A votação do projeto que altera a Lei Antidrogas (PL 7.663/2010) foi adiado para a próxima terça-feira (16/4). A votação pelo Plenário da Câmara dos Deputados estava prevista para esta quarta-feira (10/4), porém, foi adiada após pedido dos lÃderes do PCdoB e PSDB. Os partidos alegaram que precisavam de mais tempo para sugerir emendas.
“O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, garante que o prazo final é 16 de abril. Houve um acordo e o projeto vai entrar em pauta para ser votado. Este procedimento é usual no Parlamento e não prejudicar em nada o temaâ€, explicou o deputado Osmar Terra (PMDB-RS), autor do projeto de lei.
O projeto que altera o Sistema Nacional de PolÃticas Públicas sobre Drogas teve pedido de urgência aprovado na Câmara no dia 12 de março. Em entrevista à Consultor JurÃdico, o deputado Osmar Terra explicou que ao todo são mais de 30 alterações e destacou alguns pontos. “O envolvimento com drogas que causam dano mais rápido e mais mortes terá previsão de pena maior em até dois terços — como é o caso do crack. Outra mudança é a questão da baixa involuntária. Hoje, a lei diz que o usuário tem direito de decidir se quer a internação — mesmo que viva transtornado mentalmente e que tenha vendido tudo a sua volta para comprar crack. Ora, esta pessoa não está em condições de decidir nada, pois perdeu completamente o discernimento das coisas. Ela precisa de ajuda urgente. Por isso, a nova lei prevê que, se a famÃlia pedir e o médico determinar, o usuário será internadoâ€.
Segundo Terra, “a lei cria um sistema de monitoramento, a fim de comprovar os resultados de tratamentos que são levados a cabo. E isso inclui estabelecer um protocolo cientÃfico que avalie adequadamente um centro de atendimento do usuário no Rio grande do Sul e outro no Nordeste, por exemplo. Ou seja, uniformizar alguns critérios. Assim, os gestores têm de seguir uma determinada regra, podendo ser responsabilizados em caso de omissãoâ€, diz.
Apesar de terem sido realizadas 30 audiências públicas para debater a proposta, o projeto ainda recebe crÃticas. Na concepção da deputada Erika Kokay (PT-DF), a proposta apresenta um retrocesso na questão da internação involuntária. “As pessoas que querem se internar já não encontram vagas. Essa internação é limpeza social, higienista, é a sociedade não querendo ver o fruto de sua lógica que aniquila o indivÃduoâ€, argumenta.
Favorável à medida, o presidente do Colegiado dos Conselhos Estaduais Antidrogas, AloÃsio Antônio Andrade de Freitas, argumentou que “se a dependência é o adoecimento da vontade, não se pode esperar ter vontade quem está com a vontade doenteâ€.
A presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Estado da Justiça, Cidadania, Direitos Humanos e Administração Penitenciária (Consej), Maria Tereza Uille Gomes, ressaltou a necessidade de critérios claros para distinguir traficantes e usuários. “O que hoje se vê é a condenação por tráfico, principalmente de mulheres, com quantidade pequena de entorpecentes, 70% são presos por menos de 1 quilo de droga.â€
O professor LuÃs Fernando Farah de Tófoli, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), também defendeu a definição de critério objetivo para separar usuário e traficante. “É importante evitar que o policial faça isso. Somos um paÃs com passado escravocrata e há grande chance de um jovem pobre e negro ser considerado traficante, e um branco rico, usuário.â€
Pela lei atual, o juiz, ao analisar se trata o indivÃduo como usuário ou traficante, deve levar em consideração um critério objetivo, a natureza e a quantidade da substância apreendida, e três subjetivos — local e condições em que se desenvolveu a ação, circunstâncias sociais e pessoais do preso, além de sua conduta e seus antecedentes. Nem a lei nem o projeto estabelecem claramente a quantidade tolerada.
Para Osmar Terra, a omissão se justifica porque não há como fazer essa distinção pela quantidade de droga que o sujeito carrega. “O traficante vai levar justamente o que a lei permitir, não vamos prender mais ninguémâ€, afirmou.
Tanto Sebastião Santos quanto Maria Tereza Gomes, do Consej, lembraram que usuários, pequenos e grandes traficantes hoje ficam encarcerados juntos. Fato que Santos considera uma “insanidadeâ€. “Quem vai para a prisão tem que escolher uma facção, senão morreâ€, disse. Com isso, “entra usuário e sai criminoso, o Estado está investindo no crimeâ€. Com informações da Agência Câmara.
Revista Consultor JurÃdico, 10 de abril de 2013