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Agosto 23, 2012

Discodélicos #5: LCD Soundsystem

Sobre o fim. Sobre vida e morte. Morte.

Onde estão os seus amigos hoje?

Início do século XXI. A completa desconfiança quanto ao que nos reserva o futuro faz com que seja difícil desistir do passado. Nossas almas são forjadas a marretadas e nossos corpos nos escravizam. Só gostaríamos de algo menos dependente. Que desperdiçasse menos tempo.

Em março de 2007, o LCD Soundsystem lança um novo álbum chamado “Sound of Silver“. É o seu trabalho menos bobo, menos confuso, menos barulhento, mais elegante e mais comovente. Um registro da eletrônica que o grupo já fazia com traços de pós-punk, disco music e rock alemão. Confuso? Nós também. Eles também.

“Sound of Silver” foi sucesso de vendas e críticas. Passou por todo o ritual de aprovação coletiva para atestar sua qualidade. Recebeu uma indicação ao Grammy – sinal de que foi mesmo sucesso de vendas – e foi eleito o melhor álbum do ano por várias publicações musicais.

O primeiro single do grupo, de 2002, “Losing My Edge”, já colocou todas as suas cartas na mesa. O som saía dos alto-falantes com um intenso poder, fazendo com que o resultado fosse mais do que apenas uma comemoração festeira.

Era o novo. Num mundo cada vez mais repetitivo, precisamos cada vez mais do novo. E que esse seja cada vez mais novo. Fagocitando tudo o que via pela frente, o LCD devolveu ao público aquilo que ele já tinha, sem conseguir evitar a sensação de necessidade daquelas mesmas coisas.

Anfetaminas a conta-gotas. Embalado as pistas de dança do começo da década, a banda se tornou a trilha sonora oficial para viagens embaladas por estimulantes. Qualquer um deles.

Nós programamos os controles para o coração do sol, uma das maneiras de mostrar a nossa idade.

Tudo está acelerado. Não conseguimos acompanhar. Vamos perder de qualquer maneira, apostemos tudo então. E é melhor estarmos bem vestidos quando fizermos.

A melhor canção de Sound of Silver, em contraponto ao retumbante sucesso da banda, sempre de origem festejante, é triste e não deve ser jogada em qualquer clube. Triste como a década em que foi feita. Triste como viver nesse enorme supermercado.

“Someone Great”, uma canção pop agridoce, construída em cima de um emaranhado de sintetizadores, poderia ser mais uma balada sobre uma separação amorosa: “I wish that we could talk about it,/But there, that’s the problem”.

Ledo engano. A dor é maior. É de um aborto que falamos. A última réstia de esperança para uma vida em desengano. A criança que viria colocar tudo nos eixos, dar um novo sentido para a miséria da existência.

Sobra a crueza da realidade: “You’re smaller than my wife imagined,/Surprised, you were human./There shouldn’t be this ring of silence,/But what are the options?”.

Ele se desfaz, do jeito que acontece em filmes ruins. Exceto nas partes em que a lição de moral chega.

Nada mais faz sentido se ninguém estiver olhando. Se ninguém notar, somos um grande zero. Não existe nenhuma razão concreta para sair da cama. Nosso cotidiano se resume a repetir, com as mesmas malditas pessoas, os mesmos infernos avulsos e particulares.

Além dela, o álbum traz em seu cardápio a hoje mitológica “All my friends”. Retrato de uma geração sem razão de ser. Vazia em suas ambições. Esmagada pela negação. Com preocupações mundanas e egoístas e fracassada entre seus próprios pares. Porém, ligada na batida.

Mas o disco vai mais fundo. Não dava mais para ser somente o herói da música eletrônica e das drogas sintéticas dos anos 2000. Essa nunca foi de fato a intenção. Só que entendemos tudo errado.

As pessoas se amaram embaladas pela catarse coletiva que pulsava das caixas de som. A festa que o LCD fez nas pistas foi bonita até, mas era hora de sair da balada. As substâncias da moda não serviam mais para causar euforia e bem estar.

Está pesado demais. A vida pesa. A cidade pesa: “Your mild billionaire mayor’s/Now convinced he’s a king/So the boring collect/I mean all disrespect/In the neighborhood bars/I’d once dreamt I would drink”.

Eu não trocarria uma decisão estúpida por mais cinco anos de mentiras.

Tomamos drogas por ser a única descoberta pessoal que resta nesse mundo delimitado por propriedades. Como alguém disse – disse mesmo? -: só nas drogas ou na morte é possível conhecer novidades, e a morte é muito controladora.

Depois disso a banda parou. Não de produzir, mas de evoluir. O furacão que varreu a cena indie de Nova Iorque e, de forma aborrecida e previsível, varreu a cena indie do mundo todo, parou de soprar.

A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou. O riso não veio. E não veio a utopia!

Aparentemente, não havia mais sentido. Ou necessidade. Contrariando sua origem, o grupo não tentava fazer nada muito diferente do que já estava acontecendo.

Não houve nem mesmo tentativas para atingir o topo das paradas com um hit fácil. Ao mesmo tempo, não houve tentativas de tornar o som mais desafiador. Não surgiram elementos radicalmente novos e nada foi subtraído. A engrenagem funcionava à perfeição. A dosagem do remédio mantinha tudo controlado.

Eu sei que cansa, mas é melhor quando nós fingimos.

Vivemos cheios de anfetaminas. Algumas das quais desconhecemos. Algumas das quais nem sabemos que estão dentro de nós. E, ainda assim, autômatos inertes. Não somos personagens de grandes sagas. Resta tão somente um punhado de chavões.

De 2007 a 2011 a distância é curta. Foi o tempo necessário para que James Murphy, o homem-banda por trás do LCD, definitivamente aceitasse que as coisas ficaram obsoletas. A culpa não era dele. Não era de ninguém. Era de todos nós.

Para extrair o último sumo da mercadoria, armou então o funeral do grupo. Um show de despedida. Vendendo às pessoas uma saudade que elas ainda não sentiam. A carreira do LCD Soudsystem durou exatos 10 anos.

Dez anos de batidas repetidas, drogas repetidas, audiências repetidas, entrevistas repetidas, mentiras repetidas, loops repetidos, shows repetidos, vidas repetidas.

Foram longos anos, se comparados com o prazo de validade de alguns de seus contemporâneos ou com outros cometas da indústria cultural que incandesceram e se apagaram mais rápido do que um comercial.

Ah, se a viagem e o plano se separam em suas mãos, você olha torto para si e sua proposta ridícula.

Tentamos manter bem abertos os olhos do rosto e da alma. Como se fosse possível sairmos vivos disso tudo. Não há conforto. Tudo o que desejaríamos agora é um café. E um enfermeiro.

O arco ficou esticado por décadas. Quando a flecha foi lançada destruiu tudo no caminho. Teve força para voar com autonomia por uma década, e então caiu.

Dez da manhã. Olhos vermelhos. Roupas de bebê e estátuas de cera. Troféus empoeirados. Postes de luz. Paredes repletas com fotos de pessoas doentes. Um quinteto de jazz. Pato com laranja. “O mundo muda o tempo todo”. Os sonhos não se convertem mais em planos. Jamais sair da estrada. Esquecer a vingança. Quem quiser, que venha.

Se eu pudesse ver todos os meus amigos esta noite…

Hit-me-ajuda-porque-não-tá-fácil:

All my friends:

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=IYO0h2QhkZA[/youtube]

 

Baixe o disco aqui

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