Nos primeiros cinco meses deste ano, 17 pessoas sumiram por dia no Estado; governo ainda procura explicação
Hoje faz um mês que o auxiliar de pedreiro Amarildo de Souza desapareceu após ser levado por policiais
MARCO ANTÔNIO MARTINSDIANA BRITODO RIO
Pouco depois das 18h30 de 14 de julho, após voltar de uma pescaria, o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43, foi colocado no carro da UPP (Unidade de PolÃcia Pacificadora) e levado para a sede da unidade no alto do morro da Rocinha. Nunca mais foi visto.
Hoje, um mês depois, a famÃlia ainda não sabe o que aconteceu com ele.
O caso não é isolado. Na contramão da redução dos Ãndices de homicÃdios dolosos (intencionais) ou autos de resistência (confronto com policiais), os números de desaparecimento crescem no Rio.
Nos primeiros cinco meses deste ano, 2.655 pessoas desapareceram em todo o Estado: 17 a cada dia. O governo ainda procura uma explicação para o aumento.
Em uma década (2003-2013), o Ãndice cresceu 29%. No mesmo perÃodo, homicÃdios caÃram cerca de 50% e os autos de resistência, 68%.
“Estamos buscamos informações para saber o que acontece. Precisamos detalhar e entender as causas”, afirma o coronel Paulo Teixeira, diretor do ISP (Instituto de Segurança Pública), órgão responsável pelas estatÃsticas da Secretaria de Segurança.
“Fica claro que, com o aumento de desaparecidos e a queda de homicÃdios e autos de resistência, muitas mortes foram ocultadas”, diz o sociólogo Fábio Araújo.
Em sua tese de doutorado, Araújo mostra que a Baixada Fluminense e as zonas norte e oeste têm o maior número de desaparecidos no Estado.
Segundo ele, isso acontece na zona oeste por causa de milÃcias; na Baixada Fluminense, pelos grupos de extermÃnio formados principalmente por policiais militares corrompidos; e na zona norte do Rio, pelos traficantes.
MANIFESTAÇÃO
Ontem, nas escadarias da Assembleia Legislativa, um grupo teatral ligado à ONG Rio de Paz protagonizou um ato para lembrar os desaparecidos no Estado.
A manifestação foi realizada antes de uma audiência pública sobre casos de desaparecidos no Rio, criada pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania.
“Só quero saber onde está meu marido. Ele sumiu, evaporou e ninguém sabe nada”, disse Elisabete Gomes da Silva, 48, mulher de Amarildo.