Mais do que escritor e jornalista, o uruguaio Eduardo Galeano já se converteu em um Ãcone do pensamento de esquerda latino-americano. No lançamento de seu novo livro, Los hijos de los dias (Os filhos dos dias), por exemplo, nada menos do que 2500 pessoas encararam horas de fila para vê-lo lendo trechos da nova obra, em Buenos Aires.
E é deste livro que retiramos dois trechos como dicas desta semana. O livro é composto de 365 pequenos textos, que versam sobre importantes questões polÃticas e históricas, sobretudo relativas ao nosso continente. Se falamos sobre isso, a guerra à s drogas não poderia ficar de fora – confira as palavras de Galeano, em tradução livre do Coletivo DAR, uma vez que o livro ainda – e infelizmente – não tem versão em português.
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26 de Outubro
Guerra a favor das drogas
Depois de vinte de balas de canhão e milhares e milhares de chineses mortos, cantou vitória a rainha Vitória: a China, que proibia as drogas, abriu suas portas para o ópio que os mercadores ingleses vendiam.
Enquanto ardiam os palácios imperiais, o prÃncipe Gong assinou a rendição, em 1860.
Foi um triunfo da liberdade: a liberdade de comércio.
27 de Outubro
Guerra contra as drogas
Em 1986, o presidente Ronald Reagan retomou a lança que Richard Nixon havia levantado alguns anos antes, e a guerra contra as drogas recebeu um impulso multimilionário.
Desde então, aumentaram os lucros dos narcotraficantes e dos grandes bancos que les lavam o dinheiro;
as drogas, mais concentradas, matam o dobro de pessoas que matavam;
cada semana se inaugura uma nova prisão nos Estados Unidos, porque se multiplicam os usuários na nação que mais usuários contém;
Afeganistão, paÃs invadido e ocupado pelos Estados Unidos, passou a abastecer quase toda a heroÃna que o mundo compra;
e a guerra contra as drogas, que fez da Colômbia uma grande base militar norteamericana, está convertendo o México num enlouquecido matadouro.