• Home
  • Quem somos
  • A razão entorpecida
  • Chame o DAR pra sua quebrada ou escola
  • Fale com a gente
  • Podcast
  • Quem somos
  • A razão entorpecida
  • Podcast
  • Chame o DAR pra sua quebrada ou escola
  • Fale com a gente
Junho 09, 2012

EUA: capital mundial das prisões

EUA: Sistema de Injustiça Criminal para negros pobres

Redecastorphoto

3/6/2012, Margaret Kimberley, Eurasia Review
“Criminal Injustice System – OpEd”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Margaret Kimberley
Há tantas coisas erradas nos EUA, que nem se sabe por onde começar. Mas, de todas as calamidades que os norte-americanos enfrentam, a mais cruel é o sistema de justiça criminal.
Os EUA são a capital mundial das prisões. Só num estado, na Louisiana, a taxa de encarceramento, em relação à população do estado, é 13 vezes maior que a da China e cinco vezes maior que a do Irã.
O encarceramento em massa não é acaso, mas reação coordenada e aperfeiçoada contra o sucesso do movimento pelos direitos civis. As leis de segregação racial foram tornadas ilegais. E imediatamente criaram-se novos meios legais para segregar e destruir a comunidade negra nos EUA.
A obsessão dos EUA com o castigo sempre foi cause célèbre que chamou a atenção de parte da mídia, quando é muito flagrantemente injusta, ou evidencia vícios processuais ou mostra muito evidente racismo. Mas esses detalhes perdem importância, se se considera o terror sem fim que é o sistema judicial nos EUA.
Brian Banks
O calvário de Brian Banks é exemplo disso.
Banks tinha 16 anos e era aluno e jogador destacado da equipe de futebol americano de uma escola em Long Beach, Califórnia, quando foi falsamente denunciado por estupro, por uma colega de classe, em 2002. Banks foi formalmente acusado, não só por estupro, mas também por sequestro. Preferiria ter-se declarado inocente, mas estava ameaçado, se condenado, por uma sentença de 41 anos de prisão. Como Banks relembra, seu advogado lhe disse que era “negro alto e forte” e que os jurados o considerariam culpado, dissesse o que dissesse; e que a confissão reduziria a sentença. Seguindo conselho do advogado, Banks declarou-se culpado.
Foi condenado a cinco anos de prisão, depois dos quais passou a ser monitorado por tornozeleira eletrônica e identificado como “agressor sexual”. Quem seja identificado como “agressor sexual” é condenado, de fato, a prisão perpétua; fica proibido de frequentar determinados espaços, ou recebe a tornozeleira eletrônica várias vezes ao longo da vida, por diferentes períodos.
As sentenças draconianas não reduziram o número de ataques sexuais, nem aumentaram a segurança de ninguém. São apenas mais um item acrescentado à longa lista de instrumentos criados para infligir cada vez mais sofrimento.
Acontece assim com milhares de norte-americanos que, por um motivo ou outro, acabam colhidos nas malhas do sistema, mesmo quando não praticaram nenhum tipo de crime. No caso de Banks, a suposta vítima arrependeu-se, confessou que mentira, e a história de Banks afinal chegou às manchetes. Mas ainda não se cogita de levar a julgamento todo o sistema de justiça criminal nos EUA.
Não é raro que os procuradores ampliem a lista de acusação contra os réus, o que força muitos a declarar-se culpados, na tentativa de escapar de décadas de encarceramento. É como se os procuradores do estado da Florida tivessem decidido que não seria necessário seguir todas as etapas do justo processo legal. Basta aumentar os crimes de que os réus sejam acusados, pedir sentenças gigantescas, cinco, dez, às vezes 20 vezes mais longas do que as sentenças previstas para o caso de o acusado declarar-se culpado, vale dizer, para o caso de o acusado “confessar” –, e o trabalho de todo o sistema judicial fica muito facilitado.
Marissa Alexander foi acusada de ter dado um tiro no marido. Se se declarasse culpada, seria condenada, no máximo, a três anos de prisão. Mas recusou-se. O caso portanto teve de ir a júri, e ela, apesar de não ter dado tiro algum em marido algum, cumpre hoje pena de 20 anos atrás das grades.
O que se vê nas cortes norte-americanas nada tem a ver com sistema de justiça que, por definição, sempre daria aos acusados o direito de ser julgado por juiz legal, assistido por advogado legal, sem medo de, por razão nenhuma, acabar condenado a prisão perpétua. O sistema de justiça nos EUA castiga, sempre mais, os inocentes que se declarem inocentes.
Em muitos estados dos EUA, quem se declare inocente expõe-se a penas mais curtas, mas, automaticamente, perde o direito às audiências preliminares de defesa. Assim, os inocentes que se declarem inocentes se autocondenam a permanecer presos por longos períodos, sem serem ouvidos por nenhum juiz… até que confessem ter feito o que não fizeram, quando, então, vão a julgamento, já condenados.
O sistema judicial criminal e de correição dos EUA não passa de ninho de corruptos e corruptores, e tem de ser desmontado até a raiz.
Prisões e carceragens nos EUA são instituições que geram negócios e criam empregos para a fechada comunidade dos carcereiros, para empresas privadas que vivem do negócio de construir e administrar prisões, e que impedem os negros norte-americanos de efetivamente questionar todo o sistema, como faziam há 40 ou 50 anos.
Procuradores e políticos beneficiam-se e lucram com o número sempre crescente de condenados a sentenças cada vez mais longas, além de ganharem tempo de exposição na mídia, nos casos mais espetacularizados, o que muito os interessa no caso de serem candidatos a “promoção”, seja no sistema judicial-policial seja no sistema político.
Pouco têm a perder com as condenações a prisão perpétua que resultaram das leis de “três acusações [de crime menor] equivalem a uma [de crime maior], inventada para prender pequenos traficantes de drogas. A “tolerância zero” nunca passou de metáfora para manter negros pobres – e pobres em geral – sob controle.
O discurso codificado e enunciado pela mídia e o lucro que advém da falácia segundo a qual “se há sangue, é notícia” alimentam o medo e ajudam também a obter o apoio de muitos negros e de muitos pobres, para essas medidas judiciais, que são apresentadas como justas e legais, quando são legais, mas são racistas.
Para meter negros e pobres nas cadeias, nenhum crime é pequeno crime. Até abandono dos filhos é crime que mete negros pobres nas prisões dos EUA, negros pobres que, metidos nas cadeias por décadas, se não abandonaram antes, fatalmente abandonarão os filhos depois de “justiçados”. Mas, evidentemente, não há no mundo quantidades de pais e mães espancadores de filhos, ou de predadores sexuais ou de assassinos psicopatas, para encher prisões cujos proprietários privados são remunerados “por cabeça”.
Esses crimes-espetáculo, que são os únicos que são midiatizados, só são midiatizados para manter operante o sistema judicial de distribuir e perpetuar injustiças, aumentar o lucro das prisões-empresa, atrair votos para candidatos financiados pelas mesmas prisões-empresas e pela mídia, e para manter satisfeitos os norte-americanos racistas, “em uniforme” ou sem uniforme.
O caso de Brian Banks atraiu a atenção das televisões, jornais e jornalistas, porque uma mentirosa o mandou para a cadeia. E as televisões, os jornais e os jornalistas repisam sempre esse aspecto desse caso. Mas essa explicação pouco explica dos outros muitos casos em que o único mentiroso foi o sistema judicial norte-americano.
Temos de considerar, isso sim, o que disse aquele advogado, para convencer Banks a confessar crime que não cometera: que “negro alto e forte”, nos EUA, é pressuposto culpado e é pré-condenado a longas sentenças e castigo eterno.
Sempre haverá casos cujas histórias atraem mais simpatias, ou cujos personagens atraem apoiadores mais bem organizados. Ainda que nós também sejamos atraídos para esses casos mais espetacularizados pelas televisões, jornais e jornalistas, temos de lembrar que há muitos outros negros e pobres que enchem as prisões nos EUA. O caso “do dia” deve ser ocasião para desentocar a besta e cortar-lhe a cabeça de uma vez por todas. É a única notícia que realmente vale a nossa atenção.
_____________________
Sobre a autora:
A coluna “Freedom Rider”, de Margaret Kimberley, é publicada semanalmente em: Black Agenda Report, BAR  e reproduzida em muitos jornais nos EUA.
Mantém um blog também com o nome de Freedom Rider.

Recebe e-mails em: Margaret.Kimberley@BlackAgandaReport.com

Comments

comments

Nos ajude a melhorar o sítio! Caso repare um erro, notifique para nós!

Recent Posts

  • NOV 26 NÓS SOMOS OS 43 – Ação de solidariedade a Ayotzinapa
  • Quem foi a primeira mulher a usar LSD
  • Cloroquina, crack e tratamentos de morte
  • Polícia abre inquérito em perseguição política contra A Craco Resiste
  • Um jeito de plantar maconha (dentro de casa)

Recent Comments

  1. DAR – Desentorpecendo A Razão em Guerras às drogas: a consolidação de um Estado racista
  2. No Grajaú, polícia ainda não entendeu que falar de maconha não é crime em No Grajaú, polícia ainda não entendeu que falar de maconha não é crime
  3. DAR – Desentorpecendo A Razão – Um canceriano sem lar. em “Espetáculo de liberdade”: Marcha da Maconha SP deixou saudade!
  4. 10 motivos para legalizar a maconha – Verão da Lata em Visitei um clube canábico no Uruguai e devia ter ficado por lá
  5. Argyreia Nervosa e Redução de Danos – RD com Logan em Anvisa anuncia proibição da Sálvia Divinorum e do LSA

Archives

  • Março 2022
  • Dezembro 2021
  • Setembro 2021
  • Agosto 2021
  • Julho 2021
  • Maio 2021
  • Abril 2021
  • Março 2021
  • Fevereiro 2021
  • Janeiro 2021
  • Dezembro 2020
  • Novembro 2020
  • Outubro 2020
  • Setembro 2020
  • Agosto 2020
  • Julho 2020
  • Junho 2020
  • Março 2019
  • Setembro 2018
  • Junho 2018
  • Maio 2018
  • Abril 2018
  • Março 2018
  • Fevereiro 2018
  • Dezembro 2017
  • Novembro 2017
  • Outubro 2017
  • Agosto 2017
  • Julho 2017
  • Junho 2017
  • Maio 2017
  • Abril 2017
  • Março 2017
  • Janeiro 2017
  • Dezembro 2016
  • Novembro 2016
  • Setembro 2016
  • Agosto 2016
  • Julho 2016
  • Junho 2016
  • Maio 2016
  • Abril 2016
  • Março 2016
  • Fevereiro 2016
  • Janeiro 2016
  • Dezembro 2015
  • Novembro 2015
  • Outubro 2015
  • Setembro 2015
  • Agosto 2015
  • Julho 2015
  • Junho 2015
  • Maio 2015
  • Abril 2015
  • Março 2015
  • Fevereiro 2015
  • Janeiro 2015
  • Dezembro 2014
  • Novembro 2014
  • Outubro 2014
  • Setembro 2014
  • Agosto 2014
  • Julho 2014
  • Junho 2014
  • Maio 2014
  • Abril 2014
  • Março 2014
  • Fevereiro 2014
  • Janeiro 2014
  • Dezembro 2013
  • Novembro 2013
  • Outubro 2013
  • Setembro 2013
  • Agosto 2013
  • Julho 2013
  • Junho 2013
  • Maio 2013
  • Abril 2013
  • Março 2013
  • Fevereiro 2013
  • Janeiro 2013
  • Dezembro 2012
  • Novembro 2012
  • Outubro 2012
  • Setembro 2012
  • Agosto 2012
  • Julho 2012
  • Junho 2012
  • Maio 2012
  • Abril 2012
  • Março 2012
  • Fevereiro 2012
  • Janeiro 2012
  • Dezembro 2011
  • Novembro 2011
  • Outubro 2011
  • Setembro 2011
  • Agosto 2011
  • Julho 2011
  • Junho 2011
  • Maio 2011
  • Abril 2011
  • Março 2011
  • Fevereiro 2011
  • Janeiro 2011
  • Dezembro 2010
  • Novembro 2010
  • Outubro 2010
  • Setembro 2010
  • Agosto 2010
  • Julho 2010
  • Junho 2010
  • Maio 2010
  • Abril 2010
  • Março 2010
  • Fevereiro 2010
  • Janeiro 2010
  • Dezembro 2009
  • Novembro 2009
  • Outubro 2009
  • Setembro 2009
  • Agosto 2009
  • Julho 2009

Categories

  • Abre a roda
  • Abusos da polí­cia
  • Antiproibicionismo
  • Cartas na mesa
  • Criminalização da pobreza
  • Cultura
  • Cultura pra DAR
  • DAR – Conteúdo próprio
  • Destaque 01
  • Destaque 02
  • Dica Do DAR
  • Direitos Humanos
  • Entrevistas
  • Eventos
  • Galerias de fotos
  • História
  • Internacional
  • Justiça
  • Marcha da Maconha
  • Medicina
  • Mídia/Notí­cias
  • Mí­dia
  • Podcast
  • Polí­tica
  • Redução de Danos
  • Saúde
  • Saúde Mental
  • Segurança
  • Sem tema
  • Sistema Carcerário
  • Traduções
  • Uncategorized
  • Vídeos