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Novembro 14, 2012

Texto “Feminismo e legalização das drogas?”, de Terezinha Vicente, relata atividade organizada pelo DAR

Feminismo e legalização das drogas?

Os proibicionismos que atingem a autonomia sobre o próprio corpo são velhos opressores conhecidos das mulheres

 Brasil de Fato

14/11/2012

Terezinha Vicente


Os proibicionismos que atingem a autonomia sobre o próprio corpo são velhos opressores conhecidos das mulheres. A criminalização das drogas e do aborto é para uma classe.

Dois debates convocados na semana passada por coletivos políticos formados por jovens em maioria me deram a grata satisfação de ver que ainda há gente de esquerda de verdade. Sim, porque hoje em nosso país ninguém é de direita, nem nos partidos institucionalizados; como pega bem, todos se dizem, no mínimo, de centro-esquerda! Foi muito bom constatar que ainda existe quem, como eu, creia sinceramente em utopias.

Não à toa, a maioria desses jovens não quer se organizar nos partidos que estão aí. Mostram-se bastante descrentes da política oficial, decepcionados com essa democracia burguesa que só produz corrupção e mais concentração de poder, não tem compromisso algum com a vida no planeta e a felicidade humana. Esse não é o mundo que eles querem, por isso reúnem-se em coletivos políticos, onde estudam, discutem e planejam como alcançar esse outro mundo possível.

Drogas das mulheres

Em 7 de novembro, convocada pelo Coletivo DAR (Desentorpecendo a Razão), Fuzarca Feminista, LBL (Liga Brasileira de Lésbicas) e União de Mulheres de São Paulo, ocorreu uma roda de conversa sobre “Feminismo e Legalização das Drogas”. Pode parecer que são temas que não tem a ver um com o outro, mas as mulheres sabem muito bem a opressão que é viver sob proibições. A começar pela proibição de sentir prazer. “A mulher reproduz a nação não só biologicamente, mas moralmente, culturalmente, o prazer para a mulher até hoje é meio mal visto”, disse Ilana Mountian, pesquisadora em drogas e sexualidade.

Todo o olhar sobre a mulher acaba sendo sexualizado e, dependendo da resposta que ela dá às investidas sexuais dos homens, pode ser chamada tanto de “puta” quanto de “lésbica”, “sapatona”, continuou Ilana. “Por isso a mulher precisa ser medicalizada para voltar ao ‘normal’ do que se espera de uma mulher”. Drogas são possíveis para as mulheres e até instigadas. Antidepressivos e remédios para emagrecer, lembraram as participantes, são drogas “neutralizadoras”. “A mulher tem que estar calma, passiva, linda e feliz”, como disse Thandara Santos, da Marcha Mundial de Mulheres. A maconha, muitos acreditam, pode atuar como substituto de muita dessa medicação.

Uma proibição de classe

“A que interesses atende a proibição das drogas e do aborto? A que tipo de ordem estamos respondendo quando aceitamos essas proibições?”, questionou Thandara, lembrando que tem cor e classe os atingidos por essas proibições, “que incidem sobre o direito privado, sobre a autonomia do corpo”. Este é o principal argumento pela legalização do aborto, assim como das drogas: o direito que cada pessoa tem sobre seu próprio corpo. “Usar drogas é algo absolutamente natural, o homem sempre usou drogas”, lembrou Roberta Costa, militante do DAR e educadora de rua. A recente votação vitoriosa pela legalização do uso recreativo da maconha em dois estados dos Estados Unidos, Washington e Colorado, foi lembrada pelas participantes; o uso medicinal já é legal em alguns outros estados americanos.

Este debate avança na Academia, mas há muita dificuldade em desenvolvê-lo na periferia, onde seria mais necessário. A reclamação foi feita por educadoras de Cidade Tiradentes, contando histórias do sofrimento das mulheres ali. O álcool e o tabagismo foram lembrados como causadores de muita dor, no entanto, lícitos e frutos de indústrias poderosíssimas. Sabemos que a criminalização das drogas tem sido justificativa para chacinas dos pobres na periferia. “Quem julga os que vão morrer tem a mesma lógica que criminaliza as mulheres em relação ao aborto”, falou Luka França, da Frente Nacional contra a Criminalização das Mulheres e Pela Legalização do Aborto. Elas sabem que a discussão a sério destas questões implica em forte disputa de poder, enfrentando o peso dos fundamentalismos religiosos, discutindo a desmilitarização da sociedade, o Estado que temos e que projeto de sociedade defendemos.

“É difícil articular a luta antiproibicionista com a feminista no movimento social, que é uma costura de consensos”, disse Tica Moreno, da Marcha Mundial das Mulheres. Ela cita a não discussão do feminismo pela esquerda e o não consenso em torno do aborto entre as dificuldades. “A autonomia das mulheres só existirá numa sociedade em que houver igualdade. Vivemos a criminalização do aborto, a criminalização da pobreza e da luta social”.

Informação sonegada

Para Gabriela Moncau, do Coletivo DAR, a dificuldade de debater o tema na periferia reflete “medos que estão mais ligados à proibição das drogas do que a droga em si”. A jornalista analisou bem que “a proibição impede que haja informação verdadeira sobre as drogas, consideradas demoníacas, impedindo mesmo o tratamento quando se quer”. Ela lembrou ainda das novas posições em relação à maconha trazidas pelo contexto internacional, como o Uruguai, que ampliam esse debate. “Já foi provado que a estratégia de repressão não funciona, aumenta o uso e a violência”, falou Marcia Balades, da Liga Brasileira de Lésbicas. “A sociedade precisa apropriar-se desse debate sobre a criminalização da pobreza, a corrupção e a polícia envolvida no tráfico de drogas”.

O acesso à informação e a desconstrução do que são drogas – afinal existem drogas boas, segundo os médicos – são considerados fundamentais para a questão. “O efeito da substância tem relação com o que há dentro da pessoa, com o seu contexto, com o que ela aprendeu sobre drogas, que varia de cultura para cultura”, diz Roberta Costa. Ela lembra que o consumo de mercadorias também é estimulado e gera dependência, assim como o computador e o celular – basta a pessoa estar convencida de que precisa daquilo. A droga do açúcar também foi lembrada. Roberta trabalha na Cracolândia, no centro de São Paulo, e afirma que “o crack não é o problema daquelas pessoas; se tirar o crack a vida delas não melhora!”. Pelo contrário: na Cracolândia tudo é coletivo, tudo é compartilhado e aquelas pessoas não foram aceitas em outros grupos sociais.

Por fim, a mídia e as instituições só mostram o usuário problemático. Entretanto, pesquisas mostraram que, entre consumidores do álcool e da maconha, apenas 10% tornam-se problema e, mesmo entre os dependentes do crack, os usuários problemáticos constituem entre 20 e 25%. O fato destes temas – aborto, drogas, casamento gay – terem virado debates nos processos eleitorais foi lembrado por Cinthia Abreu, da LBL, para quem “é preciso denunciar o peso da religião neste proibicionismo”.

Será que a falta de discussão sobre o machismo na esquerda também se relaciona à dificuldade de defender o prazer? Isto é assunto de outro artigo.


Terezinha Vicente é integrante da Marcha Mundial das Mulheres

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