Como nos conta o blog do Sebastião Nicomedes, figura importante do movimento da população em situação de rua na cidade de São Paulo, e também emblemática de quanto talento e capacidade está por trás da invisibilidade do descaso, do preconceito e da desiguladade, nesta quinta-feira, 31 de maio, ao meio dia, haverá uma exibição gratuita e a céu aberto da peça de teatro “UM HOMEM SEM PAÃS”, de autoria de Nicomedes.
Após a peça haverá debate sobre polÃticas para a população em situação de rua. Confira abaixo texto do jornalista Milton Jung sobre Sebastião e “Um homem sem paÃs”.
O “homem sem paÃs†identifica milhares de brasileiros que vivem nas ruas e não são aceitos em nenhuma cidade. É personagem no qual tropeçamos na calçada e fazemos questão de não enxergar. Que ao se aproximar do vidro do carro, nos causa pavor. Por isso, é o centro da história contada por Sebastião Nicomedes em peça itinerante e que, segundo ele, está na hora de ser mostrada para os outros. Até aqui só apresentou para moradores de rua: “cansei de falar de nós para nós, não transformaâ€.
Sebastião Nicomedes é daqueles entrevistados que me orgulho de colocar no ar. Conheço-o muito pouco, pessoalmente, mas li e ouvi várias vezes a história deste cidadão sempre apresentado como ex-morador de rua. Ele é muito mais do que isso, inteligente, culto, bem articulado, visão lógica das coisas da vida e com a experiência de quem conhece o que ocorre no mundo – conceito de algo que não precisa estar do outro lado do Planeta, está logo ali, do lado de fora da sua porta.
Sabia que na conversa sobre o tratamento oferecido aos moradores de rua na capital paulista, ele traria pensamentos capazes de nos levar a refletir. E de cara chamou atenção do presidente da República, do Governador de São Paulo e do prefeito na capital que “estão mais preocupados em mostrar uma cidade bonita para os turistas na Copa do Mundoâ€. A sugestão dele é que no dinheiro a ser investido se leve em consideração a inserção dos moradores de rua nos planos de habitação e no trabalho gerado pelas melhorias a serem realizadas. “Por que não pegam essas pessoas que estão perdendo a mente na rua e os oferecem a oportunidade de trabalhar na limpeza da cidade ?â€, pergunta Nicomedes em uma sequência de frases fortes e reivindicatórias.
Sobre o que ocorre em São Paulo se disse preocupado pelo sumiço dos agentes de proteção, substituÃdos pela Guarda Civil Metropolitana e pela própria polÃcia. “O caminhão do rapa que antes recolhia material de camelô, passou a abordar moradores de rua para tomar os pertences delesâ€, explicou. Foi sarcástico ao lembrar que para o governo dar bolsa-aluguel é preciso o morro cair ou a casa desabar, como morador de rua não tem onde morar, nunca é lembrado.
Para ele, o “povo da rua†não é caso de polÃcia nem só de assistência social. A questão tem de ser atendida por outras áreas como as secretarias de saúde, trabalho e habitação.