(Mais fotos também no Universo Ecofeminino)
A marcha de São Carlos deu um show |
Não é mais aquele “desocupadxs atrapalham o trânsito”. Por exemplo, o Diário Catarinense deu um subtÃtulo positivo pra noticiar a Marcha de Floripa, que reuniu cerca de 500 pessoas: “O protesto contou com o apoio das pessoas que passavam no Centro de Florianópolis”.
Marcha toma conta de Floripa |
Montão de gente na marcha de BH |
(G1:) “A designer Fabiana Caruso parabenizou o movimento, que, para ela, deveria acontecer com maior frequência. ‘É importante trazer o assunto para a rua. É um absurdo alguém achar que a mulher provoca o estupro’, disse. Ela ainda destaca outras questões. ‘O aborto também precisa ser discutido, como está acontecendo’, completou.”
Não apareceu quase ninguém pra marcha de SP |
Claro que é preferÃvel não ler os comentários dos leitores desses jornais, mas essa dinâmica de “leitores inacreditavelmente reaças que a gente nem conhece na vida real, graças aos céus” é constante em todas as notÃcias dos grandes portais sobre qualquer assunto.
Aliás, li num blog reaça (não vou dar link) um texto contra as marchas. Começa dizendo “Definição de vadia: toda aquela mulher que não faz um mÃnimo de esforço para cuidar do marido e dos filhos, toda aquela que despreza o estudo e a educação.” E continua: “Representante do sexo feminino que no seu ativismo perdeu a noção do carinho com os filhos e do companheirismo com o marido”.
É quase divertido ler essas barbaridades, porque qualquer pessoa que já pisou em qualquer Marcha das Vadias se encanta com a presença de crianças. Elas vêm nas costas de mamães e papais, elas se pintam, elas adoram. Alguma dúvida de que esses meninos da marcha de São Carlos não crescerão machistas?
É como me falou a Quézia (acho; sou péssima pra nomes), uma das vadias maravilhosas que conheci em Recife ontem.
Separada, trabalhadora, mãe de uma menina, ela contou: “A gente educa com amor, com igualdade, sem puritanismo, sem violência. Não é minha culpa se depois com 17 anos ela entrar numa Igreja Universal e se desviar completamente do caminho”.
Bruna e outras magnÃficas arrasando em Recife |
Em Floripa |
Márcia, de SP: “Foi minha primeira marcha. Eu adorei, achei as pessoas receptivas, saÃam nas janelas pra acenar pra gente, teve quem colou cartaz de apoio na sacada do apartamento com dizer: ‘a buceta é dela, pô’, e  teve até corinthiano sacudindo a bandeira na janela pra gente; nessa cultura de futebol machista,  achei um grande apoio. As mulheres estavam incrÃveis, com muita atitude e personalidade, os cartazes muito criativos. Acredito que conseguimos mostrar a seriedade da marcha, que não se tratava de uma  brincadeira, que aquele movimento tinha um conteúdo muito sério e forte.”
Em Recife |
Segue a Márcia: “Curti pra caramba a presença masculina. Eles estavam arrasando desfilando com suas saias, umas ousadas, outras discretas, mas com muita atitude. Ano que vem voltaremos ás ruas, com certeza!”
Manifestante da marcha de Porto Alegre |
Carla, 18 anos: “Eu fui na marcha das vadias aqui de São Paulo e voltei leve, me sentindo realizada, feliz. É impressionante a força que nós mulheres temos quando estamos juntas. A impressão que eu tive, Lola, é que durante um dia no ano, eu posso tirar a blusa no meio de uma praça pública sem sofrer nenhuma represália, coisa que os homens fazem casualmente o tempo inteiro.”
Belo Horizonte, 25/5/13 |
Carla: “Durante um dia no ano, eu posso andar tranquilamente na rua, sem medo de assédio ou estupro, porque eu estou na companhia de milhares de outras mulheres, que apesar de muitas serem desconhecidas pra mim, são ao mesmo tempo minhas companheiras de luta, que me defenderiam em caso de violência, assim como eu as defenderia. Durante um dia no ano eu posso expressar toda a minha revolta contra o assédio de rua que me persegue desde os 13 anos, contra a imagem hiper sexualizada e submissa da mulher na mÃdia, contra a repressão ao meu corpo e à minha sexualidade. Resumindo, durante um dia no ano eu fui LIVRE.”
Carla: “Por fim, queria dizer que senti na marcha um movimento feminista pulsando, mais vivo do que nunca, mais forte do que nunca e muito atual. Fico muito feliz de poder fazer parte disso. Espero que daqui a 30 anos as mulheres tenham mais direitos do que nós temos hoje e que eu possa olhar pra trás e saber que isso foi fruto do nosso esforço! Assim como as feministas da segunda onda fazem hoje!”
Que diferença com o discurso de algumas das primeiras marchas, em 2011! Naqueles tempos, várias organizadoras das marchas, inclusive das primeiras, de Toronto, não quiseram se assumir feministas. Ficou um vibe absurdo de “Me chame de vadia, não me chame de feminista!”. Como se a palavra feminista precisasse de ressignificação! 30% das mulheres no Brasil se assumem feministas, amigas!
Como que um movimento só com pautas feministas podia não se assumir feminista? Certamente isso mudou, e já desde asegunda marcha, no ano passado. As feministas tomaram as marchas das vadias. Quem quiser marchar de lingerie e dizer “não sou feminista, sou feminina”, bom, sei lá, tem gosto pra tudo. Boa sorte pra conseguir juntar mil pessoas dispostas a lutar pela sua “causa”.
Este ano, tive a honra de participar da Marcha das Vadias de Recife. Fui convidada pra ir lá debater na sexta, e foi muito, muito bacana. Adorei todo mundo. Auditório lotado, e a galera querendo participar, ficando lá até praticamente sermos expulsas porque já tinha dado o horário.
Manifestante em BH: mulher e negra |
Fiquei fascinada em ver como essa meninada é inteligente e espirituosa. Senti falta de não levar um caderninho pra anotar todas as pérolas que elas falam. São super divertidas e seguras de si. Pô, gente, vcs têm que comentar por aqui! É chato citar nomes porque vou esquecer dezenas, mas estou pensando em vcs, Ju Dolores, Marcela, Cecilia, Larissa, Wedja, Patricia, Paula, Titi, e a já citada Quézia.
Uma das minhas principais guias foi a queridÃssima Bruna, professora universitária de História. Foi com ela que tratei pra ir a Recife. E ela me tratou exemplarmente, me mimou, sabem?
Manifestantes de BH confeccionam cartazes |
Ela me explicou que todos os protestos em Recife param neste ponto, em frente a um cinema, porque conseguem parar uns três cruzamentos. Paramos aqui, deixamos os cartazes por um tempo, nos sentamos. Muito bonito (e devo dizer que a polÃcia foi ótima, nos deu respaldo, destacou motos e cavalos pra nos acompanhar).
E que os protestos costumam terminar na Praça da Independência, porque era lá que, em outros tempos, eram leiloados os escravos.
Bruna (abaixo) fez muito sucesso com sua roupa.
Porque é aquele negócio: ser estuprada não tem nada a ver com sua aparência, não tem a ver com sua roupa, e tem muito menos a ver com sexo que com dominação e poder. Uma mulher nua não é estuprada numa praia de nudismo, certo? Tem muita Ãndia que anda nua e nem por isso é estuprada pelos Ãndios da aldeia. E o oposto: mulher que veste burka também é estuprada. Por isso, risque a pergunta “O que ela estava vestindo?” do seu repertório.
Outra roupa que chamou muita atenção foi esta de uma burka transparente. Amei!
Eu fui chamada pra falar um tiquinho antes da marcha sair. Deve ter sido a primeira vez que eu falei com alto-falante, uma sensação esquisita. Como o tempo estava nublado e quase todo mundo achava que ia chover (e continuarÃamos marchando mesmo se chovesse, mas a água arruinaria os cartazes e os belos corpos pintados), eu disse que, se não chovesse, seria a prova de que deus é uma grande vadia. E que, se chovesse, provaria que deus não existe. Observação: não choveu. Nadinha. A Grande Vadia nos adora.
Marcha de Fortaleza na sexta |
Desta vez não errei nem um grito de guerra. Teve uma ou outra manifestante que gritou “Seu Batista” olhando pra mim, porque eu tinha contado o meu vexame na palestra de sexta. Os gritos que eu não conhecia foram esses:
Manifestante na marcha de Porto Alegre faz pergunta relevante |
“Até o papa / renunciou / Feliciano, sua hora já chegou!”
“A nossa luta / é todo dia / contra o machismo, racismo e homofobia”
“Se é violência / contra a mulher / a gente mete a colher”
Manifestantes na marcha de SP |
Adorei também inúmeros cartazes, entre eles um que dizia (e que vi em fotos de outras marchas) “Quer peito e coxa? Compre um frango”. Talvez os veganxs não gostem, não sei.
Vadias de BH posam com cartazes |
Bela demonstração teatral na marcha de São Carlos |
Mas eu me senti muito amada. Um montão de meninas veio dizer que é feminista graças ao meu bloguinho, que só estava lá na marcha por minha causa, e isso me deixava emocionada. Uma me deu um chocolate (infelizmente perdido, porque eu estava sem bolsa). Além do mais, ouvir uns rapazes lindões dizerem “Eu te amo, Lolinha” também não me deixou muito cabisbaixa.
Homens de saia na marcha em Porto Alegre, neste domingo |
Ingrid: “Primeiramente gostaria de dizer que foi um imenso prazer te conhecer e assistir sua palestra, vc é uma simpatia de pessoa. 😀 Sobre a macha, foi a minha primeira vez e eu simplesmente amei.”
Fortaleza |
(Ingrid:) É sempre muito bom poder encontrar pessoas que pensam da mesma forma que vc e, ainda que não tenham o mesmo pensamento, respeitam e lutam por um mundo mais justo. Eu abri os olhos pra causa feminista há pouco tempo e seu blog me ajudou muito a não ter essa posição conformista perante a sociedade. Participar da marcha e do debate foi como a abertura de uma porta pra um lugar que eu apenas ignorava. Muito obrigada e venha mais vezes ao Recife.”
Lindo homem feminista em Recife |
Meninas de Recife em bela foto da Nathalia Verony |
Thisbe: “Sou estudante de Serviço Social, e temas como direitos da mulher, direitos reprodutivos e relações de gênero têm me interessado muito. Eu nunca tinha participado de nenhum tipo de protesto, e participar da marcha me instigou realmente a entrar nessa luta diária contra o machismo e qualquer outra forma de opressão sofrida pelas mulheres, que em algumas vezes aparece, pelo menos pra mim, de forma sutil, disfarçada em algum tipo de piadinha sem graça.”
Concentração na praça em Recife |
(Thisbe:) Tanto a marcha quanto os debates, as palestras a respeito desse tema, abrem meus olhos cada vez mais para perceber e evitar coisas desse tipo. Comecei a ler seu blog recentemente, por recomendação de uma amiga e sinceramente, ameei! Principalmente quando você fala sobre os mascus (adorei o apelido). Espero que nas próximas marchas você esteja por aqui”.
Epa! O que o pirata Jack Sparrow tava fazendo na marcha de Recife? |
E por falar em mascus, alguns deles disseram — controle-se pra não rir muito alto — que as marchas provaram que o feminismo está em franco declÃnio (porque não teve 15 milhões de pessoas, que é a população de SP), e que se eles, mascus, fizessem uma marcha, aà sim a gente veria o que é mobilização. Ahauahauahauahaua.
Marcha em SP prova o declÃnio do feminismo, juram mascus |
A marcha dos intrépidos avatares de super-heróis com óculos rayban aviator e pochete!
(aliás, algumas leitoras já me prometeram uma ilustração de como seria essa marcha, e até agora, nada). De vez em quando eles fazem “encontros de guerreiros de um real” em barzinhos. Teve um que bombou: reuniucinco guerreiros! Quase deu pra lotar uma mesa! Marchem, mascus, marchem!
Os mentecaptos tentaram nos ameaçar durante semanas a fio.
3a Marcha das Vadias em Fortaleza. Foi na sexta! |
Mas, felizmente, não aconteceu nada de ruim. Pelo contrário: a recepção do público foi espetacular. Muitas manifestações positivas vindas de pessoas nos ônibus, nas calçadas, nas janelas dos prédios. A gente olhava, sorria, e cantava: “Vem / vem / vem pra luta vem / contra o machismo / vem!”.
Julia Basso VianaDo G1 São Paulo
Com o tema “Quebre o silêncio”, a terceira edição da Marcha das Vadias em São Paulo percorreu neste sábado (25) a Avenida Paulista e a Rua Augusta em direção à Praça Roosevelt. O grupo se concentrou na Praça do Ciclista, onde foram preparados cartazes, stencil e pinturas corporais.
Por volta das 15h20, o protesto chegou à Praça Roosevelt. No local, parte do grupo se reuniu em uma roda para dar testemunhos de agressões sofridas por mulheres. Em outro ponto da praça, mulheres fizeram batucada com instrumentos improvisados.
De acordo com a PolÃcia Militar, a manifestação chegou a reunir 1,5 mil pessoas. Durante a passeata, o grupo gritou palavras de ordem contra machismo, homofobia e pelos direitos humanos. O grupo aproveitou para afirmar que é contra o pastor e deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. “Sou mulher, sou gay, sou preta. Feliciano não me representa.”
A mobilização atraiu a atenção de curiosos e despertou simpatia em quem passava pela região da Avenida Paulista. A designer Fabiana Caruso parabenizou o movimento, que, para ela, deveria acontecer com maior frequência. “É importante trazer o assunto para a rua. É um absurdo alguém achar que a mulher provoca o estupro”, disse. Ela ainda destaca outras questões. “O aborto também precisa ser discutido, como está acontecendo”, completou.
A manifestante Júlia, que não quis da sobrenome e não se deixou ser fotografada, estava com o seu filho participando da manifestação. Ela vestia apenas o lenço que usava para carregar o bebê. “Eu acho importante lutar por liberdade. Trazer meu filho desde pequeno é importante para ele entender desde já a questão da autonomia das mulheres”, disse.
Violência contra a mulher em SP
O estupro é um crime que vem crescendo nos últimos meses em São Paulo. De acordo com dados sobre os Ãndices de criminalidade divulgados pela Secretaria de Segurança Pública, no mês de março foram registrados 311 casos na capital paulista. O número é 8,36% superior aos casos registrados no mês anterior, em fevereiro, que teve 287 ocorrências.
A SSP também aponta aumento de casos de estupro registrados no estado de São Paulo. Em março deste ano foram 1.161 casos contra 1.057 em fevereiro, uma alta de 9,84%.
Origem do protesto
O protesto contrário ao machismo que teve origem no Canadá e se espalhou pelo mundo. Conhecido como ‘SlutWalk’, ele é realizado neste sábado em diversas cidades do Brasil. O movimento ‘SlutWalk’ começou em Toronto, no Canadá, quando alunos de uma universidade resolveram protestar depois que um policial sugeriu que as estudantes do sexo feminino deveriam evitar se vestir como “vagabundas†para não serem vÃtimas de abuso sexual ou estupro.
A primeira marcha reuniu cerca de 3 mil participantes vestidas de forma provocativa ou comportada para chamar a atenção para a cultura de responsabilizar as vÃtimas de estupro. Foi o estopim para que outros eventos semelhantes se espalhassem por várias cidades dos Estados Unidos e Europa.
Grupo desceu a Rua Augusta para encerrar Marcha das Vadias na Praça Roosvelt (Foto: Julia Basso Viana/G1)