabil Bonduki também marcou presença. “Essa é uma grande prova de que a juventude está antenada com os problemas atuais do paÃs. É importantÃssimo que possamos discutir uma nova polÃtica de drogas, porque já ficou provado que a atual não ajuda a ninguémâ€, disse ele.
A Marcha também serviu como cenário para a gravação do clipe “Feito de Maconhaâ€, do rapper Sandrão, que esteve à frente da multidão durante toda passeata. A Marcha se encerrou por volta das 19 horas na Praça da República. Pouco antes, na Rua da Consolação, os manifestantes pararam para fazer um minuto de silêncio em memória do mortos na guerra das drogas.Â
Marcha da Maconha pede outra polÃtica para drogas no paÃs
Por: Redação da Rede Brasil Atual
Marcha partiu da avenida Paulista em direção à praça da República (Foto: Fotoarena/Folhapress)
São Paulo – A Marcha da Maconha realizada hoje (19), em São Paulo, partiu do Museu de Arte de São Paulo (Masp), seguindo pela avenida Paulista, ruas Augusta e da Consolação até a praça da República. Segundo a PolÃcia Militar, a passeata reuniu cerca de 2 mil pessoas. Os manifestantes pediram nova polÃtica de drogas para o paÃs.
A marcha do ano passado, promovida em março, no mesmo local, foi dispersada pela PM com gás lacrimogêneo e spray  de pimenta quando uma decisão judicial proibia a manifestação. Depois, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em nome da garantia de liberdade de expressão, que as passeatas pela legalização das drogas não fossem mais reprimidas.
A legalização do consumo da maconha é defendida pelos manifestantes sob diversos argumentos. O professor de história da Universidade de São Paulo (USP) Henrique Carneiro atribui a proibição, em parte, a um preconceito de setores da sociedade. “Há um percentual da população que quer simplesmente exterminar o consumidorâ€, disse, ao comparar o sentimento ao preconceito sofrido pelos homossexuais.
Carneiro defende a equiparação das drogas ilegais a substâncias vendidas legalmente com uso controlado. “Alguns produtos, como, por exemplo, a cocaÃna, deveriam ser vendidos em farmácia, assim como os medicamentos da indústria farmacêutica. A maconha, que tem um poder de nocividade muito relativo, deveria ter um acesso muito mais amplo, que fosse tanto do autocultivo, como o do microcomércio para pessoas maiores de idadeâ€, argumenta.
Na opinião do professor, a proibição de certas drogas é mantida devido à lucratividade gerada pela ilegalidade. “Hoje, é um imenso negócio estimado em cerca de US$ 400 bilhões, que tem essa magnitude não por causa do custo de produção, mas por causa da proibição.”
Pensamento na mesma linha tem a estudante de ciências sociais Lilian Rocha. “Eu não vejo sentido em você tornar ilegal uma substância que é natural e comercializar amplamente uma série de medicamentos sem os efeitos comprovadosâ€, ressaltou a jovem.
A experiência pessoal no tratamento de um câncer de intestino foi a razão que levou a artista plástica Maria Antonia Goulart à marcha. “Me ajudou muito como complemento do tratamento. Para aliviar a dor, aumentar o apetite, para você conseguir dormir. Os médicos, depois que eu terminei o tratamento, comprovaram que a maconha me ajudou muitoâ€, contou.
Para quem não se lembra, a proibição da Marcha da Maconha pela Justiça, a pedido do Ministério Público de São Paulo, levou a cenas de selvageria por parte da PolÃcia Militar , que usou bombas de gás lacrimogênio, spray de pimenta e balas de borracha contra manifestantes e jornalistas na capital paulista no dia 21 de maio de 2011.  Após manifestações exigindo liberdade de expressão em todo o paÃs, a manifestação foi autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, em 15 de junho do ano passado, por oito votos a favor e nenhum contrário.
Segundo o jornalista Leonardo Sakamoto divulgou em seu blog , a verdade é que temos, por aqui, um liberalismo de brincadeirinha, sem a parte boa das liberdades individuais. “É dever possibilitar mercados livres, mas a pessoa não conta com o mesmo benefÃcio. O Estado é xingado se meter o bedelho nos negócios de particulares, mas elogiado quando diz com quem me deito, o que consumo e o fim que dou ao meu corpo.”
O manifesto  da marcha pede a revisão da (falida) polÃtica de drogas adotada no Brasil. Leia a Ãntegra:
“O debate está em jornais, revistas, redes de televisão. Tomou ruas, internet, livros, personalidades, polÃticos e campanhas eleitorais. Ganhou espaço e consistência que mostram cada vez mais a falência da polÃtica proibicionista em termos humanos, de segurança, de direitos, liberdades e saúde pública. O Brasil se tornou um dos mais sangrentos campos de batalha da guerra à s drogas, um sistema racista, antigo e ineficiente para lidar como uma questão complexa e urgente. Uma lei que redunda em morte e gastos públicos elevados e de nenhuma forma ataca o consumo entre jovens e adultos, muito menos o abuso: apenas desloca-o para uma esfera ainda mais intocável.”
Com Agência Brasil